Um Lugar para Nós Dois

A Fuga

Acordo e percebo que Bernardo não está na cama, a porta do banheiro está aberta e não ouço qualquer barulho, portanto ele não deve estar lá. Presumo que ele não foi embora sem me avisar uma vez que meus pais estarão fora e ele combinou de me fazer companhia, então sem pressa faço minha higiene matinal e troco o pijama por um moletom antes de descer as escadas.

Encontro Bernardo nos fundos próximo à piscina falando ao telefone, da porta da cozinha apenas lanço um beijo para ele que retribui com um sorriso que me parece preocupado. Como meus pais não estão em casa e Glorinha não vem aos domingos, eu mesma fui preparar nosso café da manhã enquanto Be não encerrava sua ligação.

Montei dois mistos-quentes e coloquei na sanduicheira elétrica enquanto coava o café, também peguei uma maçã na fruteira e coloquei na geladeira para Bernardo, reparei nesse costume estranho dele há um tempo. Apesar de considerar impensável comer uma maçã gelada, meu namorado parecia preferir elas assim e eu não ia julgar.

– O café está com um cheiro maravilhoso – Be entrou na cozinha me abraçando.

Retribui o abraço enquanto nos beijamos.

– Tá com fome? – Alcancei uma xícara para que ele se servisse.

– Bastante – ele sorveu um gole da bebida quente. – O teu café é uma delícia, meu amor.

– Que bom que gostou – sorri.

Servi os sanduíches na mesa enquanto Bernardo se sentava, peguei uma xícara de café para mim também e retirei a maçã da geladeira colocando-a em frente do misto-quente dele.

– Acho que deve estar do jeito que você gosta.

– Como você sabia? – Ele pareceu surpreso.

– Bom, todos os dias você come uma maçã após o café da manhã, vive falando o quanto é bom para a saúde e mantém os dentes limpos. Eu também reparei que na tua casa você guarda as maçãs na geladeira ao contrário de qualquer outra fruta que fica em cima do balcão na fruteira que tua mãe deu quando você mudou para o apartamento, então já presumi que era por que gostava delas geladas.

– Uau... tudo o que você disse é verdade.

– Viu só? Eu presto muita atenção no meu namorado.

Be abriu um sorriso enorme. É maravilhoso como ele se mostra tão feliz com coisas simples como essas, talvez o amor esteja mesmo nos detalhes, devolvi o sorriso com o mesmo calor e começamos a comer.

– Quem era ao telefone? – Perguntei.

– Meu pai.

– Está tudo bem com ele? – Bernardo apenas assentiu e eu insisti – Você parecia preocupado enquanto conversavam.

– Não é nada – ele sorriu fraco.

– Odeio quando você esquiva das minhas perguntas – revirei os olhos.

– Cami, não fica brava – disse com um olhar abatido. – Eu só não quero te envolver mais ainda nisso.

– Eu já estou envolvida, – argumentei paciente – não tem como você evitar.

– Eu devia ter evitado.

– Não tinha como, Be. Se culpar agora não vai mudar nada, só vai te deixar na fossa. Então aproveita que já estou aqui e me deixa ajudar.

Antes que ele pudesse responder eu completei:

– Até meus pais estavam investigando, eu serei a única a ficar de braços cruzados? Bernardo, eu não sou a garota que espera o Príncipe Encantado para resolver tudo.