Quatorze - Helvete

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- Não precisa se assustar. – Brian riu – Já que disse que posso protege-la. – então piscou.

Melissa evitou revirar os olhos, era a última pessoa no mundo que precisava de proteção ali dentro. Homem nenhum a manteria segura melhor do que ela mesma.

- Não estou com medo, não se preocupe. – sorriu com educação – Você não acha... – ela pigarreou, acompanhando-o de perto – Não acha que as condições do prédio são terríveis? Para seres humanos ficarem aqui o dia todo, todos os dias?

Brian a encarou como se tivesse dito a maior asneira da semana.

- Não, não acho.

- Por que não? As condições são completamente insalubres...

Ele torceu os lábios em descontentamento, e parou na porta que levava à ala dos prisioneiros, antes de responder:

- Bem, eles fizeram por merecer, não é mesmo?

- Não acho que ninguém mereça esse tipo de lugar, por mais grave que tenha sido seu crime. E todos eles são inimputáveis, loucos que, ao menos em teoria, não tinham total conhecimento do que estavam fazendo... Além do mais, tenho dificuldades para acreditar que esse ambiente auxilie na recuperação...

- Melissa... – Brian riu, balançando a cabeça em negação. Parecia achar que ela era uma bela de uma sonhadora inocente. – Não acho que o Dr. Thompson, ou o governo, o qualquer médico aqui dentro esteja muito interessado na recuperação de quem quer que seja...

- Inclusive você? – ela interpôs, um tanto rígida.

Ele deu de ombros.

- Só estou fazendo meu trabalho.

- Mas nosso trabalho é ajudar na recuperação.

- Eles não têm mais recuperação, só precisamos mantê-los na linha, e essas celas – ele apontou para o corredor atrás dele – Cumprem muito bem esse papel.

Melissa fechou a cara, de repente muito tentada a mandar Brian, o doutor Thompson e o St. Marcus para um local não muito educado. Ela não conseguia compactuar com aquela filosofia absurda, logo concluiu. E achou que talvez estivesse ali um bom motivo para decidir que não queria ficar com Brian.

- Discordo, mas prefiro não discutir a questão agora. – Melissa respondeu, resoluta – Vamos? – apontou para o corredor das celas.

Brian sorriu, como se os questionamentos da doutora não o tivessem atingido nem um pouco. Tinha alguma coisa muito errada com aquele cara, pensou, mas o seguiu. De imediato, seus olhos foram atraídos para botões vermelhos que se postavam ao lado de cada uma das portas.

- Estas celas são automáticas? – perguntou.

- São. Mantidas pela energia elétrica. Dão choque.

Melissa ficou boquiaberta. Não estavam em um centro de tratamento e custódia, mas num manicômio judiciário, como aqueles dos anos 60 e 70, que ninguém ligava para uma coisinha muito importante chamada direitos humanos. Como o St. Marcus ainda estava em funcionamento sendo operado daquela forma, ela não tinha ideia. Resolveu, contudo, que não questionaria Brian sobre isso também, porque ele parecia ser o tipo de pessoa que se divertia toda vez que um prisioneiro, deliberadamente ou não, tocava a grade e levava um choque. Talvez encontrasse, mais tarde, um jeito de questionar sobre aquilo com alguém que realmente poderia fazer alguma coisa a respeito.

- Mas e se um dia acabar a energia? – formulou uma pergunta menos polêmica.

- Temos geradores.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now