capítulo três- Alice

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Quando deu meio dia, minha  prima tocou a campainha. Eu já havia tomado um banho e vestia  um vestido soltinho florido, bem estilo camponesa. Não sei porque o havia colocado na mala, não usava esse tipo de roupa,era uma daquelas roupas que você tem no guarda-roupa mas não sabe o porquê. Abri a porta e ela estava com uma sacola na mão que por certo era a marmita da minha tia.

Vamos? - perguntou com um meio sorriso. Só fiz que sim e fechei a porta, saímos.

Geralmente eu era bem comunicativa. Afinal, era professora do primário, tinha que ser bem comunicativa. Mas, desde que soube da morte dos meus pais e desde que voltei a cidade, me fechei dentro de mim. Acreditava ser o luto. Saímos do prédio e fomos andando  uns 5 minutos até chegar ao hospital da cidade. A cidade estava bem desenvolvida.Ainda era como eu me lembrava, mas com pequenas mudanças. Entramos, o hospital não era muito grande, o típico hospital de cidadezinha do interior.  Mais atendia todas as especialidades e necessidades dos cidadãos. E parecia estar bem equipado. Andamos até o refeitório onde minha tia nos aguardava sentada com uma amiga também enfermeira que já estava almoçando. Chegamos até elas e nos sentamos também.

Oi mãe. - deu um beijo na bochecha da minha tia. - oi tia Lau. - disse Rebeca para a outra enfermeira que só balançou a cabeça,  parecia concentrada no almoço.
Oi tia Neide. - falei sem muita empolgação.
Oi, minha querida. Que bom que você saiu um pouco de casa. Espero que Rebeca não tenha a obrigado a vir. - falou olhando firme para a filha enquanto retirava a tampa da marmita para comer.
Não. Eu vim porque quis.
Que bom. - disse minha tia com um meio sorriso.
O novo diretor do hospital gostaria de lhe conhecer. Ele foi ao velório mas você ainda não tinha chegado. Quer lhe dar os pêsames. - falou olhando para mim.
Está bem.
Meus pêsames. - disse a tal Lau.
Obrigada.
Espere eu terminar de almoçar e te levo até a sala dele- disse minha tia, apenas balancei a cabeça em concordância.

Vi as duas enfermeiras comerem seu almoço, a tal Lau se despediu e saiu, minha tia me levou até a sala do diretor do hospital. Era um senhor de cabelos brancos muito simpático. Me deu os pêsames e falou o quanto a minha mãe ajudava ao  hospital e a cidade, também não deixou de falar do meu pai, que consertava as ambulâncias do hospital sempre que precisavam. Depois de ouvir o homem,  me despedi, e minha  tia voltou ao trabalho e eu e minha prima saímos do hospital. Enquanto íamos de volta para casa reparei melhor no pouco que via do centro da cidade, realmente estava se modernizando desde a última vez que estive aqui.

Vi alguns prédios, a  biblioteca que a minha prima trabalhava  e quando estávamos passando em uma rua menos movimentada, reparei um grande prédio todo de vidro azul, como estes que só vemos em cidades grandes. Era muito bonito mas, não tinha nenhuma placa de identificação. Achei estranho. Movida pela curiosidade perguntei para a minha prima.

Rebeca. Aquele prédio… - apontei e ela se virou pra ver, então respondeu.
Ah, é o escritório e construtora da família Andrade. Eles também alugam algumas salas para outras empresas regionais e de fora que tem filial aqui.  - faço cara de que não estou entendendo nada, ela continua. - lembra do dr. João Andrade? - me pergunta enquanto caminhamos nos afastando do prédio. Faço que sim com a cabeça. Realmente me lembrava um pouco do homem rico e discreto da cidade. - dr.  João comprou muitos terrenos aqui na cidade, fez uma verdadeira fortuna, construiu muita coisa. Como você pode ver. Inclusive esse prédio que ele mantém como o centro de todos os seus negócios no último andar é o escritório da construtora. Dizem que eles constroem verdadeiros monumentos pelo país afora…  bom, agora é o filho dele que comanda tudo, dr. João faleceu há 3 anos. O filho dele,  não morava aqui não, dizem que morava na capital com uma tia desde que a mãe a esposa do dr. João faleceu quando ele era criança. Por isso não o víamos por aqui. Mas ele é tão discreto como o pai era, mal vemos ele. Eu sei que ele é viúvo, a mulher morreu num acidente de carro há 2 anos. Ouvi dizer que eles tinham um filho mas acho que já é invenção do povo.

Fico meia atordoada com tanta informação. Realmente muita coisa mudou por aqui. Em tudo que se via no comércio tinha o nome dos Andrades. Eles realmente pareciam ser os donos da cidade.

Chegando no apartamento, minha prima se despediu  de mim ainda na porta.

Eu tenho que descansar, amanhã vou trabalhar, hoje estava de folga pelo luto... Mas, se precisar, sabe que estou no andar de cima.
Obrigada.  - digo isso e entro.

Minha tia e prima moravam um andar acima do nosso.

Tirei as sandálias dos pés e me sentei no sofá de 3 lugares da sala. Comecei a pensar no que a minha prima tinha dito mais cedo, sobre a surpresa que meus pais iam me fazer e a proposta de trabalhar e voltar a morar em plenitude. Era isso que eles queriam, que eu voltasse. Na verdade nunca quiseram que eu saísse. Fiquei presa em meus pensamentos. Quando dei por mim estava tocando a campainha da casa da minha tia. Minha prima abriu a porta e eu entrei. Fazia muitos anos que não entrava lá desde que saí.

Preciso de um favor seu. - falei.
Sim.
Preciso conversar com a diretora da escola. - falei sem rodeios. Minha prima fez uma cara de alegria e então falou.
Tudo bem. Posso te levar lá amanhã de manhã quando for pra biblioteca.
Está bem. Que horas você vai?
Saiu de casa às 8:00 horas. Te chamo, ou melhor,  tocou na campainha. - falou.
Está bem. - ao dizer isso saí pela porta que ainda estava aberta. Acho que a minha prima ficou tão chocada com as minhas palavras que se esqueceu de fechar a porta quando eu entrei.

Naquela noite, fiquei apreensiva. Minha tia me chamou pra jantar com elas mas eu não quis, queria ficar um pouco só, então elas não insistiram. Sabiam que eu precisava do meu período de luto. Passei a maior parte da noite em claro, pensando na loucura que iria fazer. Largar toda a minha vida na capital pra voltar pra plenitude para ensinar numa escola do interior, eu realmente não estava no meu juízo perfeito. Eu ensinava numa das melhores escolas de São Paulo, ganhava muito bem. Ensinar numa escola do interior não iria me dar o mesmo salário que eu ganhava, mas eu estava sozinha agora, tudo o que eu tinha como família era minha tia e minha prima que moravam em plenitude, sem falar no último desejo dos meus pais, que eu voltasse pra casa. Aquilo realmente mexeu comigo. Eu queria mostrar pra eles que estava de volta. Então estava decidida, iria conversar com a diretora e se tudo desse certo, voltaria para São Paulo, pediria demissão e voltaria de vez pra plenitude. Como os meus pais queriam.

A Professora Do Meu FilhoOnde histórias criam vida. Descubra agora