— Não é isso! É só que... Você não costuma entrar aqui e... Bom, enfim, posso te dá uma receita.

— Ótimo — Levantei as mangas da blusa — Vamos começar.


LETICIA

Eu oficialmente detesto a escola com todas as minhas forças, não consigo entender como passei tanto tempo respondendo apenas 5 perguntas.

Não sei se aguento até o final do ano.

Alongo minhas pernas e braços e sinto meu corpo inteiro agradecer por isso. Não posso passar tanto tempo sentada na frente de um caderno.

Abro a porta do meu quarto e assim que coloco o primeiro pé no corredor, vejo meu tio saindo de seus aposentos.

Ele me observa e dá um sorriso.

— Por que ainda não está no trabalho?

— Tava fazendo sua torta — Isso me atingiu com muita força.

— Você realmente fez?

— Fiz e espero não me arrepender disso — Ele se aproxima de mim e estende a gravata solta em minha direção — Me ajuda com essa coisa.

— Não sabe colocar uma gravata?

— Sempre tive alguém para fazer isso por mim — Reviro os olhos.

— Pede por favor.

— Sério mesmo? — Ergo uma sombrancelha — Por favor.

— Bom garoto — Começo a ajudar ele.

Faço o único nó que conheço e apenas pelos toques suaves sinto sua pele por baixo da blusa. Seu porte físico parecia tão... É melhor não pensar.

Terminei de amarrar a gravata em poucos segundos.

— Podemos ir? — Perguntei me afastando dele.

— Sim.

Descemos as escadas e passamos pelo longo corredor da casa. Entramos na sala de jantar e meu olhos foram direto para a forma no centro da mesa.

Que droga, a torta parecia maravilhosa.

— Não parece ruim.

— Tá incrível.

Ele começou a cortar um pedaço e colocou em um prato pequeno. Sentei na cadeira diante a mesa e peguei uma colher.

Senti seu olhar sobre mim, isso tá parecendo reality de comida.

Cortei um pedaço e coloquei na boca. Senti o gosto invadindo.

Tá legal, não é possível que ele tenha feito sozinho, isso tá muito bom.

— Então...

— É comestível — Não pretendo amaciar ainda mais seu ego.

— Para, eu sei que você adorou.

— Tá se achando demais, dá para comer, só isso.

— Eu tenho mãos habilidosas, com certeza essa torta tá maravilhosa.

— Exagerado — Terminei de comer a deliciosa torta. Isso tá tão bom.

Senti como se um par de olhos me penetrassem e quando olhei meu tio reparei que ele me observava.

— O que foi?

— Soube que você está de castigo, o que aprontou? — Não quero me lembrar disso.

— Nada, apenas cheguei um pouco tarde em casa e Lucas surtou.

— E qual foi o castigo?

— Proibida de sair por um mês.

— Muito fraco — Dei um sorriso.

— Você iria fazer o que? Me deixar sem comer? — Lembro de suas palavras a alguns dias atrás.

— Ia te deixar sem sentar — Ele murmurou algo inaudível.

— O que?

— Algo parecido com isso — Por algum motivo senti seu olhar ficar malicioso — Bom, agora preciso ir, não desobedeça as ordens.

— Não vou — Eu vou.

— Até mais tarde — Ele colocou o blazer — E tente não comer a torta inteira.

— Vai pro inferno — Sua risada baixa foi nossa única despedida.

Escutei a porta da frente se fechando e senti que era chance que eu precisava. Peguei meu celular e o papel de dentro do meu bolso as pressas.

Disquei os dígitos e esperei até que uma voz preenchesse meu ouvido. Dei um sorriso.

≈ Alô, gostaria de falar com Enzo Jackson.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora