11 Chaotic

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-Como você está se sentindo com relação a isso?

Já fazia 20 minutos que eu estava sentado na poltrona preta, normalmente ela parecia grande demais para apenas uma pessoa, mas hoje não, parece que eu sou grande demais para ela, queria deitar na grama e ter todo o espaço do mundo.

A mulher com a caneta na mão continua me encarando da forma mais paciente possível. Ainda tenho 30 minutos de consulta, tão pouco tempo, mas continuo calado vendo a melhor forma de sintetizar o que estou sentindo.

-Não é como da outra vez. -Decido comunicar isso, por fim.
Mais um momento de silêncio.

Em que sentido?- Em que sentido? - Ela pergunta ao mesmo momento em que eu penso que ela vai fazer essa pergunta.

Como sempre, estávamos todos reunidos na casa do Patrick. A Sam, o Charlie, a Alice, Mary Elisabeth com o namorado, Bob, mas dessa vez tinha o plus dos pais do Patrick também estarem conosco no movimento cadente entre a sala e a cozinha.

Comemos, dançamos, jogamos Twister e banco imobiliário. Adentramos a madrugada, mas ninguém estava se importando de ir embora ou não, não quando as piadas da mãe da Sam eram as mais engraçadas do mundo, não quando conseguiram pela primeira vez me fazerem ficar alterado com aquela porcaria que eles chamam de bebida.

Não quando tudo que eu estou fazendo e quero é estar balançando a cabeça lentamente ao som de Here Comes The Sun enquanto tenho o Patrick ao meu lado gritando a música como se fosse algo extremamente animado.

Ninguém está ligando para nada que não seja esse momento, o agora.

Por isso quando o Patty para de gritar e vira o rosto para mim como se estivesse sugerindo algo eu levo um susto.

-Eu quero conversar com você -Levanto um pouco o queixo como se indicasse que ele pode falar. -Não aqui, sozinhos -Ele pega na minha mão, mas eu continuo parado. - Vamos William! Ninguém está prestando atenção em nós - E ele simplesmente me puxa, levando para o andar superior.

-Aconteceu alguma coisa ?- Me sento na beirada da cama enquanto ele está a minha frente na cadeira da mesinha de estudos.

-Não...acho que não...eu não sei nem como começar a falar o que eu quero -Dou a ele um devido momento para organizar seus pensamentos, tentando apenas regular a minha respiração e deixando ela um pouco mais alta para ele acompanhar ela.

-Você sabe que apesar dos shows que eu fazia, de gostar de fazer fantasias...eu ainda estava intrigado se também me inscrevia para a psicologia...eu fiz. Lembra que ontem eu te disse que não podia acompanhar vocês na lanchonete? eu fui para uma entrevista. E simplesmente foi a coisa mais doida que eu já fiz, porque enquanto aquele professor velho de cara rabugenta ficava analisando até o movimento dos meus cílios, eu percebi que eu não queria isso exatamente. Eu gosto de me comunicar, ajudar as pessoas...

Ele dá uma pausa para respirar.

-Eu posso fazer a mesma coisa com a arte, posso transmitir minha mensagem por meio dos meus gestos no palco, e olha - Ele vira para a mesinha e abre a primeira gaveta, vislumbro apenas a capa vermelha antes dele abrir uma página marcada com uma fitinha da mesma cor. -Eu comecei a compor uma música, eu não faço a mínima ideia de uma melodia, só sei que quero algo que dê para gritar aos quatro cantos do mundo...mas eu fiz a letra.

Pego o caderninho com delicadeza. - Isso é...isso é muito bom Patty! Na verdade, é incrível! Eu consigo te imaginar dançando isso em um musical.

-Mesmo? você não está dizendo isso apenas para me deixar feliz, né?-Antes mesmo que eu consigo abrir a boca para responder algo - Ora, você não mentiria para mim, realmente está incrível, né? - ele abre um sorriso enorme mostrando todo o orgulho que estava sentindo, acho que isso nunca poderia ser considerado presunçoso, depois de tudo que ele passou, sorrir por uma conquista dele é mais que merecido, e eu o acompanho rindo alto e o abraçando.

Somos TulipasWhere stories live. Discover now