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Nããããão! O mundo virou um redemoinho violento de cores: verde, vermelho e aquele azul perigoso.

-Você disse... - Chaeyoung fraquejou. - Com certeza não disse Cap...

Isso foi o máximo que ela conseguiu. Sua língua desistiu. E então os joelhos cederam. Ela não desmaiou, nem desabou. Chaeyoung apenas caiu sentada. O traseiro dela bateu no divã e o ar foi expulso de seus pulmões.

- Oh!

A corena a encarou, parecendo estar se divertindo.

- Você está bem?

-Não - ela respondeu com sinceridade. -Estou vendo coisas. Isso não pode estar acontecendo.

Aquilo não pode estar acontecendo. Não de verdade. A capitã Kim Jisoo não podia estar viva. Mas ela também não podia estar morta. Ela não existia. Fazia quase uma década que todo mundo primeiro acreditou que ela esperava por Kim, e depois sofria o luta por ela... aquela mulher que não era nada além de ficção. Chaeyoung tinha passado inúmeras tardes lhe escrevendo cartas  missivas que foram, na verdade, apenas páginas de bobagens ou desenhos de lagartas e lesma. Ela se recusou a frequentar festas e bailes citando sua devoção a heróina das Terras Altas de seus sonhos mas na verdade tinha preferido ficar em casa com um livro.

Seu padrinho, o conde de Lynforth, tinha lhe deixado o Castelo de lannair em seu testamento, para que ela pudesse ficar mais perto da terra de sua amada. Foi muita consideração do querido padrinho. E quando a fraude começou a pensar na consequência, Chaeyoung deu a sua oficial uma morte honrada, corajosa e completamente ficcional. Ela vestiu preto por um ano inteiro, depois cinza. Todos acreditaram que Chaeyoung estava inconsolável, mas preto e cinza combinavam com ela. Escondiam os borrões de tinta de carvão que seu trabalho produzia.

Graças a capitã kim jisoo, Chaeyoung tinha lar, renda e um trabalho de que gostava sem nenhuma pressão para progredir dentro da sociedade londrinas. Ela nunca teve a intenção de enganar a família durante tantos anos, mas ninguém tinha sido prejudicado. Tudo parecia ter funcionado muito bem. Até aquele momento... Quando algo deu terrivelmente errado.

Chaeyoung levantou a cabeça devagar, abrigando-se a olhar para a mulher das Terras Altas que tinha se sentado ao seu lado. O coração dela martelava dentro do peito. Mas se capitã Kim Jisoo não existia, quem era aquela mulher? E o que a capitã queria com ela?

- Você não é real.- Ela fechou um pouco os olhos e se beliscou, esperando acordar daquele pesadelo tenebroso.      - Você. Não. É. Real.

Tia irene levou a mão no pescoço. Com a outra ela se abanou com vigor.

- Só pode ser um milagre. E pensar que nos disseram você tinha...

- Morrido? - A oficial não tirou os olhos dos de Chaeyoung. Um toque de ironia aguçou a voz dela. - Não estou morta. Toque-me e veja você mesma.

Tocar? Ah, não. Tocar aquela mulher estava fora de cogitação. Não haveria nenhum toque. Mas antes que Chaeyoung percebesse o que estava acontecendo, a capitã pegou a mão dela, que estava sem luva, e a levou até seu casaco desabotoado, encostando-a em seu peito. Elas estavam se tocando. Intimidamente.
Um arrepio estúpido e instintivo a percorreu. Ela nunca tinha dado a mão para nenhuma mulher que não fosse de sua família. A curiosidade falou mais alto que suas objeções. A mão da capitã  era grande e forte. Ásperas por causa dos calos, marcada com cicatrizes e queimaduras de pólvora.
Aquelas marcas revelavam que a vida  dela tinha sido de batalhas e lutas, assim como os dedos pálidos e manchados de tinta contavam que vida de Chaeyoung era rabiscar...
Uma vida sem nenhuma aventura.
Ela pressionou toda a palma dela contra o tecido puído da camisa.

- Não sou nenhum fantasma, mo chridhe. Só uma mulher. De carne e osso. Mo chridhe. Ela ficava usando essas palavras... Chaeyoung não era fluente em gaélico, mas ao longo dos anos ela aprendeu algumas palavras aqui e ali. Ela sabia que mo chridhe significava "meu coração".

As palavras eram uma expressão de amor, mas não havia afeto em sua voz.
Apenas raiva contida. Ela dizia aquilo como uma mulher que extraiu seu próprio coração havia muito tempo e o deixou enterrando em solo frio e escuro. Ainda segurando a mão dela, a capitã afastou a lapela do casaco. O gesto revelou o canto de um papel  amarelado no bolso interno. Ela reconheceu a caligrafia no envelope. Era sua.

- Recebi suas cartas, donzela. Até a última.

Que Deus a ajudasse. Ela sabia. Ela sabia da mentira. Ela sabia de tudo. E estava ali para fazê-la pagar.

- tia irene - Chaeyoung sussurrou -, acho que vou precisar daquele elixir afinal.

A Noiva da Capitã | ChaesooOnde histórias criam vida. Descubra agora