07 Someone come and save me, please

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Cor de caneta utilizada: laranja da cor do pôr do sol. Again.

Querido Charlie,

Ao longo dos últimos dias minha vida tem sido uma oscilação, mas isso não significa que estou feliz, só que a dor está mais intensa em alguns dias que em outros.

Conhecer novas pessoas tem sido algo incrível de se fazer, e olhe que não falo somente sobre Hannah, ela é uma pessoa maravilhosa, acho que até entende coisas que ainda não sou capaz...

Mas falo também sobre ele... E escrevendo essa carta me assusto ao perceber que um leve sorriso bobo contorna meus lábios porque essa cor definitivamente me lembra tudo nele, sua personalidade, seu jeito despreocupado, e até a forma que ele cuida de todos, tudo se junta em somente uma cor.

Não ouse me julgar, porque já estou fazendo isso internamente, mas a verdade é que ele é marcante demais para não ser lembrado. Será que aquele pateta sabe disso?

Mas enfim, vou indo, o telefone continua tocando insistentemente e são por volta de três da manhã.

Será que as pessoas esquecem que sou humano e que durmo também? Vou indo,

Com amor,

W. Michel B.

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São oito da manhã e meu humor está particularmente afetado. Odeio tudo e todos. Só queria estar na minha casa, embaixo de algumas cobertas sendo mimado pela Sam, mas tive que vir para esse inferno.

Minhas olheiras estão muito visíveis, não consegui dormir a noite inteira, a madrugada foi um misto de lágrimas e incompreensão.

Por que Brad não se defendeu? Por que aceitou aquela atrocidade? Será que se machucou muito? Será que está doendo muito? Será que o pai dele continuou as agressões? Será que continuaria na escola?

Os pensamentos perpassam velozmente minha mente cansada, então sigo direto para a aula, não perdendo tempo nos armários. Vejo William de relance que parece ter os olhos sobre mim, mas hoje nem tirar a paciência dele me ajudaria.

Durante a aula interminável todos parecem compreender que não quero falar nada, então agradeço internamente por me deixarem no meu canto.

Incontáveis minutos se seguiram com a fala repetitiva do homem em roupas bregas e eu não ouvi nenhuma delas. Por que daria atenção a como fazer um relógio quando o tempo parece tão sem lógica para mim? Estou andando muito com o William, já estou começando a devanear que nem ele, eu heim...

Saio da sala quando o sinal finalmente toca e vejo meu ex namorado de longe, sentado com os amigos de sempre, o pessoal do time. Está vestindo um casaco grande e só o que está à mostra são suas mãos que exibem alguns machucados e o rosto, que apesar de algumas marcas roxas, continua bonito.

Pego meu lanche e caminho em direção a nossa mesa de sempre, não quero ter que olhar mais para ele porque é demais para mim.

Enquanto atravesso a cantina, sigo com os olhos fixos em Willie, que tem uma expressão preocupada no rosto, e isso me impede de ver que um dos babacas colocou a perna no caminho, me fazendo cair ali mesmo.

Ouço as risadas e não me controlo, não aguento mais esses caras achando que podem fazer qualquer coisa com os outros alunos.

Levanto o olhar e a coisa que mais me machuca é ver que Brad também está rindo.

— O que foi, Nada? — o loiro que me fez cair pergunta, com uma risada nojenta.

— Você não vai pedir para eles pararem, Brad? — Não me contive, ele era o líder daqueles abutres e poderia muito bem fazê-los parar sem se envolver com a história, mas não foi o que ele fez.

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