A primeira mudança

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A cidade de Sunnydale está voltando a ser como antes. Sim, sim, tem toda aquela coisa de "sobrenatural", mas o que seria de mim se escolhesse uma cidade clichê? A questão é que temos que criar uma rotina, seja onde for, certo?! Não estava nos meus planos vir para cá, muito menos ter que lidar com a adaptação de uma nova rotina no auge dos meus 23 anos. Ouvi muita crítica por decidir algo tão abruptamente, aliás, por que caralhos deixar uma possível vida traçada para vir dar um passo no escuro, numa cidade que mal é habitada? Mas a razão as vezes anda uns dez passos atrás do coração, e quando ele alcança as decisões do coração, se for uma má ideia, já é tarde demais para desfazer...

Sim, vim atrás do meu amor. Sim, pode ser que dê tudo errado, que as coisas não sejam como eu imagino. Sim, talvez não tenha sido uma mudança tão inteligente. Não, não sei se foi de fato uma decisão minha ou apenas algo necessário considerando as circunstâncias. Mas as vezes alguns sacrifícios parecem ser necessários para que algo muito melhor aconteça. E as mudanças, ah, essas são inevitáveis.

Minha primeira mudança começou em relação a me enxergar. Parece boba, parece simples, e para muitos nem é uma mudança. Mas as vezes necessitamos nos acolher, nos ver de outra maneira, nos enxergar de fato. Quando eu me perguntava se eu me enxergava, eu me convencia que sim, porque eu me enxergava da forma que criaram a vida para mim, da forma que foi imposto que eu me enxergasse. Desde que eu comecei a compreender a mim mesma como uma pessoa, eu me enxergo da forma que meus pais queriam, então eu cresci, fui para a escola, e lá comecei a me enxergar da forma que o sistema achava que eu deveria ser, então eu cresci mais um pouco e fui para a universidade, e lá eu me enxerguei da forma que eu me dava melhor. Então, um dia eu enxerguei que nunca fui eu quem determinei a forma de ser vista, e sempre alguém/algo que eu batia o pé que era maior ou melhor que eu mesma. Foi uma construção, não foi do dia pra noite, não posso mentir. Porque depois disso eu me deixei ser enxergada pelos olhos de um homem, cujo me fizeram ver como o amor da minha vida, que me impuseram para casar e construir uma família que me enxergavam nela. Mas já era meio tarde, eu já tinha um pé na minha independência, já conseguia me enxergar sozinha, já conseguia me ver livre.

Minha primeira mudança foi grande, minha primeira mudança determinou que eu poderia ser e fazer o que eu quisesse, sem querer ser enxergada pelos outros de uma forma que eu não era, ou não queria ser. Minha primeira e grande mudança, ela que me trouxe consciência de quem sou eu, que demonstrou que eu sou mais do que meus pais, a escola, a universidade ou meu noivo achavam. Eu sou mais, mais do que apenas carne, mais do que apenas uma mulher formada aos 23 anos exigida a ser enxergada no trabalho como eficiente, como durona, como incansável e inabalável, mas ao mesmo tempo uma donzela. Até onde de fato as donzelas dos contos de fadas querem ser salvas ou querem apenas testar a capacidade de sobreviver a situações totalmente atípicas? Me deixem ser a donzela que se salva sozinha dos apuros em que ela mesma se colocou.

Pois agora, eu me enxergo.

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⏰ Last updated: May 19, 2021 ⏰

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