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LOUIS.

 

   Nunca subestimar os seus pais, anotem isso. Mesmo quando forem maiores de idade. Nunca subestimem eles. De alguma forma, sempre estarão certos. E eu aprendi isso na marra.

   Terminei de abotoar os botões da camisa social, ajeitei a gola, pois odiava quando minha mãe fazia isso. E me encarei no espelho. Minha aparência nunca foi tão boa, na minha adolescência eu era a aberração da turma, mas tudo bem, aquilo tinha passado, nos meados dos meus vinte e um anos, eu estava com uma aparência boa. Não estava?

   Bom, não importava. Eu tinha que ir a igreja de qualquer jeito. Não que eu não gostasse de estar na igreja. Mas era sempre cheia de doutrinas para seguir, e sempre esperavam que os jovens namorassem outros jovens da igreja. Na minha igreja não tem ninguém interessante. nenhuma garota interessante. E mesmo se tivesse, por que ela se interessaria justo em mim? Mesmo tendo Matthew, Davis e Daniel lá? Impossível.

   A campainha tocou, e eu já sabia quem era. Meu melhor amigo, Liam. Não podíamos nos atrasar hoje, pois Liam ia cantar. Liam era mais novo que eu, apenas por dois anos. Mas viramos amigos quando tínhamos 14 e 12 anos, e desde então não nos desgrudamos. Eu acho que não conseguiria mais viver ser o Liam. Ele sabia de tudo da minha vida. Ok, talvez nem tudo. Mas sabia de coisas que ninguém mais sabia.

   Desci as escadas e abri a porta para ele, ele estava nervoso e particularmente, eu também estava nervoso por ele. Era um grande dia pois fazia bastante tempo que ele queria entrar para o grupo de louvor.

    — Feliz sábado! — Ele anunciou enquanto entrava, ainda tínhamos dez minutos antes de sair. O feliz sábado, bom, era um dia sagrado, e por isso o "feliz sábado!" Bom, isso que dizia Deus; "Não farás nesse dia nenhum serviço, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que estiverem morando em tuas cidades... Foi por esse motivo que Eu, o SENHOR, abençoei o sábado, e o separei para ser um dia santo."

   E nossa igreja seguia isso. O sábado começava as 17:30 de sexta, e acabava as 17:30 de sábado. Costumamos ficar na igreja. Minha mãe saiu, ela foi para igreja mais cedo pois tinha os preparativos para o almoço, que ia ser na igreja. Às vezes aquela vida era cansativa, mas era a minha vida. A vida que Deus tinha escolhido. Eu apenas ainda não tinha descoberto o meu propósito. Ancião? Pastor? Pregador? Instrutor?

    — Feliz sábado, Liam. — sorri de forma fraca após abraçar o Liam, ele carregava sua bíblia azul, diferente da minha que era preta. Peguei ela e nós saímos, porque queríamos passar na casa da irmã Heyna, ela estava doente mas mesmo assim insistiu em fazer algo para o almoço na igreja, que ela nem vai participar.

   Estavamos chegando na casa da irmã Heyna, só faltava uma rua para atravessar e estávamos quase alcançando a esquina, até que um rapaz esbarrou em mim. Derrubei a bíblia, a lição da escola sabatina, meu celular e a pasta da minha mãe.

    — Porra. — Ele xingou, colocando o cabelo para trás. Pisquei de forma cautelosa. O sábado não era sagrado para todos. E com certeza não era para aquele rapaz. Estava cheio de tatuagens, a camisa preta que usava por baixo da jaqueta, estava com os botões abertos e mostravam as suas tatuagens. Não dava para saber se ele tinha alguma no pescoço, porque usava uma bandana azul o enrolando.

    — Desculpe.. E-eu não vi você. — Comecei a juntar as minhas coisas de forma totalmente desajeitada, porque aqueles olhos verdes que estavam vidrados em mim, me deixaram totalmente desorientado.

    — Eu que peço desculpas, eu não o vi. Não os vi. — Agora ele encarou o Liam, mas apenas por milésimos de segundos. E depois voltou os seus olhos para mim, por que o cara não estava conseguindo tirar os olhos de mim.

   — É, precisamos ir. Estamos atrasados e você também deve estar, com essa pressa toda. — Ele sorriu, como se eu não soubesse de nada da vida, e eu não sabia mesmo porque fiquei intimidado com aquilo.

   — Até mais. — Ele falou com a certeza de que nos veríamos novamente, e eu acho que não nos veríamos novamente. Eu esperava que não.

   Eu e Liam continuamos a andar, sem olhar para trás, continuei meu caminho, porque aquele era o meu destino e nada mudaria aquilo. Muito menos um completo desconhecido.

    — Aquele cara era esquisito, não era? — Perguntei para o Liam, e depois ele apertou a campainha da casa da irmã Heyna.

   — Sim, bem esquisito cara. — Liam fez uma expressão esquisita, que eu desisti de ler depois de cinco segundos. — Aqueles olhos dele eram esquisitos. Quem tem os olhos daquela cor? Pareciam... vermelhos?

   — Vermelhos? — Perguntei confuso. Eu estava me tornando daltônico? Liam estava se tornando daltônico? porque eu tenho certeza absoluta de que os olhos dele eram verdes. Um verde vibrante.

   — Sim cara... ele quase te engoliu com os olhos, você não per... — A porta aberta interrompeu a sua fala. Eu estava percebendo demais os olhos dele sobre mim que não percebi que os olhos dele eram de outra cor? Eu não podia deixar um cara qualquer estragar meu sábado. Então peguei a travessa da irmã Heyna.

   — Obrigado irmã, está com um cheirinho delicioso. — Abri um sorriso para ela, porque realmente estava com um cheiro delicioso. — Tenha um bom sábado.

   — Vocês também, vão com Deus! — Ela deu um aceno para mim e para Liam e depois fechou a porta. Eu e Liam voltamos a seguir nosso caminho até a igreja, e então quando chegamos ele entrou e eu fui até a parte detrás, deixar a comida com a minha mãe ou qualquer outra pessoa que tivesse na cozinha da igreja.

    — Bom dia pastor. Feliz sábado. — Falei quando passei no corredor e o pastor estava falando com Katy, sua filha mais velha. Resolvi não atrapalhar já que o pastor mal respondeu o meu feliz sábado. Passei até o final do corredor, onde ficava um espaço para os banheiros, as salas da escola sabatina que eram dividas em bebês, infantil, juvenil, jovens e na igreja ficava os adultos. Mas passei diretamente para a cozinha.

    — Feliz sábado, Lou! — Richard, o irmão que sempre fazia a maioria das comidas da igreja nos almoços. Ele era legal. Às pessoas na igreja no geral eram legais. Isso quando você encontrava seu grupo. Meu grupo é o Liam, e quando ele tem que ficar com o grupo de louvor, meu grupo são os irmãos mais velhos.

    — Feliz sábado, Rich. Irmã Heyna mandou essa salada de feijão, só passei aqui para deixar. — Ele assentiu e pegou a travessa de vidro da minha mão, agradeceu e eu me despedi dizendo que já entraria para igreja. Cheguei só depois da escola sabatina, o que significava que eu não teria que fazer a lição ou ficar com pessoas que não gostavam de mim. E então caminhei pela igreja, com reverência e me sentei em um dos primeiros bancos, porque Liam ia abrir o culto com uma música.

   E ele apareceu, todo de terninho e uma gravata que ficava no mínimo ridícula nele. Mas eu estava orgulhoso. orgulhoso demais do meu melhor amigo e se na igreja não fosse proibido bater palmas, eu estaria aplaudindo quando ele começou a cantar.

      — Jesus Christ you're the, bridegroom, the sower, my father, my shepherd. Great Price, Great Value Pearl, Christ you're everything — queria me concentrar em Liam cantando, mas a única coisa que estava em minha mente era olhos verdes. Ou vermelhos. Eu podia sentir a presença dele, mesmo que ele não estivesse ali. Isso era esquisito, ele era muito muito esquisito. E eu era ainda mais esquisito.

    Essa fanfic é dedicada à você, pessoa que um dia ficou presa numa comunidade cristã, escondendo quem realmente é. Ou até para a pessoa que ainda está presa. Sempre terá alguém para lhe salvar e lhe tirar desse círculo infinito, mesmo que ele não seja um anjo caído charmoso. Enfrente seus medos. Enganar os outros é fácil, e não tem consequências, mas enganar a si mesmo tem. Sejam livres.

  


   

in the hands of a fallen angel! Where stories live. Discover now