Segredos

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Passei o resto do dia sozinha. Depois que Lisa, Leo e Ciel saíram, me vi pensando no que faria. Estava em uma casa que eu não conhecia, com pessoas no mínimo estranhas, para não dizer suspeitas, no meio de lugar nenhum.

Quando terminei de comer, me levantei e entrei no "meu" quarto, fechando a porta atrás de mim. Não tinha percebido quando acordei, mas tanto o cajado, quanto o livro e a capa estavam encostados em um canto perto da janela. Melhor assim, não teria o trabalho de procurar quando fosse embora.

Indo em direção à escrivaninha, comecei a pegar os livros empilhados ao lado. Títulos como "Lendas e contos de Sallor", "A revolução deanroniana do século XIV" e "1001 usos das lágrimas de ninfas" se espalhavam pelo quarto enquanto eu folheava cada um deles. Eram todos livros de fantasia. Ilustravam mundos e universos imaginários, povos e raças desconhecidas e histórias sobre seres místicos atormentando países e reinos com nomes impronunciáveis. Cada uma mais fantástica e absurda que a outra, e isso me fascinava de uma maneira que não sabia explicar.

Separando alguns dos títulos que mais me chamavam a atenção, me voltei em direção à escrivaninha, sem me dar ao trabalho de reorganizar os livros que ainda se espalhavam desorganizadamente no chão.

Abrindo a gaveta na parte de baixo, me deparei com folhas e uma antiga caneta tinteira. "Quem ainda usa caneta tinteiro?" pensei. Balancei a cabeça tentando manter o foco, colocando os papéis na mesa e comecei a anotar tudo o que já sabia.

O deserto se chama Mealladh, e qualquer um que entra nele dificilmente conseguirá sair.

Não dá para tirar essa corda do meu braço, e ela faz com que eu sinta frio correndo por minhas veias.

O livro está em branco.

Aku não parece confiável.

A corda negra e o livro pareceram assustar Aku

Aparentemente, Ciel é um idiota iludido por Aku

Lisa parece ser legal, mas ainda tenho que a conhecer melhor.

Não sei nada sobre Leo.

Fiquei surpresa quando me peguei pensando em como conhecê-los melhor. Eu com certeza não tinha a intenção de ficar naquela casa tempo o suficiente para me afeiçoar a eles. Iria encontrar uma maneira de voltar para casa. De acordar, me corrigi. Estava ficando cada vez mais difícil de manter em mente que era tudo um sonho.

Me espreguicei sobre a cadeira e larguei a caneta em cima dos papéis. Aquilo não estava ajudando. Me levantei e andei até o corredor que se estendia além do meu quarto.

Em direção às três portas dispostas em fila.

A primeira porta dava para o quarto mais bagunçado que já tivera o desprazer de encontrar. Roupas usadas e livros se juntavam em montes pelo chão, obrigando-me a atravessar o quarto como se estivesse caminhando em pleno campo minado. O cheiro vindo das peças usadas chegava a me atordoar, acabando por me fazer tapar o nariz. A cama perto da porta tinha a fronha enrolada em um canto, e sobre a grande escrivaninha disposta em frente a janela de persianas descansavam mais dúzias de livros, todos com suas bordas praticamente cobertas de anotações. Ao passar por uma longa capa marrom jogada em um canto mais distante do quarto, reconheci aquele quarto como o de Leo.

Pegando um dos livros abertos no canto da escrivaninha, percebi que se em sua maioria se tratavam de livros sobre herbologia e anatomia, porém, quando tentei ler as anotações que o dono do livro escrevera, me deparei com uma letra praticamente ilegível. Percebendo que não tinham muito mais coisas para descobrir naquele quarto, deixei o livro aberto como o encontrara em cima da escrivaninha e segui para o próximo.

Sonhando AcordadoWhere stories live. Discover now