Mecanismo I - Medo | Capítulo 01 - Rebeca

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Mecanismo I - Negação

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Mecanismo I - Negação

Ato ou efeito de negar uma situação ou sentimentos. Às vezes, ambos.


Capítulo 01

Rebeca

Corro para o banheiro que fica de frente à sala dos professores. Geralmente, é o único que tem papel higiênico em todo o prédio da Letras. Me escondo na cabine da direita e leio os comentários na parede, tentando me acalmar. Nem aqueles sobre sexo oral me fazem rir — como de costume.

Tento equilibrar a alça da mochila na fechadura. Tiro o celular lá de dentro e reparo que minhas mãos estão tremendo. Nossa, já faz muito tempo que isso não acontecia. Droga de ansiedade.

Leio de novo as mensagens no WhatsApp que me causaram tanto medo:


Mãe: Vamos conversar hj por chamada

Mãe: Importante

Mãe: Depois que você chegar da UFMG

Rebeca: Oq rolou????

Rebeca: Tá tudo bem?

Mãe: Tudo bem


Eu nunca vou entender porque as pessoas fazem isso. Se tem algo a dizer, só diga. É tortura fazer uma ansiosa esperar. Mãe, você me conhece melhor do que isso. Mas eu também a conheço, e já presumo o que vem adiante: os problemas financeiros da empresa. Mordo a unha do dedão até as lascas de esmalte preto grudarem no dente.

Me sinto tentada a abrir a mochila e engolir um calmante, embora tenha prometido a mim mesma que iria moderar. Só em situações super críticas. E essa... ainda não é. Aproveito a visita ao banheiro e encaro minha imagem no espelho quadrado. Será que eu sempre pareço tão cansada assim? Pego o gloss na mochila e passo uma camada fina. Batons matte são a nova moda, mas eu me recuso. Sou do time do gloss e do brilho labial. Sempre serei. Reparo em uma espinha no nariz e me pergunto se as pessoas percebem o quão abertas as minhas narinas são.

— Sim — aquela vozinha irritante responde dentro da minha cabeça.

Volto para a sala com passos desanimados. Odeio as aulas de linguística aplicada. A faculdade devia entender que há uma diferença entre as pessoas da linguística e as da literatura. E eu, claramente, prefiro a última opção.

Rabisco alguns poemas na última folha do meu caderno do ursinho Pooh até que a professora nos diz que vai entregar as provas (que fizemos há mais de um mês!). Droga. Logo hoje.

Infelizmente, meu nome começa com R. Sempre sou uma das últimas na chamada. Quando ela finalmente grita meu nome, levanto da cadeira com tanta pressa que deixo meu celular cair. Me baixo sem nenhum cuidado e tenho quase certeza de que o pessoal lá de trás viu minha calcinha (nota mental: parar de usar vestidos na faculdade — jeans é sempre a escolha certa). Vou apressada até a mesa e ela me entrega a prova. Vejo muita pena em seus olhos.

Os Mecanismos de Defesa do Coração [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora