Segundo a lenda japonesa Akai ito todos possuímos um fio invisível localizado em nosso dedo mindinho que está conectado a outra pessoa: nossa alma gêmea. Nada pode abalar este fio, nem mesmo a morte, pois ele continua rígido por todas as vidas. Não...
notas da autora: queridos leitores, escutem a música que dá nome aos capítulos, fazer isso deixará a experiência da leitura mais emocionante. Todas as músicas estrangeiras estão com a tradução!
Janeiro, 2018.
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M A I T Ê
— BOA, GAROTA!!!!!! — o treinador de América berra depois que ela consegue acertar um soco no rosto da adversária.
Rafael vibra ao meu lado, é nítido que ele mal consegue se conter, na verdade, a única pessoa que parece minimamente pasma com aquele gancho de direita, sou eu. A academia está cheia, América e Rafael me avisaram que a "luta de hoje seria um marco pra história da academia" mas assumo que acabei não levando muito a sério. Até chegar aqui. Logo que passamos pela entrada já pude sentir o clima de tensão e expectativa, várias pessoas cumprimentaram América desejando boa sorte. Ela é a segunda melhor lutadora da casa.
— ISSOOOOOOOO, STATES!!!! — Rafael grita e eu involuntariamente fecho meus olhos, não pelo grito, e sim pelo outro soco que acerta a rival de América.
Eu não estou acostumada a lidar com a violência de uma maneira tão próxima assim, pelo contrário, sou 100% contra qualquer tipo de violência, eu realmente não faria mal a uma mosca. (Não tenho coragem de usar nem aqueles venenos que matam pernilongos e outros insetos). Quando tinha dez anos, tive os meus primeiros bichinhos de estimação: 3 baratas de Madagascar. Meus irmãos costumam falar que esse fato diz muito sobre mim.
— FECHA A GUARDA! — o treinador volta a gritar, consigo notar que Rafael prende a respiração e me pego repetindo o ato, mesmo que América tenha desviado do ataque da rival. É impossível não sentir tensão, medo, adrenalina. MEU DEUS! Incrível como o termo "diversão" realmente pode ter significados diferentes para cada pessoa. Para mim, não há nada mais divertido do que acampar, ou fazer qualquer coisa ligada à natureza. Fui muito privilegiada por nascer em uma cidade litorânea, perdi as contas de quantas trilhas já fiz em apenas 19 anos de vida. O fato é que, o último conselho que recebi de meu pai, antes de pegar o ônibus para Santa Mônica foi:
"Quando fizer amor pela primeira vez, certifique-se de ser com alguém que a respeite. Experimente aventuras novas. Não use drogas que possam te deixar mal. Sempre diga a verdade. Sempre faça a coisa certa. Siga seu coração. Viva cada dia como se fosse o último. Embriague-se. Seja aventureira, audaz, mas aprecie, passa rápido."
É por isso que me encontro aqui, em um ambiente que NUNCA achei que frequentaria. Esse foi um dos melhores conselhos que recebi do meu pai, eu não poderia deixar de segui-lo.
— PUTA MERDA, FOI NOCAUTE — o grito de Rafael me traz de volta a realidade e só agora eu percebo que TEM UMA PESSOA DESMAIADA DENTRO DO RINGUE.
— Mas o que? Como isso aconteceu? Ninguém vai ajudá-la? — pergunto completamente perdida em meio a situação, as pessoas estão gritando e comemorando a vitória de América como se fosse uma copa do mundo. E eu, como sempre, perdi o último gol. Outro fato que diz muito sobre mim: não consigo doar 100% da minha atenção para nada. Estou sempre voando e viajando em meio aos meus pensamentos. O lado ruim de se ter o sol em peixes.
