Terra

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Novamente Seokjin saiu quase correndo em direção ao carro, depois de ter avisado que já podiam ir buscá-lo, mas sua corrida foi torta. Era muito difícil que agisse de modo disperso ou desajeitado, mas naqueles momentos anteriores com Namjoon, sua mente tornou-se um branco pálido.

A mudança repentina entre um enorme problema formando-se, e ele no segundo seguinte sendo desfeito com uma simples e profunda conversa, atordoou-o. Seokjin tinha costume de ignorar seus problemas, ou quase nunca mantê-los à vista, alimentá-los, porque ter um problema significa preocupar-se muito com coisas que, muitas vezes, poderiam estar fora do seu alcance.

De modo que a mera sensação de que uma discussão se iria iniciar, quando ainda estava na presença do produtor, mudou seu humor completamente, e as mudanças tinham sido tão bruscas que naquele exato momento não sabia exatamente como sentir-se. Queria correr e não pensar mais nisso, queria sentar em um lugar bem afastado, onde mais ninguém pudesse encontrá-lo, mas a realidade de não poder ir para lugar nenhum sem ser surpreendido e interrogado, naquele momento fez Seokjin odiar sua vida nos últimos dez ou treze anos.

Fez o carro parar na frente de um parque, e o motorista tinha sido instruído a levá-lo diretamente para o hotel o mais rápido possível, não tomar sequer um atalho, não fazer nada que pudesse chamar a atenção, mostrou-se então relutante em parar quando Seokjin pediu, mas ele utilizou toda a sua lábia para convencê-lo.

De certa maneira, o motorista não podia dizer "não" para ele, já que Seokjin meio que era o seu chefe.

Seokjin desceu do carro na entrada do Bukhansan Park e esgueirou-se sorrateiramente pelos cantos, driblando os guardas municipais plantados na entrada. Ele correu por trás deles para não ser visto, e como se apostasse corrida contra o vento, buscou o lugar mais escondido do local, subindo numa colina alta, o suficiente para precisar recuperar o fôlego quando, por dentro da mata densa, pensou que àquela altura era aventura o suficiente.

Nem sabia se conseguiria encontrar o caminho de volta, e sinceramente não se importava muito, tinha chegado num ponto onde quanto mais tempo pudesse passar sozinho, melhor seria para sua saúde mental.

Estava cansado de ter que dar satisfações sobre para onde ia todas as vezes em que se movia, a simples restrição de seus movimentos irritava-o, de modo que deitar no chão de olhos fechados até que o sol indicasse que era hora de ir, parecia a melhor opção no momento.

Ter que manejar uma vida pessoal, profissional, planejar os passos da carreira, nenhuma lista de afazeres tinha espaço o suficiente para permitir que Seokjin lembrasse de tudo, sem que em algum momento se sentisse imensamente sobrecarregado. Perguntava-se constantemente o que as pessoas normais faziam para descarregar a tensão acumulada e se, por um milésimo de segundo, refletiam sobre como ele lidava com a frustração.

Um dos motivos pelos quais ele não gostava de entrar no mérito de falar sobre suas letras, era porque tinha consciência da impessoalidade delas, e não conseguia fazer algo diferente, vivia assombrado pelo medo de que, por causa dessa maneira de ver o mundo, os fãs não sentissem uma ligação real com ele, a ponto de não levantar questionamentos reais sobre sua existência.

Quando você é querido, quer saber que está sendo querido realmente, e na maior parte do tempo tinha medo de questionar-se se eles importavam-se com sua vida, saúde e bem estar, e a resposta ser não.

Mas, faz parte do medo de todo o artista, ser esquecido enquanto ser humano e ter apenas sua arte valorizada.

Nesse quesito as coisas se invertem, antes do século XIII os nomes dos autores não eram conhecidos, suas obras eram importantes, mas suas histórias de vida eram ignoradas porque não era relevante, depois de Giotto, todos os artistas acabaram acostumados a ter sua vida decorada, e seus nomes tão aclamados quanto as obras que produziam. Por vezes o pensamento que fica é o de que se não tivessem se acostumado com a situação, possivelmente hoje em dia ela não seria resultado de tamanha ansiedade, mas como em um efeito borboleta, qualquer mudança no passado teria um impacto enorme no futuro.

RJ: Filhos da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora