- Vinho? - ele ofereceu - A massa tá quase pronta.


- O que temos aqui? - peguei a garrafa e girei para ler o rótulo - Malbec... sabe que eu não entendo nada de vinhos e harmonização?


- Eu também não, perguntei na adega o que eu podia servir com carbonara e me deram esse aí. Espero que seja bom - ele riu.


Servi as taças e estendi uma para ele, com uma das mãos ele segurou a taça que eu oferecia e com a outra puxou minha cintura em sua direção parando com o rosto a centímetros do meu. Fechei meus olhos e dei um suspiro longo, ouvi ele dar um pequeno risinho, ele sabia o efeito que causava em mim.


Bernardo tirou as duas taças das minhas mãos colocando-as no balcão, então me colocou sentada em uma das banquetas altas ficando entre minhas pernas, seus olhos negros eram aquele abismo novamente e eu queria me lançar no escuro, ele tocou minha bochecha com a ponta dos dedos e me deu beijo tão lento quanto intenso.


- É uma pena que não se deva comer a sobremesa antes do almoço. - ele disse com o rosto ainda colado ao meu.


- Eu não contaria para ninguém - provoquei.


Aquela foi a deixa que ele precisava, me puxou da banqueta e me guiou pelo braço até seu quarto que agora possuía uma cama à qual fui arremessada. Seu peso sobre mim e o perfume que ele exalava era tudo o que eu podia sentir. Beijos calorosos, respiração ofegante, mãos inquietas, gemidos e sussurros, tudo acontecendo ao mesmo tempo enquanto o quarto girava. Mesmo em cima dele eu sentia que ele tinha o controle sobre mim, não só porque suas mãos em meus quadris ditavam o ritmo, mas porque a paixão me colocava à disposição de suas vontades.


Eu quis dizer isso a ele só que apenas consegui olhar em seus olhos, aquelas pérolas negras me encaravam de volta e confessavam estarem sob meu poder também, cada centímetro dos nossos corpos revelavam que pertencíamos um ao outro. Já deitada ao seu lado completamente sem folego, fechei os olhos por alguns segundos, senti ele se mexer na cama e virei para encará-lo. Bernardo tinha um olhar apreensivo quando falou:


- Eu fui um idiota ontem te deixando lá no restaurante, me desculpa?


- O idiota é o Yago, não você. Mas a gente precisa conversar sobre ontem.


- Vem, eu vou terminar o almoço enquanto conversamos.


Caminhou até o guarda-roupa e vestiu uma samba-canção já se encaminhando até a cozinha, vesti minha roupa e o acompanhei. Voltei a me sentar em uma das banquetas sob o balcão, me lembrei do vinho e tomei um gole assistindo Bernardo retomar a preparação do prato. Ele voltou a ficar nervoso como no dia do nosso encontro, as mãos tremiam enquanto ralava o queijo em uma tigela.


- Eu não sei bem por onde começar - ele disse.


- Teu pai - sugeri mais ríspida do que gostaria.


- É, meu pai é um bom começo - ele me olhou e eu estendi a outra taça para ele. - Bom, ele realmente está preso... - tomou um gole do vinho - ainda não consegui provar a inocência dele.

Um Lugar para Nós DoisWhere stories live. Discover now