Primeiro a chuva

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No auge de seus dezesseis anos, Naruto não se considerava um garoto alegre. Solitário, melancólico; esses adjetivos faziam mais jus ao que era no momento. Um adolescente infeliz, órfão, sem ânimo para nada, muito menos para viver. Naruto só queria manter-se isolado, a solidão, de certa forma, era confortável e acolhedora para ele.

Jamais imaginou enfrentar tamanha tempestade em sua curta vida. Mas, ali estava ela.

A forte chuva que tornaria o resto de seus dias sem cor. Sem Minato e Kushina, ele não tinha mais porque sorrir e, aos poucos, Naruto foi deixando de ser sol e transformou-se em sombra. Vivia solitário, praticamente cortara todos os laços de amizade e sequer ia para escola. Quando ia, permanecia isolado, não falava com ninguém. Até que passou simplesmente a não ir mais.

No começo, assim que aquela catástrofe aconteceu e Naruto se viu sem os pais, a dor era tão pulsante, que parecia um segundo coração, que mais doía do que qualquer outra coisa.

Porém, seus muitos amigos o visitavam com frequência e ele era cercado de atenção por todos os lados, já que estava passando por um momento tão difícil. E isso, de certa forma, o confortava e meramente o animava, mas não o bastante ao ponto de conseguir superar a perda.

Portanto, aos poucos a vida de Naruto foi perdendo suas cores e tornando-se cinza e nublada. Pois, os amigos que ele acreditava estarem ao seu lado, pouco a pouco foram sumindo, ao perceberem que o ânimo de Naruto não melhorava e, que, agora, ele já não era mais tão divertido quanto antes. Muito pelo contrário, tornou-se praticamente insuportável e cabisbaixo.

Em algo os supostos amigos acertaram, ele já não era mais o mesmo. Naruto desaparecia um pouco mais em sua angustia a cada minuto.

Só uma coisa restava para ele, o lamento, o choro e aquele sentimento de perda tão palpável, que chegava a oprimí-lo. Naruto sentia que até poderia tocar sua dor, que, de tão intensa, chegava quase a ser física. Afinal de contas, a perda dos pais de forma tão abrupta, abriu em seu íntimo uma ferida que não queria de forma alguma cicatrizar. E, à medida que o tempo avançava, o buraco em seu peito tornava-se cada vez maior.

Mergulhado em um estado de letargia continua, ele não frequentava mais a escola e mal saia do quarto. Levando Jiraiya, seu padrinho e então tutor, ao quase estado de desespero total. Por assistir de camarote o garoto que tanto amava definhar daquele jeito, sem que ele conseguisse ajudar. Até que tudo começou a mudar, quando Hinata, líder do grêmio estudantil; e, por ventura, também da sala de Naruto, recebeu a incumbência de ir visitá-lo. Sua tarefa em si, resumia-se em prestar solidariedade ao colega de classe, em nome de toda a sala e convencê-lo a voltar a estudar o quanto antes.

Visto que os professores e os alunos estavam com saudades de suas traquinagens e da alegria que transbordava em seu ser, contagiando todos ao redor.

Hinata foi instruída a dizer exatamente essas palavras pelo próprio Iruka, um dos professores que mais gostava de Naruto.

Entretanto, a verdade era que muitos do colégio já nem se lembravam do garoto. E nenhum outro estudante parecia disposto a aceitar a tarefa de ir animá-lo, por jugar impossível retirá-lo do casulo no qual ele mesmo resolvera se fechar. Exceto, claro, Shikamaru que logo se prontificou a acompanhar Hinata. Ponderando que o amigo poderia estar muito abatido ainda. Decidiu que lhe faria companhia naquele dia e insistiria nele uma vez mais. Por falar nisso, um dos únicos que ainda assim o consideravam como amigo. Shikamaru ficou feliz em poder ajudar de alguma forma. Já que, seus outros colegas, podemos assim dizer, não tinham disposição, muito menos sensibilidade para lidar com a dor do outro.

Apesar de saber em seu interior que, muito provavelmente, o amigo os expulsaria de sua casa, alegando que não queria ver ninguém — o que era frequente acontecer, sempre que ele aparecia para visitá-lo — Shikamaru, novamente o faria. Acreditando que, talvez, Hinata pudesse conseguir o que ele ainda não conseguira: tocar o coração de Naruto depois de tamanha perda e retirar um pouquinho de sua dor, ou pelo menos amenizá-la. O que já seria de grande ajuda, visto que Naruto o afastara de todas as formas e não atendia suas ligações, o que dificultava um bocado as coisas.

As cores do nosso amorWhere stories live. Discover now