Conversando com Kara Danvers.

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✔ Que bom já encontrar pessoas por aqui lendo, esperamos que continuem gostando da adaptação.

Pov Lena

Reflito sobre o que Mike acabou de me falar, mas ele toca meu braço, fazendo um sinal com a cabeça para que voltemos ao centro da sala e então percebo que nosso afastamento um tanto demorado acabou por chamar a atenção dos demais. Parecem ter ficado um pouco apreensivos, talvez por notarem a nossa pequena discussão.

Porém, quando enfim retornamos ao grupo, o sr. Danvers chama meu namorado, perguntando-lhe sobre a sua nova promoção. Mike foi escolhido, recentemente, para ser cirurgião chefe do hospital em que trabalha e a curiosidade de Jeremiah deve-se também ao fato de ser ele mesmo médico, como o filho. Dessa forma, não é muito difícil a conversa entre os dois tornar-se quase uma palestra sobre rotinas e práticas médicas, fazendo com que eu me sinta bem deslocada.

De tão envolvidos não percebem que me distancio um pouco dos dois, aproximando-me da lareira, sobre a qual estão pendurados alguns quadros. Logo, reconheço obras de Caravaggio e Van Gogh no acervo, coincidentemente, dois dos meus pintores favoritos, o que prende instantaneamente a minha atenção. No entanto, a tela mais interessante entre elas é com certeza uma na qual consigo encontrar elementos do cubismo e do surrealismo nos traços, de um artista desconhecido para mim.

— Gostou da tela?! — ouço uma cálida voz vindo de trás e, ao me virar, deparo-me com Kara Danvers, trazendo um leve sorriso estampado no rosto. Seus braços estão atrás do corpo, enquanto ela também observa o quadro.

A sua chegada se dá de forma tão suave, que tenho um leve sobressalto quando escuto seu timbre doce e sereno tomar inesperadamente o meu sentido.

— Sim, mas não consegui identificar o pintor! — respondo, estranhamente embaraçada com esse primeiro contato direto.

— Chama-se Portinari. É brasileiro! Eu conheci o trabalho dele em uma viagem que fiz ao Brasil. Fiquei bastante impressionada e comprei esse quadro de um colecionador — explica, olhando para mim.

— Sempre tive curiosidade de conhecer o Brasil — confesso — Acho a sua cultura fascinante... – completo e volto a falar sobre o quadro: — O uso das texturas é incrível, mas fiquei em dúvida sobre o que ele retratou.

Ela parece ficar satisfeita com a pergunta e responde:

— Portinari foi um pintor muito famoso por denunciar questões sociais em suas obras. Nesta, ele mostra a realidade miserável dos camponeses. Há outra em que traz à tona o problema de pessoas que precisam abandonar sua terra para poder sobreviver... — parece bastante envolvida com o seu relato, mas então para, encarando-me de novo — Desculpa, devo estar te aborrecendo. Tenho essa mania de fazer longas explanações sobre as coisas que me empolgam.

— Não, não... Estava achando interessante, sério. Talvez, eu também seja um pouco assim — faço uma pausa — continua... — peço, sorrindo, e sinto que estou começando a me sentir mais relaxada na presença dela.

Kara esboça, claramente, uma expressão ao mesmo tempo espantada e feliz:

— Não a aconselharia a pedir isso, mas já que você insiste... — retoma a palavra e não consigo evitar pensar o quanto parece timidamente charmosa nessa hora — O que eu ia dizer é que considero este um tema universal — ela segue —, porque Portinari pintou aquilo que fazia parte da realidade do seu país, mas não podemos dizer que ele não sirva de referência para os problemas agrários enfrentados em qualquer outro lugar do mundo. — pontua de maneira eloquente.

Perco-me nas suas palavras. Fico fascinada com a forma desenvolta com que Kara associa a arte às questões sociais, principalmente porque ela faz parte de uma classe privilegiada, assim como Mike. E, desde que nos conhecemos, não me recordo de vê-lo falar com tanta paixão sobre nada parecido. Pelo contrário, às vezes tenho a impressão que o meu namorado nunca aprendeu a exercitar a empatia.

The Lady In My Life [KarLena]Where stories live. Discover now