✵ Você não entenderia

Mulai dari awal
                                    

- o horário de visita acabou - alguém fala aparecendo na porta, eu reconhecia aquela voz e quando a Ivana saiu da minha frente pude perceber que era a Raquel que naquele momento não olhava no meu rosto

- mas ela é menor de idade - Ivana fala apontando para mim e a Raquel apenas aponta para a porta, mostrando que era pra mesma sair e logo em seguida a Ivana sai e a Raquel fica parada ali mesmo olhando para o chão

- Raquel... - falo chamando a seu nome baixinho e olhando para o meu pulso que também estava enfaixado

- eu não aguento mais ter ver assim - ela fala finalmente olhando para mim e fechando a porta

- você não entenderia... - falo ao ver que ela estava se aproximando de mim

- eu já entendi que sua vida é uma merda, que seu tio e aquela mulher são uns chatos que você não aguenta, que o seu suposto amor não esteja no seu mundo mas sabe o que é mais difícil? - ela fala mexendo as mãos - que eu estou aqui por você pra tentar te entender e você não faz questão de dizer um "A" - ela fala de forma indignada

Eu não sabia o que dizer, o que ela estava dizendo era apenas verdade pois a única pessoa no qual eu confiava era em mim mesmo, e ver ela daquela forma me machucava pois eu não saberia se poderia contar a minha vida toda

- como eu posso te ajudar se você não faz questão de me dizer o que esta acontecendo? Te ajudei na sua casa quando você estava precisando e depois de dois dias você me aparece pior do que estava sendo carregada por um cara - ela fala quase chorando

Eu sentia a dor dela...

- c-carregada? - pergunto para ela já sabendo de quem se tratava, mas não sabia que era ele que havia me trazido até aqui

- me conta o que está acontecendo s/n, me conta do porquê você quer tanto se matar? - ela fala colocando a suas mãos em cima das minhas e naquele momento eu já estava chorando

Todas as lembranças se passavam pela minha cabeça, minhas memórias com os meus pais, depois as inseguranças e pressões psicológicas

- quando meus pais ainda eram vivos eu era uma garota diferente, eu diria que naquela época eu era uma garota ingênua que acreditava em finais felizes e contos de fadas - falo retirando suas mãos de cima das minhas - lembro todos os dias quando eu acordava feliz da vida para poder abraçar eles, ter um dia de família... - falo olhando para ela e logo abaixo a cabeça, ela me escutava atentamente

- até que um dia nos saímos de carro e estava chovendo, meus pais haviam brigado e estavam discutindo... - falo e logo vejo as lágrimas caindo no lençol - para amenizar a situação eu pedi pro meu pai trocar a música que estava tocando, ele olhou para trás e gritou comigo dizendo que não era pra eu me envolver, foi quando ele perdeu o controle em questões de segundos e assim bateu de frente com um caminhão... - eu disse olhando para Raquel que estava com o seu olhar triste

- não foi culpa sua - ela fala tentando colocar a suas mão em cima da minha mas eu apenas desvio

- eles faleceram na hora e eu fui mandada para o hospital em estado grave, mas naquele noite eu queria ter morrido junto com eles - falo olhando para frente mas de relance vejo a expressão da Raquel mudar

- foi um milagre você ter sobrevivido s/n, sei que foi difícil... - ela estava falando porém eu a interrompo

- sabe? Como você poderia saber? - pergunto olhando para a mesma mas logo me arrependo pois ela muda a sua expressão para uma pessoa seria

- você realmente precisa pensar antes de falar, você viu as minhas marcas e deveria saber que cada um tem seus problemas e que ninguém é feliz o tempo todo - ela fala se sentando na poltrona que estava um pouco afastada

- eu tinha um irmão, eu lembro de poucas coisas mas nunca esqueci da forma que ele me protegia já que nossos pais eram usuários de drogas - ela fala colando a mão na cabeça

- só lembro do corpo da minha mãe na minha frente e o meu irmão me afastando daquela cena, ele estava sendo forte por mim mas eu não estava sendo forte por ele - ela continuava a falar e logo vejo uma lágrima caindo de seu rosto

- lembro que fomos separados na adoção porém vivi em uma família que não se importava comigo, não queria uma outra filha e sim uma pessoa que fizesse de tudo por eles, fui crescendo e nada melhorou, o bullying na escola só piorava a minha situação e foi quando eu comecei a me cortar para alivar a minha dor - ela fala tirando o seu avental e lá ainda estavam as suas marcas

- um ano depois eles descobriram o que eu fazia e me expulsaram de casa falando que não queriam lidar com uma adolescente com problemas psicológicos, parei de ir na escola e fiquei alguns meses na rua... - ela disse olhando para mim - pedi dinheiro nos faróis e assim que consegui uma pequena grana, entrei em uma lanchonete para comprar algo para comer pois fazia dois dias que eu não havia comido nada, quando eu entrei o atendente me encarou no mesmo instante e naquele momento eu achei que teria que sair do estabelecimento, mas ele apenas sorriu para mim e me atendeu de forma gentil e toda vez que eu conseguia uma pequena grana, eu ia lá só pra vê-lo, nos aproximamos e eu acabei contando as coisas que estavam acontecendo na minha vida, ele me apoiou e disse que acharia um lugar pra eu ficar - ela disse com um sorriso no rosto e as lágrimas caindo de seus olhos

- foi assim que eu conheci o Gustavo, ele mudou a minha vida, me ajudou a arranjar um emprego temporário para que eu pudesse pagar o meu curso de enfermagem e logo logo ele estaria terminando a sua faculdade de medicina, eu tinha quase dezoito anos e ele estava prestes a fazer vinte  - ela fala olhando para mim e depois se levantando da poltrona e se aproximando

- tudo isso que eu te disse foi pra te mostrar que minha vida não era fácil, que meu único pensamento era a morte mas alguém mudou o meu destino e eu agradeço por isso - ela fala encostando a sua mão na minha

- sei que um dia você vai encontrar alguém que mude o seu destino e eu ainda vou estar aqui do seu lado, mas por favor pare com isso pois te ver assim me machuca muito - ela dizia e logo vejo as lágrimas caindo de seu rosto

- me desculpa Raquel, eu acho que fiquei focando tanto na minha dor que esqueci que outras pessoas também sentem... - falo olhando para mesma e ela me abraça de lado com um pouco de dificuldade pois não queria sentisse dor por causa dos machucados

- eu preciso ir ok? Vou tentar fazer com que você fique aqui sozinha está noite pois sei que não aguentaria aquela mulher - ela fala se soltando do abraço e logo da uma risada e eu acabo soltando uma também

Ela apenas me olhou pela última vez e saiu do quarto me deixando sozinha, olho para os lados para ver se minha mochila estava ali pois eu queria o meu celular e perguntar se meu tio estava bem

Querendo ou não, não queria ficar sozinha naquela casa com aquela mulher

Percebo que minha mochila estava em um cantinho, ela estava um pouco rasgada e suja de sangue

Eu queria me levantar e ir lá buscar a minha mochila, porém eu não conseguia já que minhas pernas estavam raladas e o meu corpo todo dolorido

Apenas olho para o teto e logo sinto meus olhos pesarem, apenas me viro um pouco de lado e acabo adormecendo...


[...]

Acordo no susto após um pesadelo horrível, mas senti algo em cima da minha mão fazendo com que eu olhasse naquela direção e visse uma pessoa com a cabeça deitada na minha cama e sua mão segurando a minha

Foi quando eu percebi que era ele...

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Two things in common | 𝗔𝗶𝗱𝗮𝗻 𝗚𝗮𝗹𝗹𝗮𝗴𝗵𝗲𝗿 (Concluída) Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang