Ato II

10 0 0
                                    

Água caminhava tranquilamente pelas ruas de Salinas devidamente acompanhada por alguns guardas reais. Ela contemplava a beleza do azul e o do verde da paisagem. Em uma determinada hora do dia, as cores se misturavam formando o que eles conheciam como “Verde-água” no horizonte. Era o sinal de que o dia estava chegando ao fim.

Enquanto aguardava calmamente este momento, Água sentiu um balanço anormal. Foi de um lado para o outro e por alguns instantes, perdeu o controle de seu corpo. Olhou para o horizonte e ao invés do “Verde-água”, via um azul tão escuro que causava calafrios.

Rapidamente os guardas tentaram levá-la para o palácio, mas, insistente e corajosa como era, decidiu ficar e esperar para ver o que aconteceria.

O balanço era cada vez mais forte e o azul escuro, que antes estava apenas no horizonte, já tomava por completo toda Salinas fazendo barulhos como se fossem paredes rachando.

Foi então que Água sentiu cair em seus ombros pequeninas coisas. Ela não sabia exatamente o que era, mas se pareciam muito com pedrinhas em miniatura. Notou que muito mais caia sobre ela e contrariando as ordens dos guardas, decidiu verificar o que era sozinha. Disse aos protetores que se tentassem impedi-la, contaria tudo para seu pai e os acusariam de tentar machucá-la. - É claro que ela jamais faria isso, mas naquele momento era a única coisa que podia fazer para convencê-los.

Decidiu seguir o rastro deixado no chão, que a levou para uma enorme pedra. Lá, ouviu vozes e decidiu abaixar-se para que não fosse vista. Ela viu o Vento, que agitava-se no ar contente com o seu maior feito: escurecer o céu empurrando nuvens de tempestades umas contra as outras. No entanto, ela não conseguia enxergar muito bem com quem ele falava. Aproximou-se mais e ai... caiu. Escorregou em uma pedra solta no chão e foi parar no colo de Areia.

O que poderia ser o começo de uma bela amizade foi na verdade o começo de uma dor de verdade. Quando Água e Areia se tocaram, foi como se pequenos alfinetes entrassem dentro deles. Ao perceber isto, Vento rapidamente soprou, separou os dois e os deixando a uma distância bem segura.

Sem compreender muito bem quem eram e porque aquilo havia acontecido, Areia e Água se olharam, se curtiram e se apaixonaram. A única dor sentida naquele momento era das fortes batidas do coração que disparavam em sem seus peitos. Nada mais! Os espaços vazios entre os poucos metros que os separavam, servia como uma corda invisível que ligava um coração a outro.

De repente, o príncipe Areia descobriu que a sua maior aventura, seria a Água. De repente, a princesa Água descobriu que esta corda invisível seria a saída do “recife de corais”.

O Vento os olhava sem acreditar que o príncipe havia se transformado assim como queria o rei Grânulos. Por sinal, bem mais rápido do que imaginavam. Porém, ainda havia um obstáculo a vencer: a dor que sentiam ao se tocarem. Precisariam vencer isso juntos.

Vento, esperto como era, teve a brilhante ideia: disse ao príncipe que o sopraria com toda sua força até que o deixasse em pequenos pedacinhos. Depois, os colocaria calmamente sobre a Água, fazendo com que se misturassem pouco a pouco.

A ideia era fascinante e todos ficaram animados. Quando Vento se preparava para soprar, viu uma enorme sombra se formando ao fundo. Era Okeanos, que avisado por um dos guardas, foi atrás de sua filha.

Vendo ela ali entre dois estranhos, não pensou em mais nada a não ser protegê-la. Pediu aos guardas que a levassem dali e que jogassem aqueles malfeitores na prisão.

Assustado, o príncipe tentou correr, mas foi cercado pelos guardas que eram em maior número e levado para o calabouço. Sequer foi dado a ele o direito de se explicar. Quanto ao Vento, sempre rápido, voou sobre eles e voltou como um tufão para Silício. Queria avisar o rei e a rainha que seu filho havia sido aprisionado. Sabia que poderia pagar por isso, mas sua lealdade e amizade para com o príncipe Areia valeria a punição de mil castigos.

Princesa Água e Príncipe AreiaWhere stories live. Discover now