Ato I

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Já diziam os mais antigos que: “Quando a areia toca a água, esta quase se desfaz por completo. Por alguns instantes aqueles pequeninos grãos parecem desaparecer, mas então, como por milagre da natureza, voltam a se encontrar descansando calmamente embaixo d’água. Já esta, assume caprichosamente a cor da areia e, juntos, se tornam areia molhada e água colorida. Eles sabem que fisicamente serão sempre diferentes, mas o que vale são as pequenas especialidades recebidas um do outro durante sua mistura”.

Posso dizer que estas especialidades foram compreendidas há muito tempo, quando ainda se acreditava que dessa mistura nada sairia. Eu estava lá e me lembro como se fosse hoje. Por isso, permita-me contar esta pequena e encantadora história.

Okeanos, carinhoso e amado rei de Salinas, tinha grande amor por sua filha, a princesa Água. Não era fácil para ele criar, sem a mãe, uma pequena que crescia na velocidade de ondas gigantes. Infelizmente, a rainha Chuva não resistiu ao dar a luz à sua querida filha. Com medo de uma nova perda, o rei construiu para Água um mundo perfeito e, nele, ela tinha de tudo. O rei dizia que: “Se nada falta, não dentro, não é preciso sair para buscar. Ir além dos domínios de Salinas e se expor aos riscos do mundo”.

Por mais feliz que fosse e por todo amor tido por seu pai, Água ainda sentia como se estivesse presa em um “recife de corais”. Nada mais que fosse dado pelo rei seria suficiente para libertá-la. Mesmo assim, ela sufocava essa angústia, pois não queria causar mais dor ao seu pai.

Longe dali, em uma terra muito, muito seca, vivia Grânulos, rei de Silício e sua rainha, Dióxida. Eles eram pais do príncipe Areia. O jovem aventureiro causava muitas dores de cabeça aos seus pais, pois vivia pegando carona com seu amigo Vento que o levava para muitos lugares. Após as suas aventuras, não era difícil seus pais receberem reclamações de muitos que habitavam o reino dizendo que: “Areia havia entrado em suas casas, sujado suas roupas e seus quintais, estragado a comida dos animais e até mesmo, atrapalhado a visão daqueles que caminhavam por aqui e por ali.”.

Como era cada vez mais difícil conter a energia do príncipe Areia, o rei e rainha pensaram em um plano. Chamaram Vento e prometeram a ele um título de nobreza se levasse seu filho para uma aventura em um lugar muito distante onde não pudesse incomodar tanto, e fizesse com que ele voltasse extremamente cansado desta jornada a ponto de não querer mais aventuras tão malucas.

Vento aceitou a proposta do rei e em um sopro, arrastou Areia para aquela que prometia ser a aventura das aventuras. 

Princesa Água e Príncipe AreiaWhere stories live. Discover now