17 de Junho de 1986 (Terça-Feira)

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Acordei com o sol incrível que brilhava intensamente no céu da primavera quase verão mexicano. Esquecera-me de fechar as cortinas, mas fora uma boa decisão, pois assim não mandriava na cama e eu gostava bastante de dormir.

Olhei desconsolada para as minhas roupas. Não tinha mais nada que vestir e depois do duche voltei a sentir-me suja. Provavelmente devia regressar a casa, mesmo que ficasse sozinha no apartamento. A minha tia, organizada como era, ter-me-ia deixado um apontamento com tudo o que podia fazer na Cidade do México, a começar pela visita a museus e a terminar nos inevitáveis jogos de futebol. Tudo esquematizado e podia vestir roupa limpa.

Bateram à porta e fui abrir, no meu novo andar aos saltinhos. Era Jacques Blanche. Deu-me os bons-dias, perguntou-me como estava... aquela conversa fiada habitual. Depois entregou-me uma blusa, uns calções, duas t-shirts. Faziam parte do equipamento da Bélgica, tinham os símbolos e as cores da federação, mas pelo menos já teria outra roupa para vestir. Senti-me ainda mais imunda e corei envergonhada. A seguir, Jacques anunciou:

– Vamos às compras.

Pareceu-me contrariado.

– Às compras? – admirei-me.

– Sim. O Pfaff... o Jean-Marie disse-me para te levar às compras. Não ouviste ontem à tarde? Pois deves ter ouvido, mas não deves ter compreendido. Vais comprar roupa a teu gosto, podes até ir ao salão de beleza.

– Onde é que ele está?

– Está nos treinos. Não te pode acompanhar. À tarde também vai estar ocupado. Se quiseres... podes ir passear à cidade. Chama-se um táxi e vais conhecer Puebla. Ou até podes regressar à Cidade do México. És livre para ires onde quiseres, lembra-te.

– O Jean-Marie disse-me que podia ficar.

– Está bem, então ficas! – disse ele impaciente. – Vestes isso, levo-te à boutique do hotel para comprares um vestido. A seguir podes ir cortar o cabelo ou o que quiseres no salão de beleza. Depois almoças e vais passear. O que achas do programa para hoje?

– Acho ótimo. Posso também arranjar os óculos? Ficaram tortos com a minha queda.

– Podes, claro que podes – suspirou o homem. – Podes tudo. Agora és o nosso talismã, segundo as últimas notícias.

– Como?

– Eu espero cá fora. Podes deixar a tua roupa no saco da lavandaria, depois vão devolver-ta já lavada.

Vesti uma t-shirt escura e uns calções vermelhos e achei-me ridícula. Se ouvisse o apito de um árbitro estava pronta para ir jogar futebol. Mas era isso ou continuar a usar roupas amarrotadas e fedorentas. Fechei os olhos e enchi-me de autoconfiança. Se iriam rir-se de mim, resolvi-me a ignorar piadinhas e outras coisas semelhantes.

Na loja do hotel comprei um vestido, uns calções mais femininos, duas blusas de manga curta floridas e bastante garridas. O Jacques disse-me que escolhesse o que quisesse e ainda acrescentei roupa interior. Precisava urgentemente de cuecas! E de sutiãs. Ah, fui ousada e comprei um fato-de-banho, pois queria ir experimentar a piscina. Acrescentei um par de sandálias e um pijama mimoso. Também comprei uma mochila, iria precisar dela para guardar as minhas coisas quando saísse dali para a capital.

Finda essa etapa, Jacques pediu-me para ver o tornozelo. Estava tudo bem de acordo com a sua observação e deixou-me no salão de beleza. Enquanto tratava do cabelo levaram-me os óculos, pois garantiram-me que conseguiam corrigir as armações. Passei umas boas duas horas no salão. Aproveitei para fazer a depilação, arranjei as sobrancelhas e as unhas, pés e mãos (mas não as pintei, só ficaram com uma camada protetora de verniz transparente). Quando saí sentia-me uma princesa. Corri para o quarto e pus o vestido, que era amarelo e verde. Excelente para apoiar o Brasil! Rodopiei a saia várias vezes diante do espelho, em bicos de pés, e fiz poses para fotografias imaginárias.

Sonho de VerãoWhere stories live. Discover now