31- CENA DEL CONSIGLIO (Jantar do Conselho)

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- Por um acaso, não quer ajuda para tirar esse vestido mais tarde? - Deu uma risadinha atrevida.

- Você não desiste, não é?

- Nunca. - Abriu um sorriso largo na minha direção.

- Vou dar uma volta.

- Cuidado, eles são perigosos. - Alertou, segurando meu braço.

- Eu também sou perigosa. - Pisquei para o meu marido.

Circulei pela sala, observando e analisando os integrantes do Conselho. E de repente uma vaga recordação me fez suspirar. A imagem de Nonno na cabeceira da mesa cercado por homens armados e bem vestidos veio à minha mente, apesar dos borrões - que me impediam de ver claramente, creio que porque eu ainda era muito criança na época- percebi que muitos rostos haviam mudado. Conclui o óbvio: a maioria das famílias do Conselho tiveram baixas.

- Cian, Lucrézia! Lembra de mim? - O toque do homem barbado me fez voltar a realidade.

Minha primeira reação foi me retrair, mas logo coloquei um sorriso simpático e forçado no rosto.

- Cian, Paolo! Come stai? (Oi, Paolo! Como vai?)

- Muito bem. E Matteo? Não achei ainda, tenho alguns assuntos para tratar com seu primo.

- Ele teve que viajar. - Mas que assuntos? Fiquei curiosa.

- Algum problema?

- Nenhum. - Mesmo que tivesse não falaria.

- Signora. - Saudou o senhor de pele bronzeada e bigode. Assenti e ele continuou. - Maurizio De Luca ao seu dispor.

- Fico lisonjeada, senhor De Luca. - Com a visão periférica vi Piero emburrado, virando um copo de grappa e ignorei sua birra.

- Sua casa é encantadora.

- Grazie! E como anda os negócios. - Forcei uma leve curvatura nos lábios.

- Indo de vento em polpa.

- Que bom! Ter o monopólio dos opioides vindos do Afeganistão é mesmo um negócio excelente.

De queixo caído o homem me olhou incrédulo. Também quem mandou me subestimar.

- Se me dão licença senhores, vou cumprimentar os demais.

E assim fiz.

- Buonasera, signores! (Boa noite, senhores!)

- Buonasera! - O trio de ruivos me respondeu quase num uníssono.

- Guido Barone, principessa. - O senhor, cujo os fios alternavam entre brancos e laranja, de mais de sessenta anos, beijou minha mão. - Cresceu muito desde a última vez que lhe vi.

O rosto dele não era estranho, lembrava da barba avermelhada dele no lado oposto à mesa, conversando com vovô.

- Claro, lembro-me do senhor. - Lembro que traiu meu avô também, miserável. Aliás como quase todos ali, um bando de traidores.

O tal Jacopo me analisou dos pés à cabeça e só faltava babar. A situação ficou tão evidente que o próprio velho cochichou algo para o filho e logo ele e o neto se retiraram. Podia ver Piero me fulminar com o olhar, atrás do homem.

- Seu avô era um bom homem.

- Ele era mesmo...Será que posso dizer o mesmo do senhor?

- És realmente tudo o que dizem sobre você, determinada e sem papas na língua.

Dei um risinho forçado e permaneci calada.

- Agora, vou procurar Leonardo. Minhas costas estão me matando.... Ah! Que saudades tenho dos meus vinte e poucos anos. - Saiu resmungando.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now