Polvo

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A sacada do apartamento dava direto para a rua e dos andares mais altos Tatiana costumava se sentar com as pernas para fora e observar o céu. Às vezes ela escondia a cidade com as mãos e fingia que estava longe, perdida no meio do nada. Seu celular a trouxe de volta à realidade ao tocar em seu bolso; uma mensagem de Gabriela: "Quase aí." O porteiro anterior já a conhecia e a deixava entrar sem problemas, mas o rapaz novo ainda precisava perguntar seu nome toda a vez, ligar para Tatiana e perguntar se a garota esperava alguém, então Gabriela gostava de avisar quando estava perto, assim sua namorada já poderia avisar o porteiro novo.

Dentro de alguns minutos, seu celular vibrou mais uma vez; "Elevador". Gabriela era adorável. Tatiana se levantou e em alguns passos já abria a porta e olhava os números do elevador aumentarem. 3, 4, 5, 6, 7, 8. As portas se abriram e Gabriela estava ali, seu moletom cinza pastel quase a escondia por completo. Ela ajustou os óculos, então acenou e caminhou em direção à Tatiana, as mãos nos bolso seguravam chave, carteira e celular. A moça de cabelos coloridos tomou seu rosto assim que ela se aproximou e deixou um beijo carinhoso em seus lábios.

— Oi, você. — Gabriela sorriu, tímida.

— Oizinho. Entra aí, meu irmão vai chegar daqui a pouco, mas eu preciso contar uma coisa importante antes, aí dá tempo de você surtar à vontade antes dele chegar.

Gabriela parou na porta. Ela virou as costas e começou a andar de volta ao elevador. Tatiana deu um gritinho e correu atrás de sua namorada, agarrou seu braço e a puxou para dentro do apartamento.

— Volta aqui, senta.

Gabriela tinha tanta ansiedade nos olhos que Tatiana sentiu pena. A garota sentou-se ao lado da jovem de cabelos castanhos e segurou suas mãos. A expressão no rosto de sua namorada era tão preocupada que Tatiana não sabia se queria rir de nervosismo ou abraçá-la.

— Eu vou visitar minha família na semana-de-saco-cheio.

— Semana que vem, não é? Você tinha comentado. — Gabriela perguntou, confusa.

— Sim. E você vem junto.

— Oi? — Gabriela levantou as sobrancelhas, confusa. Aquela parte era novidade.

— Eles querem conhecer você. — Tatiana, pelo contrário, tentava passar um pouco de sua confiança para sua namorada — Estamos juntas há... quase seis meses. E até o Orfeu pergunta de você nos dias que você não vem aqui.

— Mas... é uma viagem cara, seus pais moram no sul, não é?

— Sim, mas eles compraram as duas passagens. Orfeu vai para a Itália na mesma semana, então eu procurei por por voos no horário próximo do dele, então podemos ir todos juntos ao aeroporto.

— Tatiana... Isso é muito, ah, súbito. E se Bernardo precisar da minha ajuda com os gatos semana que vem?

— Nossa, Gabi, isso foi a melhor desculpa que você conseguiu pensar? — A moça apertou o rosto de sua namorada até que seus lábios fizessem um bico — Eu já falei sobre você para meus pais. Está tudo bem. Eu admito que deveria ter avisado antes, mas eu achei que isso só faria você ficar ansiosa por mais tempo.

— Ah, bem, não é mentira. Ambas as coisas. Mas eles sabem, então?

— Sim, eles sabem. Minha tia sabe. Minha avó sabe. E, como um incentivo, eu falei para os meus pais comprarem comida japonesa para tentarmos fazer juntos, só porque você gosta.

— Tati. Sua boba. — Gabriela corou.

— Toda sua. — Tatiana puxou o rosto da jovem para si e beijou seus lábios.

PolvoWhere stories live. Discover now