Véu

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— Tudo bem aí?

Abaixei o livro em meu colo, arregalando os olhos ao som da voz e me virando no sofá para ver quem me chamava. Mesmo que tivesse passado a noite em claro, não conseguira pensar em um jeito de convencê-los me levar. "Na hora eu improviso alguma coisa", tinha pensado, enquanto pegava um dos livros na pilha em meu quarto para me distrair.

— Sim, por que? — perguntei, sentindo o sofá afundar quando Lisa se sentou ao meu lado.

— Que livro é esse? — falou, mais preocupada em encontrar uma posição confortável para se sentar do que em me responder.

— "A história da criação de feitiços a partir do século IX" — ela parou de se mexer e voltou os olhos para a capa do livro. — Algum problema?

— Não... problema nenhum. Onde encontrou ele? — perguntou, desviando o olhar da capa ilustrada com uma velha pintura.

— Estava entre os livros no meu quarto. Não pensei que gostassem tanto de fantasia. — ela acenou com um olhar distante, se levantando do sofá.

— Os livros não são nossos, Aku é quem traz para a gente a maior parte deles. Só... toma cuidado. Não leva tudo ao pé da letra. — disse, suspirando e voltando a sua frustrante batalha contra o sofá. "Como alguém pode ter tanta dificuldade em se sentar?"

Observei em silêncio quando se levantou após alguns minutos e foi até a cozinha pegar um pouco de café. Voltou para a sala com uma caneca fumegante, bebendo tudo em um gole antes de continuar.

— Fiquei de te avisar de que vamos sair de novo hoje à tarde. Pode ser que a gente demore um pouco mais para voltar do que da última vez.

— E aonde vamos? — perguntei, deixando o livro de lado. Aquilo certamente era uma surpresa, nem precisara pedir.

— Como assim? — respondeu Lisa, me olhando confusa. — Com "a gente" quero dizer eu, Ciel e Leo. Você fica.

— Por que? Eu posso ajudar. — me levantei do sofá, vendo-a soltar um baixo suspiro cansado.

— Você nem sabe como as coisas funcionam. Te levar iria atrapalhar mais do que ajudar.

— Bem, não é responsabilidade de vocês me ensinarem então? — reclamei, me aproximando e gesticulando com o livro ainda em mãos. — Se vocês me levassem junto, eu poderia aprender como elas funcionam.

— Não cabe só a mim decidir. — falou, emoção sendo aos poucos drenada de sua voz.

— Aonde vão dessa vez? — insisti, vendo-a olhar para mim por um segundo. Foi quase imperceptível, mas o suficiente para me encorajar a pressioná-la mais. — E nem tente desviar do assunto igual a ontem.

— A gente não desviou... — "Eles devem achar que eu sou realmente idiota", pensei ao encará-la com raiva, fazendo-a desviar o olhar mais uma vez e e estalar os dedos de sua mão esquerda ao lado de seu corpo. — Vamos buscar mantimentos. — disse, a voz mais baixa que o normal.

— Pare de mentir.

— Não estou mentindo! — falou, sua voz não passava de um sussurro. — Escuta, vamos só reabastecer a casa. Pode ser que no caminho a gente encontre algumas respostas, mas se isso acontecer, eu te conto tudo quando voltarmos. Não é nada com que precise se preocupar.

— Por que vocês continuam dizendo isso? — perguntei irritada.

— "Isso" o que? — retrucou, confusa.

— "Não se preocupe", "confie em mim". Por que deveria? Nem mesmo os conheço! — respirei fundo, deixando o livro na mesa ao lado do sofá. Se as coisas ficassem feias, não seria bom ter uma arma em potencial na minha mão. — Vocês confiam em mim?

Sonhando AcordadoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora