Eu tô aqui. O que a gente faz?

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...

Sarah acordou às nove da manhã. Seu sono já estava mais ou menos regulado após quase dois meses fora da casa mais vigiada do Brasil. Abriu a tela do celular e deu de cara com as notificações de que Gil havia adicionado ela e Juliette a um grupo chamado bando de bestas e que tinha deixado uma mensagem para elas lá.

A brasiliense respirou profundamente três vezes antes de abrir o grupo. Juliette ainda não tinha acessado, aparentemente. Ou se tinha, tinha ignorado com sucesso o apelo de Gilberto. A loira teve vontade de chorar com essa segunda possibilidade. Ela tinha errado, sabia que tinha errado, queria pedir desculpas, sabia que não deveria ter tentado começar o contato por mensagem como se fosse uma coisa qualquer, mas Juliette também era muito difícil! Custava ela ter dito que não queria conversar por mensagem? Ter mandado Sarah ligar? Ter exigido que a loira fizesse um teste SWAB de COVID e ido visitá-la para que elas conversassem? Ela teria ido! Mas em vez disso Juliette tinha lhe dado um belo block que a tinha magoado muito.

Sarah bloqueou a tela do celular e ficou de olhos fechados, ainda deitada na cama, por incontáveis minutos, pensando no que poderia escrever que convenceria Juliette a dar uma chance para a conversa que elas precisavam ter. Pensou, pensou e pensou e decidiu que a palavra desculpa não tinha que entrar naquela mensagem, ela só queria que Juliette cedesse e se rendesse, ela queria a oportunidade e não estava pronta para desistir de ter uma segunda chance com a paraibana.

Ela desbloqueou a tela e digitou rapidamente no grupo:

Ju, eu não vou sair do grupo, eu não vou desistir. Eu só quero uma nova chance com você. No seu tempo, nos seus termos. Por favor.

...

Sarah voltou a olhar o celular umas três ou quatro vezes na hora seguinte e só não surtou de ansiedade porque olhou as informações da mensagem e percebeu que só constava que tinha sido enviada, ainda não entregue, ainda não lida.

Juliette acordou no quarto de hotel em que estava hospedada no Rio enquanto Sarah estava almoçando com a mãe em Brasília. Ela ignorou o celular por completo por quase uma hora, durante a qual levantou, escovou os dentes, tomou banhou, penteou os cabelos e colocou uma roupa leve para curtir seu primeiro dia de folga depois de quinze dias fora da casa do Big Brother Brasil.

Quando deitou novamente na cama, com uma maçã na mão, ela agarrou o celular e desbloqueou a tela para ver o que tinha de novo. Havia uma quantidade enorme de notificações no Instagram, Twitter, Gmail e WhatsApp, mas os olhos dela pareceram agir como se possuíssem um filtro para o que realmente importava. A notificação do grupo criado por Gilberto e das mensagens deixadas por ele e por Sarah foram as que chamaram sua atenção e ela abriu o grupo sem demora.

Juliette fechou a cara ao ver o nome do grupo, mas não conseguiu evitar sorrir ao ler a mensagem de Gilberto dizendo que a mãe dele iria bater nelas se não se acertassem logo. Altos e baixos, eles tiveram muitos, mas Juliette ainda ficava boba só de lembrar que ela tinha tido a oportunidade de cruzar com Gil e dividir aquela experiência com ele. E também com Sarah.

A mensagem de Sarah fez os olhos de Juliette marejarem. Ela não queria ser tão dura. Mas estava ferida. Estava machucada porque Gil tinha sido insistente e falado com ela olho no olho durante todos os dias lá no programa após o rompimento dos dois. Como Sarah podia achar que tentar um contato por mensagem resolveria os problemas delas?

Mas Sarah não tinha permanecido na casa para conversar com ela, não tinha tido essa chance, o racional de Juliette lhe lembrava. Mas Sarah podia ter conversado antes, antes da eliminação, na noite de formação do paredão ou após o jogo da discórdia, o coração de Juliette a lembrou.

A frase de Sarah ainda ressoava em seus ouvidos: eu não me importo mais. Parecia um zumbido incômodo em seus ouvidos. Juliette queria chorar cada vez que lembrava, porque ao contrário de Sarah, ela se importava muito, se importava tanto que doía. E Juliette sabia que iria ceder se elas conversassem, sabia que se Sarah falasse com ela, independente do teor da conversa e das desculpas que ela lhe daria, Ju perdoaria, porque tudo que ela mais queria era perdoar e tentar voltar à relação que elas tinham antes.

Ela sentia falta do abraço de Sarah, das conversas bobas que tinham, de como a loira falava com ela com voz de bebê e ela amava, só não amava mais do que ouvi-la falar sério com a voz rouca que a tinha atraído desde o primeiro momento que elas conversaram na casa.

Juliette sabia que tinha mais em seu medo de conversar e perdoar Sarah. Era confortável em certa medida manter-se distante dela, porque ao mesmo tempo que queria muito tê-la de volta em sua vida, a ideia disso a aterrorizava. Ela sabia que não conseguiria mais fazer de conta. Elas estavam aqui fora agora, sem câmeras, elas poderiam conversar a sós, poderiam se abraçar sem ninguém espiando, nem no mesmo ambiente que elas, nem a partir de câmeras. Elas podiam ser só as duas agora. Duas mulheres, duas amigas.

Juliette a queria. Havia admitido para si mesma ainda dentro do reality. Sabia que se Sarah tivesse dado qualquer brecha, ela teria investido nisso lá dentro mesmo, ela não tinha medo, não mais, não depois de 31 anos de desconstrução e reconstrução, de ganhos e de perdas, de aprender que a vida é um sopro e que, na verdade, a gente só tem mesmo o hoje. Mas Sarah era hétero. Sarah é hétero, Juliette lembrou a si mesma, ela não me vê desse jeito.

Juliette respirou profundamente e voltou a olhar a mensagem de Sarah no grupo. Aparentemente a loira estava se contradizendo. Ela se importava. E isso ao mesmo tempo que confortava também machucava Juliette. Mas ela tinha de admitir que ler Sarah dizer que não ia arredar o pé e que não ia desistir, tinha amolecido bastante o seu coração. A deixou até disposta a sair de seu refúgio fora do alcance de Sarah, mesmo que isso significasse que Juliette teria que enterrar os próprios sentimentos e aceitar as desculpas e a amizade que a brasiliense tinha para dar a ela. Uma amizade e nada além disso.

Juliette respirou mais uma vez e aceitou que queria a amizade de Sarah de volta, mesmo que ficasse só nisso e que ela aprenderia a lidar com os próprios sentimentos com o tempo. Ela acessou o contato de Sarah e desfez o block antes de responder à mensagem do grupo.

Eu tô aqui. Mas não quero conversar por mensagem. O que a gente faz?

...

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