Capítulo 30

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Bella

Agarrei no Marcel pelo braço enquanto este fazia fila no lugar para embarcar a mala. Este estremeceu e quase imediatamente virou-se na minha direção para que os seus verdes olhos fizessem contato com os meus.

-Estás nervoso? - perguntei já que, mesmo que o quisesse esconder, os seus olhos mostravam nervosismo.

-Estou bem. - respondeu.

-Marcel. - avisei quando a rapariga de trás da mesa lhe devolveu o seu passaporte juntamente com o bilhete de avião e este lhe agradeceu. A mandíbula do Marcel tensou-se.

-Obrigado. - disse à rapariga. Virou-se para mim. - Estou bem. - disse. - A sério.

Voltou a insistir e, ainda sem soltar o seu braço, caminhei ao seu lado até à zona de segurança. Podia notá-lo incómodo e chateado, inclusive dava-me a sensação de que não queria mesmo ir. De qualquer maneira não poderia assegurá-lo por talvez essa sensação se tratar de alguma imaginação minha provocada pelo facto de não querer que ele se vá embora, mas podia dizer que nos seus olhos queimavam chamas de nostalgia.

-Quanto tempo é daqui a Paris? - perguntei com intenção de o distrair um pouco. E a mim também.

-Uma hora e meia mais ou menos. - respondeu de imediato com uma frieza evidente.

Assenti com a cabeça enquanto me dedicava a observá-lo pelo canto do olho. O controlo de segurança não estava nada longe, pelo que, cada vez mais, estava mais perto o momento de lhe dizer adeus. Apertei o seu braço para chamar a sua atenção e de seguida virou a cabeça baixando-a para olhar para mim.

-Passa-se alguma coisa? - perguntou com os lábios entreabertos.

-Já vais embora? - perguntei como uma menina pequena prestes a fazer beicinho porque a sua mãe a vai deixar sozinha no infantário.

O Marcel franziu a testa e depois de uns segundos suspirou acalmando a sua expressão e assim mudando-a por uma entrada à melancolia.

-Posso esperar um quarto de hora. - disse enquanto elevava o seu olhar ao grande relógio situado na fachada interna do edifício.

Assenti.

-Sentamo-nos nalgum sítio? - perguntei já que ao estar de pé só conseguia pensar em que ia embora.

O Marcel assentiu.

-Claro.

-O que estás a pensar fazer em Paris? - perguntei e ele inclinou um sorriso.

-Estudar. - declarou e de seguida arregalei os olhos mostrando-lhe a minha desaprovação.

-Não! - exclamei. - Não podes ir à cidade do amor e passar os dias a estudar!

O Marcel encolheu os ombros sentando-se num dos assentos que havia.

-E que queres que faça? Alugar uma mota e ir em busca do amor da minha vida? - perguntou sarcasticamente e soltei uma gargalhada ao imaginá-lo.

-Seria uma boa aventura para contar aos teus netos.

Marcel negou.

-Nem sequer sei se vou ter netos. Sendo bissexual, não tenho a certeza.

Franzi a testa ao não entender ao que se referia.

-Porquê? Sempre podes adotar.

-Não. - disse com o olhar perdido nalgum lugar. - Eu não quero adotar. Quando penso num filho, penso em algo que sai de duas pessoas. Nesse caso seria de mim e do meu companheiro e, se o meu companheiro fosse um rapaz, não poderíamos ter um filho. Podia ter um meu e duma mulher, mas depois de tudo não é a mesma coisa porque não seria um filho meu e da pessoa que amo. - virou-se para manter contato com os meus olhos. - Entendes?

Os Trigémeos Styles 3: Déjà vu (tradução)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora