Para que serve a arte?
Quando una microscópica potência
anuncia o despropósito de tudo?
Para que serve,
se o amanhã se cobre da ameaça
de transformar toda existência em nada?
Contudo, o que seria da abstinência social,
por trás das grades do lar,
sem a força redentora da arte?
Era somente um presságio, um pesadelo coletivo,
na região subepidérmica do imaginário.
E como se estivesse imerso em absinto,
ouço em meu interior, dentro do meu abismo,
as preces infames que diria ao mundo inteiro,
e que somente as diria agora, porque não existirá,
(como nunca na verdade) existirá nada mais!
Aquecedores incendeiam as teias de minha cabeça,
uma vacina religiosa jura curar
todo o karma ocidental,
e eu estou matando Deus,
agora sim, para sempre,
destripando-lhe o bem e o mal
de seu maldito ventre de sonhos.
Plantando a crueldade da arte
na zona mais inóspita do planeta:
o coração humano.
Em tempos de pandemia
coexistem ética e estética.
O tempo presente é a própria inexistência
e viver ao máximo sua consequência.
Ah o apocalipse! extermínio da raça humana!
Porém, enterram-se, antes, as obras de arte
no túmulo mais alto e profundo do mundo.
E não se verá uma só lágrima correr pela face do cínico.
Eu vou chorar sua morte,
ajoelhado sobre poemas que jamais escrevi,
e aqueles que sim, serão arremessados ao silêncio de meu nome
do qual não serão lembrados, sequer, um!
Morre a arte perante a gente,
antes que a gente.
Não há tempos, só o looping do beat
substituindo a progressão mágica do saxofone.
Livros devem ser de ínfima duração,
não mais de uma temporada
(não mais no inferno) de maneira seguida.
E a poesia? Quem escreve poesia?
E para que serve?
Mas tudo está bem,
penso nas pessoas que amo,
(estão todos? Como saber?)
e penso, tudo estará bem...
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Paradoxo
ПоэзияHá um paradoxo no título de cada poema, está no conteúdo de suas linhas. "Paradoxo" é poesia que resiste em tempos de pandemia, reside no fato de estarmos mais distantes e mais perto do que nunca. Inclusive, as próprias palavras não são outra coisa...