Capítulo 1

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Anahi Portilla estava determinada a impressionar uma única pessoa naquele dia. Teria de causar uma boa impressão, e não deixaria por menos.

Ajustou o retrovisor do carro e se viu refletida. Ergueu uma das sobrancelhas. Podia ver-se facilmente como a moça do pôster das corretoras de imóveis, espalhados pelo país.

Seu cliente, John Bitters, poderia fazer uma oferta para o imóvel, e ela provaria à sua família de uma vez por todas, que ser corretora de imóveis podia ser um bom emprego, e que tomara a decisão correta ao desistir de ser policial.

— Você é uma mulher incrível. — dissera a si mesma com convicção.

Chega de uniformes. Chega de revólveres. Chega de ser como se fosse um dos rapazes.

Respirou fundo, exatamente como o espiritualista ensinava no áudio que tocava pelo seu carro. Aquele era seu dia de brilhar.

Um barulho estranho veio do carro.

Anahi ficou séria de repente.

Droga! Essa não! Não naquele dia!

Deu pisca, parou no meio-fio e olhou ao redor. As ruas estavam praticamente desertas e ela sabia o motivo. Janelas quebradas e pichação nos muros. Se chamasse um borracheiro, demoraria no mínimo uma hora até que alguém aparecesse.

Olhou para o relógio e viu que faltavam apenas dez minutos para o encontro com o cliente. Tinha se preparado para não parecer ansiosa demais a vender a propriedade, e agora iria chegar bem atrasada.

Precisava se manter calma. Fechou os olhos respirando fundo. Não tinha outra alternativa, ela mesma trocaria o pneu, e se chegasse atrasada, simplesmente pediria desculpas e explicaria o que acontecera. Sabia trocar pneu, mas detestava fazê-lo.

Com um suspiro resignado abriu a porta do carro, tirou a chave da ignição e apertou o botão para abrir o porta-malas. Ainda bem que tinha um estepe quase novo. Seria suficiente para chegar ao seu destino, depois iria a uma borracharia.

Abriu o porta-malas e se debruçou, retirando o tapete cinza para pegar o estepe.

— Ei, querida. Gosto do que mostrou até aqui, mas acho que pode fazer melhor do que isso.

Anahi ficou imóvel.

— A moça parece delicada, Frankie. Talvez queira nos deixar participar.

Seu pai a teria repreendido por pegar um atalho para chegar à propriedade, justamente na parte mais perigosa da cidade.

— Vamos querida, mostre-nos seus atributos.

Anahi encolheu os ombros. Se for o que eles queriam... ergueu a tampa de uma pequena caixa de madeira, que sempre mantinha no porta-malas de qualquer carro que possuísse. Fora um presente de seu pai no seu décimo sexto aniversário, onze anos atrás, junto com uma 9mm.

— Talvez ela não escute bem. — insistiu um dos homens.

— Queremos ver mais, querida.

A arma encaixava-se bem na sua mão. Virando-se, ela apontou a arma para eles.

— E o que exatamente querem ver, rapazes? As balas? Tenho um pente inteiro. Posso mostrar mais do que espe­ravam ver.

Os dois homens empalideceram.

Ah Anahi, que vergonha! Eles não deviam ter mais do que dezessete anos e usavam calças folgadas que exibiam mais da metade de suas cuecas. Não pareciam membros de uma gangue. Ela suspirou. Mas se quisessem brigar, teriam de arcar com as consequências.

Perigosamente JuntosOnde histórias criam vida. Descubra agora