Cruzam imagens em espirais,
turbilhão sem foco,
estalos contínuos, déjà vu,
notas de metal frio de um passarinho,
são o eco do eco do não vivido,
presentes num futuro de um passado infinito.
Acúmulo de cravos
sobre a memória de meus mortos
a culpa de um adeus sepultado
entre lábios fechados.
Carrego o anão na corcova
sempre em ascendente declínio,
e as vozes que gritam dos ossos aos sentidos.
É o retorno sem retorno,
o palpitar sem alívio, do feito,
do não feito, do arrependido.
Seriam as palavras correntes de areia
que nos atam à natureza da alma?
Pensamentos ouvidos,
linguagem muda que o espírito clama
uma vida já sem vida.
Desejo por um momento o esquecimento
que o tempo apague antigos sorrisos,
fantasmas que passam e não passam.
Enquanto isso, seguirei meu caminho,
empurrado pelos segundos, na marra
crendo em cada risada o deboche do mundo.
Como pode ser feliz uma pessoa
havendo sob sua existência
a eterna cama de tantos moribundos?
(ilustração: Diana Tavares)
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Paradoxo
PoetryHá um paradoxo no título de cada poema, está no conteúdo de suas linhas. "Paradoxo" é poesia que resiste em tempos de pandemia, reside no fato de estarmos mais distantes e mais perto do que nunca. Inclusive, as próprias palavras não são outra coisa...