❖ Capítulo 01 ❖

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VEE


"Estou com outra pessoa há algum tempo. Eu quero terminar, Vee."


Onze palavras. Onze palavras para desfazer três anos de relacionamento. Onze palavras que se repetem e repetem na minha cabeça há quase um mês. Nunca pensei que nosso relacionamento chegaria ao fim com apenas algumas palavras, sem que me fosse dada a chance de questionar ou tentar evitar. Mas o que havia para ser evitado? Ploy já estava com outro, nosso relacionamento aparentemente não era algo sério para ela, o fim era inevitável.

O tempo passou, exatamente um mês no dia de hoje, mas eu continuo o mesmo, afundado nessa dor excruciante de ser abandonado e com o agravante de ser traído. O abandono poderia ser perdoado facilmente, afinal ninguém é obrigado a continuar atado a outra pessoa contra sua vontade, mas a traição não, trair é uma ação que requer uma escolha, e Ploy a escolheu. Sempre defendi que a pior coisa que poderia existir era a traição, sempre fui honesto em todas as relações que construí fossem profissionais, amorosas ou de amizades. Mas, nem tudo o que se dá nessa vida é o que se recebe de volta.

Venho lutando para evitar a bebida, tomar porres nunca foi uma prática constante, nem mesmo quando saio com Nuea, Bar, Yiwaa, Pond e Kla, mas parece que a cada dia se torna ainda mais difícil evitar. O álcool é bem reconfortante enquanto está entrando, mas a ressaca do dia seguinte não compensa e só torna tudo mais humilhante.

Meus pais e meus amigos vivem dizendo que preciso reagir, voltar a ser o Vee responsável, alegre e dedicado de sempre, mas eles não conseguem ver o quanto tenho me esforçado? Ou talvez, eu realmente não tenha me esforçado e venho apenas mentindo para mim mesmo.

Este é o primeiro final de semana que irei passar sozinho, desde que tudo aconteceu. Meus pais precisaram viajar para casa de um parente. Nuea e Bar se ofereceram para ficar em casa comigo, mas recusei.


Saio pelos portões da Universidade em direção a loja de conveniência que fica no caminho para casa, preciso comprar alguns lanches e provavelmente bebidas. A atendente já me conhece. Ela abre um sorriso acolhedor quando me vê colocar a cesta em cima do balcão, cerca de vinte garrafas de diferentes bebidas alcoólicas. Pago e saio da loja, deveria ir direto para casa, mas estaciono o carro e me sento em uma pracinha onde começo a beber.

Não vejo a hora passar, quando dou por mim metade das garrafas já estão vazias e a vontade de dormir aqui mesmo é enorme. Deixo as sacolas no chão e me estico no banco olhando para o céu, a noite está estrelada e silenciosa, apesar dos carros correndo na via. Fecho os olhos, um cochilo aqui não poderia ser ruim.

"Só um cochilo e eu posso finalmente dirigir de volta para casa. Só um cochilo......"

Respiro fundo e sinto uma fragrância amadeirada, reconfortante e estranhamente conhecida. Ainda com os olhos fechados tento me lembrar de onde reconheço esse cheiro, minha testa se contrai com a tentativa falha.

"P'Vee.."

Uma voz suave surge como um zumbido próximo ao meu ouvido, balanço a mão tentando afastar o barulho para me concentrar novamente na fragrância reconfortante. Mas é inútil, a voz continua me chamando.

"P'Vee ... P'Vee acorde..."

Abro os olhos marejados e encaro a pessoa que me chamou. Ele é um calouro. Um calouro que não é estranho, mas que agora não consigo me lembrar do nome. Me forço a sentar no banco e transformo meu rosto em uma carranca. Quero que ele perceba meu incomodo e me deixe sozinho. Não quero a companhia de ninguém.

"Você está bem P'?" seus olhos percorrem meu rosto e a surpresa em sua voz é inevitável.

"Ótimo." Ignoro totalmente sua presença virando o rosto para o outro lado e cruzando os braços.

Não dizemos nada por um tempo, até que outra voz não identificada se pronuncie.

"Vamos embora Mark, ele não parece querer companhia"

Não faço ideia de quem seja a voz, mas fico feliz por querer arrastar esse nong para longe de mim.

"Cala boca, James. Não está vendo como ele está bêbado, não posso simplesmente deixá-lo aqui."

"Você pode sim, e dever......" viro meu rosto decidido a expulsá-lo, mas me distraio quando percebo que se trata de Mark, o linha de código de Yiwaa. "Droga!" se Mark está aqui sei que terei problemas, Yiwaa provavelmente ficará sabendo do meu breve cochilo e me dará um sermão sem fim.

"O que está fazendo aqui P'?" antes de terminar sua pergunta ele já está sentado ao meu lado. Não me lembro de ter convidado para se sentar.

"Aceita uma bebida?" não respondo sua pergunta, apenas faço outra já tirando uma garrafa da sacola e estendendo em sua direção.

"Eu não deveria, preciso te levar para casa" o garoto recusou, mas mesmo assim pegou a garrafa da minha mão, provavelmente para evitar que eu a bebesse.

"Você não ia sair para beber com a gente, Mark?" a voz parecia irritada.

"Pode ir na frente, encontro com vocês mais tarde, depois de deixar P' em casa"

"Não preciso que ninguém me deixe em casa" retruco a conversa dos dois, não preciso de uma babá ou motorista, posso muito bem entrar no meu carro e chegar em casa.

"Não existe a menor possibilidade de eu te deixar dirigir neste estado, você poderia facilmente causar um acidente e além de machucar alguém acabar se machucando. Eu nunca me perdoaria" sua voz estava terrivelmente determinada.

"Já disse que não preciso de ninguém" começo a juntar as sacolas e a me levantar em direção ao carro, porém um maldito buraco entra no meu caminho e se não fossem pelas mãos ágeis de Mark, provavelmente estaria no chão.

"Viu?! Eu disse que você não pode ir sozinho" suas mãos continuam segurando nos meus braços me ajudando a ficar em pé.

"Você não sabe onde moro e eu não vou te contar" o álcool está realmente me afetando, não entendo porque pareço uma criança birrenta de cinco anos de idade.

"Se você não me contar posso ligar para Yiwaa e perguntar, o problema estará resolvido"

"Naaaaaaaaaaao" grito balançando a cabeça. "Nada de Yiwaa" coloco o dedo indicador nos meus lábios fazendo sinal de silêncio "shiiiiiiu".

"Então me diga"

Não sei o que disse ao nong, não sei quando o outro cara foi embora, nem me lembro como entrei no carro, simplesmente estou sentado no banco do passageiro, com o cinto afivelado, vendo as luzes da via passando pela janela, meus olhos se fechando e um perfume levemente amadeirado preenchendo o ambiente...

ENLEVOOù les histoires vivent. Découvrez maintenant