Malevidya

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Esqueça tudo o que lhe disse sobre ser difícil de acreditar que estava sonhando. Não tinha como eu não estar sonhando.

Não acredita em mim? Bem, talvez você acredite se eu lhe disser que estava literalmente estendendo e respirando no meio do espaço!

A sensação de estar em suspensão continuava, assim como a pressão que aos poucos me esmagava. Assim como o profundo silêncio que, ao mesmo tempo que me acalmava e trazia um estranho conforto, me inquietava por dentro.

Aquele lugar era uma mistura desorganizada de opostos, como se o caos tentasse controlar a si mesmo. Eu era apenas mais uma tola, assim como muitas antes de mim, admirando estática a beleza que me consumiria.

— Esse está sendo o sonho mais esquisito da minha vida — murmurei, os olhos ainda fixos nas galáxias se movendo e brilhando em cores neon.

— Sonho? — Lisa perguntou ao meu lado, confusa, antes de entender o que eu quis dizer e me encarar desacreditada. — Você não está sonhando, posso te garantir isso. — a encarei confusa. Será que ela estava falando a verdade? Afinal, sonhos não deveriam ter consciência de que não eram reais, não é? — Garota, por acaso eu pareço com um sonho?!

— Sim... — respondi, ainda presa

em pensamentos.

— ...bem, errada você não está. — disse Lisa com um olhar presunçoso, fazendo com que Leo abaixasse o rosto, em uma tentativa frustrada de esconder o riso, e Ciel murmurasse um "Cale a boca".

— Não... Que? — perguntei confusa, aos poucos percebendo o que acabara de dizer. — Espera, eu não quis dizer isso nesse sentido!! Eu...

— Não temos tempo para isso, — interrompeu Ciel — precisamos sair logo daqui. Coloque o manto e cubra seu rosto com o capuz.

Só então percebi o manto ainda abarrotado em minha mão. Me apressei a colocá-lo, seguindo-os a passos lentos e puxava o capuz, apenas deixando minha boca e a ponta do meu nariz visíveis.

— Essa capa é estranha... Era para ela fazer isso? — perguntei quando percebi que, assim que o manto me cobriu, o entorpecimento e a pressão sobre mim diminuíram.

— Sim, mas não vai durar por muito tempo. Temos que nos apressar. — falou o garoto de cabelos castanhos, agora cobertos por um capuz igual ao meu, indo atrás de Ciel e Lisa.

Enquanto andávamos, as estrelas e galáxias se afastavam para os lados. A escuridão se distorcia para levá-las para longe de nós, com a exceção de uma única galáxia iluminada por um brilho turquesa. Era em direção a ela que seguíamos. Quando estávamos em frente a ela, observei-os dar um passo para frente, logo em cima da galáxia, e em seguida desaparecerem.

Mesmo com medo, segui seu exemplo. Fechei os olhos, dando um passo em direção a ela.

Assim que os abri, minha visão foi preenchida pelo céu noturno e por uma gigantesca e movimentada praça. Olhei em volta, mesmo que não conseguisse processar nada do que via, até que uma mão me puxou para dentro da escuridão de um beco.

— Está chamando muita atenção... — disse Leo, me puxando para trás de si enquanto observava a praça de dentro do beco. — Me siga. — encostou em meu ombro, passando por mim e sumindo no mar de pessoas em questão de segundos.

[...]

— Que lugar é esse? — perguntei, assim que consegui alcançá-lo.

Já tinha dado a volta na praça inteira quando o encontrei, recostado em uma pequena barraca de especiarias, em uma parte mais calma e afastada do centro. Cada uma das dezenas de temperos de cores e texturas diferentes exalavam uma mistura de aromas adocicados e apimentados, fazendo meus olhos lacrimejarem quando me aproximei.

Sonhando AcordadoWhere stories live. Discover now