Mais um ponto de vista

Start from the beginning
                                    

– Só que não tem essa de "a gente", não. É você quem vai cuidar disso, afinal foi ideia sua usar aquela menina para colocar o filho do Costolli na cadeia, as coisas não estão saindo como planejado e a família da garota é muito influente, se eles oferecerem grana para o cara que você contratou ele fala tudo. Então resolve isso logo antes que cheguem na gente.

Não pode ser! Eu não acredito no que estou ouvindo, ainda em choque abro a porta e entro na sala. Minha voz não é mais que uma rouquidão incrédula quando começo a falar.

– O que isso significa? O que vocês fizeram? – os dois me olham assustados e eu continuo a falar – Yuri, foi você quem mandou sequestrar a Camilla?

– Yago isso é jeito de entrar... – meu pai começa a dizer, mas eu o interrompo.

– Como você permitiu isso? – Começo a elevar minha voz – Como é que vocês puderam?

Meu pai está em pé em frente a escrivaninha de Yuri e me olha ainda assustado com minha entrada repentina, já meu irmão parece inabalável sentado em uma cadeira de escritório confortável. Ele diz com a paciência de quem vai contar uma história de ninar:

– Fecha a porta e senta, está na hora de você saber mais sobre os negócios da nossa família.

– Eu disse que não queria ele envolvido em nada disso – meu pai tenta argumentar enquanto eu apenas obedeço ao que Yuri disse.

– Porque não? – Yuri agora pareceu se exaltar – Até quando vou ficar só eu batendo cabeça para as coisas funcionarem aqui enquanto o teu protegidinho vive num sonho de verão?

– De que merda vocês estão falando? – Pergunto já cansado dessa enrolação e ainda assustado com o que ouvi.

– É simples, Yago – meu irmão continua enquanto meu pai senta ao meu lado soltando um longo suspiro. – Você acha que todo o dinheiro que a gente tem vem desse escritório aqui, mas na verdade a gente rala muito mais para conseguir o que a gente tem, para você ficar para lá e para cá de carro do ano e frequentando esses rolezinhos que você vai. Por mais que o pai não quisesse te meter nisso, eu cansei de fazer todo o trabalho sujo. Tá na hora de você provar que tem algum valor para essa família.

– Yuri, não precisa falar assim com o seu irmão. Mas ele tem razão Yago, você já está bem crescido e não dá mais para te manter de fora dos negócios.

– Que negócios são esses? – Falo exasperado.

– Não dá para ter tanto dinheiro trabalhando honestamente nesse país, irmãozinho. Algumas vezes é preciso mexer com negócios mais obscuros ou pelo menos encobrir os rastros de quem faz isso.

– É o que a gente faz – meu pai começa a explicar. – Esses meus casos "porta de cadeia" como chamam, são de interesses de alguns parceiros de negócios. Tanto para livrar quem pode nos ajudar, quanto para manter preso quem pode nos atrapalhar. Os Costolli são a segunda opção.

– Eles compraram terras de um dos nossos sócios que morreu anos atrás, os filhos dividiram os bens e venderam sem saber uma das propriedades que nos interessava. Era um lugar afastado, sem vizinhos, com muita serventia para esconder qualquer coisa ou até mesmo qualquer pessoa.

– Foi lá que... – reformulei a pergunta várias vezes porque não tinha certeza se queria saber a resposta. – O cativeiro da Camilla foi nesse lugar?

– Não, cara. Depois que o Osvaldo Costolli comprou nós perdemos o lugar, ele desmanchou o casarão que tinha e transformou tudo em pasto. Acontece que derrubando a construção ele também encontrou o que não devia. O velho tinha muita coisa guardada lá que caindo nas mãos da polícia derrubaria todo o esquema, cairia não só a gente, mas também muita gente influente do país inteiro. – Yuri continuou.

Um Lugar para Nós DoisWhere stories live. Discover now