Ato III

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A princesa Água, trancada em seu quarto sem direito a visitas, era mais infeliz do que nunca. Viu seu breve momento de felicidade ser desfeito pelo seu pai. Porém, ela compreendia que não havia sido por maldade, mas sim por medo de perdê-la, medo que se machucasse. A princesa achava isso estranho, pois para o seu pai, protegê-la daquela forma era uma maneira de expressar seu amor, mas infelizmente, também era um jeito de impedir que ela amasse.

Fora do quarto da princesa, o rei se preparava para defender Salinas marchando para além dos muros do palácio, pois sabia que Grânulos viria reclamar a liberdade de seu filho. Ele marcharia para uma guerra. Uma batalha com dois lados e apenas um objetivo: a defesa dos filhos.

Trombetas anunciavam a partida do exército. Ao ouvi-las, a princesa Água se desesperou, pois sentia medo pela perda de seus dois amores: seu pai e o príncipe Areia.

Passo a passo os dois exércitos avançavam. A batalha era certa. Qual lado se salvaria? Qual lado venceria? Isso ninguém nunca soube. Tudo porque a batalha nunca aconteceu.

Graças à princesa que fugiu pela janela sem que alguém percebesse e chegou ao calabouço, o príncipe Areia foi libertado. Juntos correram em direção aos exércitos de seus pais na tentativa de impedir uma tragédia.

Ao chegar ao campo de batalha, o príncipe e a princesa viram todos parados. O único movimento que faziam era com os olhos. Nada mais poderia ser feito além disso, pois o menor toque causava uma imensa dor. Assim como os príncipes, Areia e Água, um simples contato fazia com que se misturassem e, dessa mistura, surgia apenas dor.

Os dois se aproximaram de seus pais. À frente dos exércitos, os reis Okeanos e Grânulos se olhavam com muita tensão. Areia e Água então disseram a eles que não havia motivos para aquilo, afinal, tudo era apenas um mal-entendido.

Mesmo assim, Okeanos agora sabia que a dor era inevitável e que a princesa Água se machucaria por ficar ao lado do príncipe. Ela então afirmou que se machucava muito mais vendo o pai agindo daquela forma. Não apenas com guerra, mas aprisionando-a em seu reino e impedindo que ela saísse para o mundo.

Okeanos ficou chocado ao ouvir tudo aquilo, pois não imaginava que havia causado tanta dor à sua filha, quando a intenção real era simplesmente protegê-la e amá-la. Finalmente compreendeu que estava fazendo tudo errado, mas ainda havia um problema.

Então, o príncipe Areia pediu ao seu pai que libertasse Vento e o levasse até onde estavam, pois ele traria a solução.

Ao chegar, o Vento soprou e deixou o príncipe como havia prometido antes: em pequenos pedaços. Calmamente os jogou sobre a princesa Água que ao invés de dor, sentia cócegas. Lentamente os dois começaram a sentirem-se diferentes. Iam se transformando e recebendo um do outro mais força, energia e vida.

Graças ao príncipe Areia, ela pôde, enfim, segurar com mais firmeza a mão de Okeanos.

Graças à princesa Água, ele pôde, enfim, molhar os lábios para beijar o rosto de de Grânulos.

Compreenderam que de tão diferentes se tornaram iguais em muitas coisas e que poderiam conviver com isso para o resto de suas vidas.

Felizes com tudo aquilo, os reis decidiram que seria besteira continuarem vivendo daquela forma, pois haviam compreendido que seriam mais fortes juntos.

Novamente o Vento soprou, mas desta vez tão forte que arrastou com ele algumas árvores que estavam ali por perto. Sua força era tamanha que foi buscar lá longe a rainha e todo o povo do Silício. Mas não foi só isso! Também sugou o rei Okeanos, a princesa Água e todos de Salinas. Uma onda gigante encobriu o céu e transformou o dia em noite e assim, Areia e Água, foram colocadas juntas em um único lugar.

Talvez a principal preocupação dos dois reis fosse não haver uma mistura entre o príncipe e a princesa, entre as duas raças, Areia e Água. No entanto, foi possível mostrar que juntos seriam mais fortes, que juntos conviveriam pacificamente e que juntos, sempre haveria busca para o que faltasse.

Um dia a princesa Água anunciou para o príncipe Areia que estava esperando um bebê. Disse que seria um menino e que seu nome, seria Oceano.

E assim tudo ficou! A Areia descansando calmamente embaixo d’água que por sua vez, ficou colorida. Foi a prova de que amar é tolerar as diferenças e também reconhecer as qualidades um do outro. É deixar que, às vezes, a pessoa se vá, mas principalmente, é tornar-se parte um do outro.

Rei Okeanos

Princesa Água e Príncipe AreiaWhere stories live. Discover now