05.

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LOUIS.

     Quarta-Feira. Culto às 19hrs. É, minha vida é só trabalhar e ir à igreja. Eu estava cursando medicina, mas para me formar em uma área específica tinha que fazer técnico em enfermagem, e então eu estudava as terças e quintas de noite, trabalha segunda, quarta, sexta e domingo e tinha o sábado livre.

    Retirei o jaleco, por mais que meu turno ainda não tivesse acabado, eu estava morto. Um dos enfermeiros não puderam vir, então eu tive que sair da faculdade às 20hrs e vir direto para o hospital. Eu estava completamente acabado, e quando sair daqui ainda tinha que ir pra igreja. Quarenta minutos para o meu turno acabar. Por favor, que eu não tenha mais nenhuma criança pra atender hoje. Eu odiava furar as criancinhas, doía meu coração, ainda mais quando os país não seguravam elas direito, e eu acabava errando a veia. Péssimo. Fiz uma careta ao pensar naquilo e soltei um suspiro.

   — Doutor? — Uma voz me chamou. Eu não era doutor, não ainda. Mas os pacientes não tinham a obrigação de saber disso, então me virei para a pessoa que estava me chamando. Era uma mulher loira, de olhos azuis. — Um paciente está precisando de você, na sala vinte, no setor quatro, terceiro andar.

    Ela falava como se fosse um zumbi, e depois saiu andando. Sem me dar mais informações. Fiquei confuso. E então coloquei o jaleco, corri até o local que ela tinha falado e empurrei a porta com força, dando de cara com o Harry. O garoto dos olhos verdes. Ele estava sangrando, seu braço estava todo cortado e cheio de pedaços de vidro.

    — Meu Deus! O que aconteceu... — Fechei a porta, e ele me encarou, com um sorriso. Por que o maldito está sorrindo? Ele está com pedaços de vidro enfiado em seu braço, está sangrando pra caralho e manchando todo o chão. Corri até a mesa da sala, procurei uma agulha, uma injeção, eu tinha que aplicar morfina nele, para poder tirar tudo aquilo, mas minhas mãos estavam tremendo, tremendo pra caralho. E isso nunca tinha acontecido antes.

    20ml de morfina. Quando ia segurar o braço dele, ele o afastou de mim, e negou com a cabeça.

    — Pode fazer sem anestesia. — Esse cara é loucou. Ok. Peguei uma agulha, a linha, precisaria dar pontos, esparadrapo, e uma pinça. E comecei a tirar os cacos de vidro, e em seguida ir fechando os ferimentos, com muito cuidado, porque eu não queria que ele percebesse que minha mão estava tremendo, e nem queria que ele sentisse dor. Mas na verdade, eu deveria querer, quem não quis a anestesia foi ele.

    — Tudo bem, já deu. — Ele disse antes que eu fechasse por completo o último ferimento. E cobriu o braço com a blusa de manga longa que estava usando. Fiz uma careta.

   — Não vou te dar alta agora. — Revelei. Por mais que eu não pudesse dar alta pra ninguém. Isso tudo estava tão errado, ele deveria ter feito isso com um doutor, ver se não estava infectado, eu ainda tinha a cinco anos de faculdade, não estava preparado para aquilo. — Você precisa ver um médico.

    Ele se levantou, foi até a pia e lavou as mãos, prestei atenção em seus ombros largos, e em suas costas, e como ele era percetívelmente mais alto do que eu, seu cabelo caia em seus ombros e sempre estava de lado, e ele vivia colocando para trás quando caía em seu rosto, eu poderia fazer isso facilmente também.

    — Você fica uma gracinha de jaleco.— Foi a única coisa que ele falou, e então se virou, em dois segundos estava perto de mim novamente. — Eu não preciso de um médico, foi ótimo como cuidou disso. Vai ser um ótimo médico no futuro, Louis.

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