⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝒊𝒊𝒊. 𝑷𝒓𝒊𝒎𝒆𝒊𝒓𝒂𝒔 𝒊𝒎𝒑𝒓𝒆𝒔𝒔𝒐̃𝒆𝒔

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Nunca me preocupei muito em pensar sobre a vida após a morte. Minhas preocupações sempre foram relacionadas a vida que eu levava, como seguia e onde deixaria as minhas marcas. Queria ser uma pioneira naquela terra, queria deixar um legado, queria que a minha vida, meu cérebro e minha existência significassem algo. Mas o que nunca passou em minha cabeça, era descobrir o que realmente acontecia quando morremos.

Fechei meus olhos e senti a brisa fria da madrugada soprar meu rosto, mantive minhas mãos apoiadas sobre os joelhos despidos enquanto ponderava sobre o assunto. Sabia com exatidão o que acontecia fisiologicamente com o corpo quando morremos, mas não o que realmente acontece após a morte. E se existe outra coisa que não gosto, são as perguntas sem respostas. Naquele momento minha cabeça estava ocupada com muitas delas, de algum modo algumas das respostas estavam explicitas em minha frente, porém me recusava a acreditar nelas.

Quando tinha dezesseis anos de idade, tive o pior porre da minha vida. Me perdi das minhas amigas na festa e não me recordo com exatidão as coisas que aconteceram naquela noite. Exceto que em um minuto estava virando o meu quinto shot de tequila com minhas garotas, e no outro elas havia sumido. Não lembro como as encontrei, não lembro como cheguei em casa. Só me recordo do que aconteceu depois. Elas me disseram para não se preocupar, que minha mãe não saberia de nada, que tudo ficaria bem e que eu deveria tomar canja de galinha e Gatorade para melhorar a ressaca. É engraçado como as nossa memória funciona, as coisas que você nunca se lembra e as coisas das quais você nunca esquece. Naquele momento, estava com a mesma sensação da festa da tequila.

― Elphaba. ― um dos anões apareceu na frente da casa, ele caminhava em minha direção trazendo uma xícara de chá. Sorria por baixo da barba loira e espessa, seus olhos azuis refletiam o brilho do luar. ― Está mais calma? Gandalf está explicando ao Thorin sobre você.

― Estou me sentindo perdida, confusa, no estado de negação. ― Respondi com honestidade e virei-me a ele. ― Você é...

― Sou Fili, aos seus serviços. ― O rapaz fez uma reverência, tomando cuidado para não derrubar a xícara de chá que carregava.

― Elphaba Pouts, aos seus. ―Fiz uma breve reverência após aceitar o chá de suas mãos.

― Boa noite. ― Ele comentou admirando o céu e se acomodando ao meu lado.

― Você está me desejando boa noite, ou dizendo que a noite é boa não importa o que eu queira ou não, ou quer dizer que você se sente bem nessa noite, ou que é uma noite para se estar bem? ― Perguntei confusa por cima da xícara de chá.

― Creio que tudo isso de uma única vez. ― Fili demorou alguns segundos para responder, mas ao fazer isso esbanjou um sorriso divertido.

Retribui o sorriso encantador do anão com um sem vida, sentia que nada me traria alegria outra vez, por mais que tentasse. Voltei a encarar a paisagem, observando as lamparinas acesas de algumas casas do Condado, pequenas luzes afastando a escuridão do que lembrava buracos de tatus bem arrumados.

― Nada disso pode ser real. ― Comentei soltando um longo suspiro e abaixando a cabeça, permitindo que algumas lágrimas escorregassem dos meus olhos e morressem em meus lábios.

― Não, não chore. Por favor. ― Pediu Fili desmanchando o sorriso da face e envolvendo o braço ao redor do meu pescoço. Seu dedo indicador enxugou com carinho minhas lágrimas. ― Tudo ficará bem, você vai ver.

Não digo uma palavra a ele, porém aceito o seu gesto de amizade. Aninhando a cabeça em seu pescoço, ele afasta com as mãos um pouco do seu cabelo comprido para trás, deixando de uma maneira que ele não me incomodasse. Envolvi um dos braços ao redor de sua cintura, o abraçando fraternamente, sentindo-me segura.

𝐎𝐓𝐇𝐄𝐑 𝐒𝐈𝐃𝐄 ⇢ 𝑇𝘩𝑒 𝐻𝑜𝑏𝑏𝑖𝑡Where stories live. Discover now