Um amor como aqueles de cinema

5 0 0
                                    

Ser madrinha de casamento da Sabrina era muito mais legal do que eu imaginava. Comecei a usar algumas manhãs que antes serviam para alimentar meu vício por limpeza em pastas do Pinterest, vendo decorações, comidas, vestidos e fazendo todo o planejamento. Em menos de duas semanas já tinhamos planilhas prontas com os detalhes e orçamentos da festa. 

Sabrina havia conversado com os pais e conseguiu convencê-los a fazer uma pequena cerimônia em uma chácara, um evento que duraria um fim de semana regado a cerveja, pagode e churrasco. Eles não adoraram a ideia, mas nenhum brasileiro é louco o suficiente pra negar uma festa dessas de graça e ainda por cima com piscina inclusa no meio de Fevereiro.

Passamos os dias colocando o planejamento em prática e o mês pareceu durar um fim de semana quando me arrumava com Bia e Cissa no apartamento para o grande dia. Sabrina havia escolhido uma paleta de cores de por do sol para a festa, então escolhi um belo vestido longo de cetim rose. Os decotes na parte da frente e nas costas davam uma leveza, assim como a fenda profunda que mostrava uma corrente em camadas de cristais que iam até a metade da minha coxa. 

Prendi meu cabelo com uma trança por causa do calor e da praticidade, Bia foi com o cabelo colorido modelado com cachos abertos nas pontas e Cissa foi com o cabelo natural que sempre parecia profissionalmente finalizado apesar de tratá-lo com descaso.  Bia foi com um belo terninho de alfaiataria alaranjado com um body de renda por baixo e Cissa usou um vestido azul escuro no joelho com o tronco bordado até a altura do busto. Sem sombra de dúvidas, nós estávamos mais bonitas do que o comum.

— Precisamos ir agora se não vamos atrasar. — disse para as meninas, mas com consciência de que eu demorara mais. 

Peguei uma mala mediana que havia arrumado antes e coloquei no carro na garagem, Bia e Cissa levavam bolsas grandes, mas eu sempre fui a exagerada com roupas de viagem, era melhor estar preparada para qualquer evento. A playlist de viagem era sempre um problema, nunca havia um consenso. Eu gostava de ABBA, algumas divas pop, Bia gostava de rock pesado e Cissa de indie. No final, o consenso sempre estava nas músicas nostálgicas, nos clássicos de karaokê e nos hits do momento. Não era o ideal, mas era o melhor que conseguimos.

Depois de quase duas horas chegamos a um lindo terreno com três chalés, uma para a família da noiva, uma para a família do noivo e uma para os amigos. Uma tenda já estava sendo montada por uma equipe no gramado, assim como a iluminação e o som na área comum que ficava como uma ilha entre as três habitações. O espaço comportava até 50 pessoas confortavelmente e a decoração quase pronta deixava as coisas ainda mais belas.

Estacionamos de frente para o nosso chalé, desovamos nossas bolsas e fomos procurar Sabrina que estava sendo maquiada em uma casinha um pouco distante dos chalés. Tinha apenas dois quartos, um ocupada por ela e outra pelo seu noivo, que pela gritaria, estava comemorando com os amigos e outro que ficariam hospedados. Ela parecia calma, relaxada, muito diferente de quando me procurou pela primeira vez. 

— Talvez eu me case comigo, só pra me vestir de noiva e ficar tão bonita quanto você. — brinquei entrando no quarto.  Sabrina abriu os olhos e se levantou para me abraçar. Ela estava radiante.

— Esse vestido ficou lindo! — disse ela analisando cada detalhe. — Meninas, que bom que vocês vieram! Estão lindas!

Cissa e Bia agradeceram e depois de trocarem algumas palavras com Sabrina, voltaram para o chalé para arrumar nosso quarto, enquanto eu permaneci na sala da noiva. A maquiadora fez com que ela voltasse a cadeira e continuou contornando sua pálpebra com uma sombra marrom. 

— Como você está se sentindo? — perguntei.

— Um pouco ansiosa. — ela respondeu. — Não é todo dia que a gente se casa.

— Precisam de ajuda na arrumação? — disse levantando da cadeira ao lado dela, mas Sabrina segurou o meu braço.

— Na verdade, você pode ficar aqui comigo? — sua mão estava gelada, pelo visto ela não estava tão calma quanto eu imaginava. Concordei com a cabeça e fiquei ao lado dela. 

— Como você soube? — perguntei — Como você soube que ele era o cara?

— Quando ele me levou pra cama. — brincou rindo — Pra ser sincera, eu não sei. Essa certeza está comigo tem tanto tempo que nem me lembro de pensar que me casaria com qualquer outra pessoa. 

A informação não me ajudou muito, não que eu estivesse desesperada por amor, mas uma dica seria legal. 

— Com dúvidas sobre alguém? — sorriu ela enquanto a maquiadora retocava os olhos.

— Não, só curiosidade mesmo. — respondi, mas ela não pareceu acreditar — Vai dizer que eu estou mentindo agora?

— Eu não disse nada. 

— Nem precisou, sua cara já mostrou tudo. — rimos.

A mãe de Sabrina e algumas tias entraram na sala e com o tempo o lugar foi ficando cada vez mais cheio e, com isso, resolvi dar espaço para elas conversarem, com a permissão de Sabrina. Fui ao encontro de Bia e Cissa, que se maquiavam no banheiro de nosso quarto triplo e ficamos lá até o começo da cerimônia. 

Fiquei no altar ao lado da mãe e das tias de Sabrina enquanto esperava a entrada triunfal da noiva. Crescer com pais separados que não conseguem nem se olhar não é exatamente algo que te ajude a acreditar em relacionamentos, muito menos em almas gêmeas. Acredito que tudo é uma questão de ciclo, com mais ou menos tempo, todos os casais se separariam em algum ponto e, por isso, os votos de "até a morte nos separe" me fazia pensar se essas pessoas sabiam que algum dia elas poderiam se odiar com todo o seu ser. 

Uma música acústica começou a tocar e todos se levantaram para ver Sabrina aparecer no fim das cadeiras de braços dados com o pai. Ela vestia um delicado vestido branco com detalhes de flores que encostavam na grama a medida que seus pés descalços a levavam ao altar. Seus olhos brilhavam como estrelas e eu diria que nunca havia visto olhos tão apaixonados até mudar meu foco para o noivo. As lágrimas nos olhos dele escorriam até um sorriso puro, amoroso. Esse era o sorriso que eu imaginava quando lia sobre almas gêmeas que se reencontraram em outras vidas. Não era uma paixão ardente, algo incontrolável, era o conforto de quem depois de uma batalha, volta para casa e vê tudo o que deixou intocável. O amor deles era paz, não movimento, era uma certeza absoluta, não uma vontade momentânea. Aquilo era amor como eu achei que nunca poderia existir, era um aconchego que eu sabia que nunca teria. Eu nunca iria conhecer a sensação de plenitude dos olhos deles, não porque eu não poderia encontrar ninguém assim, mas porque, mesmo se eu encontrasse, eu era fogo, um furacão. Mesmo se eu quisesse ser essa estabilidade, essa harmonia, era como se minha natureza se negasse a ser lar para qualquer um, inclusive para mim.

A cerimônia não foi muito diferente das outras, o padre falou sobre comprometimento, respeito e responsabilidade, mas os votos não eram exatamente o que eu esperava. "Que seja eterno enquanto dure e que seja feliz eternamente". Essas foram as palavras proferidas antes que as alianças fossem colocadas. Eles sabiam que poderia não ser até a morte, sabiam que desse fato disso tudo poderia ruir e mesmo assim resolveram tentar. Não sei se isso me deixou mais tranquila ou mais confusa. Parte de mim não via porque casar se a relação deles já era ótima, mas outra esperança acendeu em mim de que, talvez, muito talvez, eles seriam genuinamente felizes juntos para sempre como nos filmes. 

Depois disso não vi mais nada da cerimônia, fiquei absorta em meus pensamentos apesar de saber que ninguém percebera. Eu queria me convencer de que tudo daria certo para eles, de que eles conseguiriam passar por todo e qualquer desafio sem soltarem a mão um do outro, queria acreditar que eles diriam "eu te amo" e que sempre fosse verdade. Não queria que nada acontecesse com eles, queria proteger aquele momento com todas as minhas forças. Eles mereciam que os votos deles fossem para sempre e, como madrinha, eu estava preparada a fazer tudo ao meu alcance para garantir isso. 

Que o mundo vá à merda e outras expressõesМесто, где живут истории. Откройте их для себя