Epílogo e Kintsugi

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Han e Nasia realmente viram as flores desabrocharem juntos na primavera, mas compartilharam aquele momento com muitas pessoas

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Han e Nasia realmente viram as flores desabrocharem juntos na primavera, mas compartilharam aquele momento com muitas pessoas.

Em uma tarde ensolarada de abril, em 1916, cerca de 40 pessoas se reuniram no penhasco para celebrar a união de Hansuke e Anastasia Hirai.

No meio das flores que cresciam por todos os lados, as cadeiras de madeira se enfileiravam voltadas para um arco retangular envolto por flores e longos panos brancos que voavam com o vento na direção da cerejeira a alguns metros. O "corredor" era a grama verde de onde as flores da decoração haviam sido arrancadas, que agora estavam presas às cadeiras e ao arco.

Quando um carro preto estacionou na estrada de terra, todos se ergueram para ver o pastor Anthony saindo do veículo e abrindo a porta para Nasia descer.

Do altar, Han a viu usando um vestido branco bem pouco aberto, quase reto, com tecido leve que voava com a brisa do penhasco. O tecido branco cobria apenas seu busto, sem alças, e as mangas de tule rendado com flores pequenas e delicadas eram de ombro a ombro, descendo até seus punhos.

Seus cabelos castanhos estavam soltos e ela não usava véu: apenas uma delicada coroa de flores brancas e pequenas, com algumas folhinhas e detalhes em verde. O buquê em suas mãos era de flor de cerejeiras, num tom rosa tão claro que algumas eram quase brancas.

Nasia cruzou o corredor de grama segurando o braço do pastor Anthony e, ao encontrar Hansuke, segurou com sua mão direita o antebraço dele, já dobrado para receber sua mão. Ele, que usava colete, terno, calça e sapatos azul escuro sobre uma camisa e gravata brancas, seguiu o pastor Anthony até o arco. Ali, o pastor se posicionou para celebrar a cerimônia.

Sob o sol de abril, prometeram amor para sempre.

Enquanto aquelas promessas eram feitas, havia uma cadeira vazia quase à frente do casal, logo na primeira fileira. Uma plaquinha branca pendurada no encosto dizia "Deus". Em certo momento, Nasia desviou os olhos transbordando alegria para aquela cadeira. Quase podia vê-lo ali, sentado, com aquele sorriso orgulhoso e aqueles olhos cheios de lágrimas. Ele estava tão, tão feliz por eles. Os olhos de Nasia se encheram de lágrimas e ela moveu os lábios em um mudo "obrigada".

Ele, emocionado, balançou a cabeça para cima e para baixo levemente, em júbilo pela felicidade de seus filhos, pelo final feliz que Ele escrevera.

Anastasia Livingstone fora uma pessoa quebrada pelos enganos do próprio coração, apesar de ter nascido num lar cristão. Hansuke Hirai fora uma pessoa quebrada pela violência e abusos, consequência do pecado na terra. Narumi fora uma pessoa quebrada pela falta de perspectiva num Deus Pai e Salvador.

Todos foram quebrados, bem como nós. Mas todos foram amados e, pelo amor, foram restaurados.

Nós também podemos ser restaurados, por pior que tenham nos quebrado (ou nós mesmos tenhamos nos quebrado). Toda má escolha, todo pecado e toda culpa ficou na cruz. Há um final feliz para todos. Ele foi escrito com sangue há dois mil anos.

Somos restaurados pelo sangue puro e carmesim, somos feitos alvos mais que a neve — mas ainda assim temos cicatrizes. Mas não se engane, não: essas cicatrizes não são feias e nem devem ser cobertas. Não foram costuradas com ouro, mas com a graça e a misericórdia do próprio amor, o que é muito mais valioso! Dessas cicatrizes sai poder para curar aqueles que ainda estão sendo feridos da mesma forma que você foi, que ainda choram da mesma forma que você chorou.

Você é uma obra de arte feita pelo mesmo artista que escolheu as cores e formatos das flores: não tenha vergonha de si mesmo. Você é um vaso refeito nas mãos do grande oleiro.

Tem pessoas lá fora esperando a sua voz reverberar dizendo como você foi refeito, querida peça de kintsugi, para que os corações de pedra se quebrem, dando lugar a corações de carne.

"O que vos digo em trevas, dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido, pregai- o sobre os telhados." (Mateus 10:27)

KintsugiWhere stories live. Discover now