lina

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Ela respirou fundo, fechou os olhos e deixou a coluna ereta

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Ela respirou fundo, fechou os olhos e deixou a coluna ereta. Com o peso do corpo apoiado em uma das pernas, esticou a outra, tocou o chão com a ponta da sapatilha e finalizou aqueles primeiros movimentos encostando o queixo no violino.

Seus longos cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo bagunçado no alto da cabeça, e haviam algumas mechas soltas na parte da frente, que se misturavam a sua franja. O figurino vinho, herdado da época em que ela praticava balé contemporâneo, era um vestido de tecido leve e camadas de diferentes alturas, que combinavam com as sapatilhas de mesma cor.

No silêncio que se instaurou no espaço, como um pássaro pousando sobre um galho de uma árvore, ela levantou o braço em um movimento leve, descansando o arco sobre o instrumento.

A mulher não fazia ideia, mas na direção contrária de onde estava, um certo rapaz a fitava admirado. Quando ela empurrou e puxou o arco sobre as cordas em um vai e vem delicado e o primeiro som se espalhou pelo ambiente, ele no mesmo instante se arrepiou por completo.

A melodia de Something just like this começou a surgir e, em uníssono, ela ouviu alguns comentários de apoio e palmas empolgadas.

Lina sorriu.

Feito mágica, os pequenos passos que deu após a primeira parte da música pareceram incorporar perfeitamente aos sons que saiam do instrumento em suas mãos. Lina balançou o corpo de um lado para o outro, apenas se permitindo acompanhar o ritmo com ele.

Ela abriu os olhos, tomando coragem de começar a se mover para a direção contrária do palco. Antes de chegar a outra ponta, girou o corpo em torno de si mesma, duas vezes, finalizando com um chute perfeito no ar. Ao fixar o pé novamente no chão, Lina sentiu o tornozelo doer, mas também ouviu mais gritos e aplausos vindos do público. Ela também se arrepiou. Sentiu a adrenalina se espalhando por seu corpo, e ignorou a dor, agradecendo mentalmente por tomar a decisão de trabalhar com o que amava, porque naquele momento, se sentia a pessoa mais feliz do mundo.

Ela pressionou as cordas mais algumas vezes, e adicionou mais alguns movimentos de dança, interpretando a música da melhor forma que podia.

Naquela noite, como em todas as quintas no Moonchilds, Lina fez o seu melhor.

Passava das três da manhã quando Namjoon terminou de fechar o caixa e se uniu a Lina e Jungkook que o aguardavam sentados na única mesa que não tinhas cadeiras viradas de ponta cabeça. Hoseok e os outros funcionários já tinham ido embora e só restavam os dois ali. Enquanto o rapaz parecia entretido mexendo no celular, ela tinha os pés apoiados em uma das pernas dele, observando que o tornozelo direito parecia muito mais inchado que o outro.

— Meu Deus, Lina. Credo, seu pé está horrível. — Namjoon levou uma das mãos a frente da boca e fez uma careta assustada ao ver a área arroxeada.

— Já a falei para ir ao médico ver isso. Ontem estava parecendo uma beterraba, hoje já está igual uma batata-doce. Do jeito que a coisa 'tá caminhando, amanhã ela aparece aqui com uma berinjela no lugar do pé...

— Me apresentem uma bailarina de pé bonito que a gente conversa, pode ser? — ela retrucou, abaixando as pernas e calçando os mules. Lina disfarçou uma careta com a dor. — Como ficaram as contas de hoje, Nam?

— O bar está indo muito bem, Li. Até mais do que eu estava esperando para os primeiros meses que estamos aqui — explicou e os outros sorriram. — Acho que logo vamos precisar de um local maior, ou não vamos dar conta de todos os nossos clientes.

— É só não demitir a Lina. Te garanto que se nós abrirmos uma barraca no meio do nada, as pessoas vão acampar em volta de uma fogueira para assistir ela se apresentar — Jungkook comentou, arrancando um sorriso da amiga.

— Eu é que te garanto que se ela não for ao hospital ver essa batata-doce, quem não deixa a Lina se apresentar, sou eu — Namjoon respondeu, o que fez a mulher fazer uma careta. — Eu to falando sério, Li.

— Eu sei. Mas tenho certeza que não é nada, Nam. Não é a primeira vez que acontece, foi só uma torção.

— Mesmo assim, você vive disso, precisa cuidar da sua saúde direito. Se semana que vem você não chegar com uma declaração do médico dizendo que você está liberada, você nem pisa no palco.

— Ok, ok, eu já entendi. Eu prometo que de amanhã não passa.

— Bom mesmo — ele apertou os lábios em um sorriso e se levantou, arrastando a cadeira para trás em um som alto. — Vamos crianças? Está tarde e eu estou exausto.

— Vamos Lina, o ahjussi está cansado.

— Vamos Lina, tem alguém que esperou até agora pela carona, mas vai para casa correndo atrás do carro.

— Vocês parecem duas crianças — Lina riu, também se levantando e seguindo Namjoon para fora do estabelecimento.

— Vocês que levam tudo para o coração, credo. Namjoon hyung, era brincadeira o lance de correr atrás do carro, não era? — Jungkook guardou o celular no bolso, se levantando. — Namjoon hyung? — Ao ver que nenhum dos dois se virou para o responder, viu que já estava sozinho e correu atrás deles. 

Blue & GreyWhere stories live. Discover now