Telefone escroto da mulesta

1.5K 155 137
                                    

...

- TELEFONE ESCROTO DA MULESTA – Juliette gritou sem conseguir se controlar – O QUE É, INFERNO??? – gritou novamente, mas o fez antes de atender – alô – controlou o tom de voz.

Sarah afastou o corpo para trás, mas não se levantou da poltrona. Apenas tirou o próprio celular do bolso e começou a olhar para a tela de forma distraída.

- Ju, só pra avisar que teu voo sai às 7 da manhã, cuidado pra não atrasar – a assessora reforçou do outro lado da linha.

- Sério? – Juliette perguntou, um tom de incredulidade na voz – tu já tinha me passado isso e já tô com o localizador no celular, não precisava ter ligado.

- Eitcha, eu atrapalhei algo – a assessora (e amiga) constatou.

- Desculpa – Juliette falou sinceramente – não vou atrasar pro voo, prometo. Obrigada por ligar.

Juliette empurrou o botãozinho para colocar o celular no silencioso e o jogou suavemente no chão que era coberto por um enorme e fofo tapete. Ela olhou para Sarah com o olhar cheio de dúvidas. Elas poderiam continuar de onde tinham parado? Ou Sarah teria mudado de ideia? Será que Sarah realmente tinha se dado conta do que quase tinha acontecido?

Juliette esperou. Viu suas dúvidas refletidas nas reações do corpo de Sarah. Ela mexia no celular sem prestar realmente atenção, seu olhar se movia da tela, para Juliette, para a varanda e logo para a porta do quarto, como se estivesse pensando qual seria a maneira mais fácil e rápida para fugir dali e de tudo que estava sentindo.

- Eu achei que tava rolando algo – Juliette falou, ela sempre falava, era a única maneira que conhecia para lidar com as coisas – na festa de Karol, achei que a gente tava tendo uma troca... nesse sentido de troca – ela meio que apontou de uma para a outra, tentando demonstrar que algo físico, uma atração, tinha sido construída entre elas.

- Eu – Sarah começou depois de uns instantes de silêncio – eu nunca fiquei com uma mulher antes. Pelo menos não conscientemente. Mas naqueles dias, eu cogitei essa possibilidade.

- Cogitou? – Juliette piscou os olhos algumas vezes para garantir que não estava alucinando.

Sarah desviou seu olhar do de Juliette. Ela estava com medo.

- Eu acho que eu preciso ir – verbalizou a brasiliense.

- Ir? – Juliette questionou em um tom sussurrado. Como assim Sarah ia escapulir depois daquela confissão?

- É, meus avós, eles estão me esperando – Sarah mentiu – eu preciso... eu preciso ir.

A loira levantou bem rápido e se dirigiu até a porta. Juliette disparou atrás dela. Ela tinha ouvido o que queria e precisava ouvir. Ela não queria sozinha. Não era unilateral. Nem que tivesse sido apenas por um momento, Sarah tinha cogitado a possibilidade naquela festa, e tinha cogitado a possibilidade novamente agora, ou não teria chegado tão perto de beijá-la.

- Sarah – Juliette chamou enquanto caminhava rapidamente ao encalço de Sarah pelo corretor do hotel – oxente, vai fugir de mim, mulher? – questionou quando chegaram próximo ao elevador.

Sarah permaneceu de costas, sem saber o que fazer. Apertou o botão para chamar o elevador, se lembrou que estava sem máscara e sua mente formulou um palavrão que ela não verbalizou.

- Sarah – Juliette voltou a chamar, tomando-a pelo braço – se você não quer, se mudou de ideia, eu não vou pressionar, a gente esquece o que falou.

- Eu – Sarah virou brevemente para olhá-la nos olhos – eu espero que a gente se veja de novo em breve, mas realmente preciso ir.

Juliette balançou a cabeça em negação. Não era possível que aquela conversa ia acabar assim. Elas tinham conversado, tinham se perdoado, tinham se aberto como nunca antes. A ideia de que Sarah tinha cogitado a possibilidade de ficar com ela tinha lhe dado mais esperanças do que a paraibana gostaria de admitir. Ela observou Sarah entrar no elevador.

- Depois tu vai querer voltar e eu não vou querer mais – Ju disparou, desafiando.

Juliette não esperou a porta do elevador se fechar, deu meia volta e se dirigiu ao quarto. Se era assim que Sarah queria que acabasse, pois bem, acabaria assim.

Sarah desceu andar após andar com sua cabeça repassando momentos e palavras trocadas com Juliette. O mais nítido era o dos rostos delas perigosamente próximos. Se não fosse pelo celular tocando, Sarah tinha certeza que teria acontecido, ela estava pronta, ela queria tanto. O que havia mudado no curto espaço de tempo da ligação que Juliette recebera? A brasiliense tinha se descoberto uma covarde, isso era o que tinha acontecido. Ela era uma frouxa que não tinha coragem de agir de acordo com as próprias vontades. Quem havia dito a ela que tinha algo errado em querer outra mulher? Se perguntava.

- Inferno – ela maldisse em voz alta e viu o elevador parar no térreo.

Enquanto as portas se abriram, ela remexeu na bolsa em busca de seu pacote de máscaras descartáveis, maldisse novamente por andar com uma bolsa tão grande e com tanta coisa inútil dentro e acabou encontrando o celular que ela sequer lembrava de ter jogado de volta na bolsa, estava virado com a tela para cima e um pop-up de umas mensagens de Gil chamaram sua atenção. Ela desbloqueou a tela para lê-las.

Cadê? Já conversaram? Já se acertou com ela?

Mulher, me dê notícia que eu tô pra ter um passamento. Sei que ela quer se resolver contigo, ela só é teimosa. E sei que tu quer também.

Sei inclusive que tu quer é mais coisa, Sarah. Avia, bicha, se permite.

Sarah suspirou. O que diabos ela estava pensando? Podia até fugir de Juliette, mas a vontade permaneceria dentro dela. E aquela vontade era tão latente que deixava o corpo de Sarah trêmulo. Ela queria voltar lá em cima, queria disparar até o quarto, derrubar a porta, agarrar Juliette pelos cabelos e beijá-la até que ambas ficassem sem ar. Era isso que ela queria. E a loira sabia que se não cedesse ao que estava sentindo naquele momento, provavelmente não teria outra oportunidade. Ela já tinha desapontado Juliette uma vez e sabia como era difícil reconquistá-la.

A brasiliense agradeceu a Deus em silêncio porque ninguém apareceu na porta do elevador. Pressionou o botão do último andar e começou a rezar para que Juliette ao menos topasse abrir a porta para ela.

- Serviço de quarto – ela falou de forma atropelada, foi a única coisa que lhe ocorreu em lugar de dizer "ei, é Sarah aqui fora".

...

Render-se (sariette)Kde žijí příběhy. Začni objevovat