Uma tarde no parque

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Por uma semana inteira Bernardo foi até minha casa todos os dias após eu voltar do trabalho, ele dizia que precisávamos compensar o tempo que passamos afastados e eu não ousava discordar. Alguns dias passávamos sozinhos vendo filmes na minha casa, outros passávamos com meus amigos, outros com os amigos dele. Nesse dia não fui trabalhar com meu carro, Bernardo ia me buscar na emissora para almoçarmos juntos.

Eu estava terminando de organizar algumas peças nas araras que foram usadas no jornal da manhã quando alguém bateu na porta, me virei e lá estava ele, perfeito em um jeans e camiseta encostado ao batente da porta me olhando pacificamente. Bernardo caminhou até mim, o girassol em mãos – ele não perdera o costume.

Pronta para ir? – Perguntou ao me dar um selinho.

– Só preciso passar na minha sala para pegar minha bolsa.

– Eu te acompanho – disse ao meu lado enquanto andava pelo corredor.

– Como você entrou? Achei que iam te fazer esperar na recepção.

– Teu pai estava lá quando cheguei, ele liberou a minha entrada.

– Nossa, que moral – brinquei. – Entrada autorizada pelo próprio doutor Carlos.

– Você não tem ideia da moral que eu tenho, ele até me convidou para jantar na casa dele hoje. Quer ir comigo?

– Tá me convidando para jantar na minha casa?

– Sim, – respondeu com naturalidade – o almoço é na minha casa e o jantar na tua.

– Ok, é justo – falei dando risada.

Paramos em frente a uma salinha com a porta toda branca, abri e entrei para pegar minhas coisas. A sala era pequena e bem iluminada por uma grande janela por onde se via o jardim da emissora, era possível ver até um pouco do trânsito lá fora já que estávamos no terceiro andar. Nas paredes brancas haviam alguns dos meus certificados e eu havia reservado um lugar especial para pendurar meu diploma quando o pegasse no fim do ano.

Havia também uma escrivaninha na cor marfim com duas cadeiras simples à sua frente e uma cadeira de escritório bege posicionada atrás, meu notebook estava aberto sobre a mesa então o fechei deixando no mesmo lugar, abri a primeira gaveta e peguei meu crachá que me dava acesso pela catraca da recepção. Em cima da cadeira de escritório estava minha mochila, coloquei-a nas costas e conferi se a janela estava fechada, saí trancando a porta enquanto Bernardo aguardava.

– Uma sala própria para trabalhar meio período? – Ele zombou.

– Para sua informação eu ficava aqui o dia todo, só agora no último ano da faculdade que eu passei a vir só de manhã. Para ter tempo de conciliar os projetos e o TCC – expliquei voltando pelo corredor em direção ao elevador. – Ano que vem eu me formo e já volto a trabalhar em período integral.

– Entendi, mas vamos falar do que interessa. Está com fome?

– Muita! Qual o prato incrível que você preparou para nós hoje? – Perguntei já chamando o elevador.

– O que você acha de uma lasanha à bolonhesa? Deixei montada, quando a gente chegar é só ligar o forno e deixar o queijo gratinar.

– Be, eu amo tua origem italiana – falei sincera.

– E eu amo você – ele disse passando o braço em meu ombro e dando um beijo em meu rosto.

– Eu também te amo – respondi sorrindo.

O elevador parou e suas portas abriram e meu sorriso fechou.

– Não é possível – comentei ao ver que havia um ocupante.

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