A SEMENTE DO DESTINO

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Assim que as patas cobertas de pelos dourados alcançam o fim da grama, às margens do grande Rio Palma, a jornada termina. Cedra desce de sua montaria, passa a mão sobre a lomba da onça em sinal de agradecimento por todo o esforço, pois chegara ali tão rápido quanto os raios cruzam os céus. Autoriza o descanso do animal que se sorve alguns goles da água cristalina do vasto encontro dos cinco principais rios da floresta que se uniam como dedos em uma mão, por isso o nome Rio Palma dado pelo povo de Cedra, os Filhos das Árvores.

Através dos olhos brilhantes como pepitas de ouro, ela observa as raízes de Arabutã que saíam de dentro das águas, corriam para cima e se encontravam em um tipo de cúpula de madeira, formando o Templo do Amanhã, bem no meio do rio. 

– Enfim chegamos, espero que aqui tudo termine. - Pensou ela enquanto respirava fundo, emocionada.

Tamoki desce de sua onça, aproxima-se de Cedra  coloca a mão sobre seu ombro nu que mostrava bem sua pele de cor amadeirada. Ela vira o rosto para encarar os olhos do guerreiro amigo, ambos tinham o mesmo sentimento perante aquele lugar. Ele acena com a cabeça, indicando que não podiam perder tempo admirando as belezas daquele local sagrado. Cedra coloca os longos cabelos verdes para trás da orelha, olha por cima do ombro e vê a tempestade, que ganhava cada vez mais o céu. – Quem dera fosse apenas uma chuva – ela lamentou, sabendo que aquilo dentro das nuvens era o pior deste mundo.

Após acariciar os enormes felinos que os conduziram até ali, Cedra agradece todo o companheirismo do seu animal, coloca a cabeça contra a dele e depois tira sua sela, deixando ambos partirem para dentro da mata. Estavam livres. Ele conferiu em seu cinto que a essência de vagalume ainda estava em boa quantidade, pois seria nescessário.

Era uma pena que a floresta não tinha muito mais tempo.

Tamoki pisou sobre as tábuas da jangada amarrada à margem, estrategicamente colocada ali caso alguém quisesse se aventurar no Templo do Amanhã, mas, por anos, ela permaneceu boiando sem que ninguém tivesse coragem de se arriscar. Ao sentir a firmeza da embarcação, Tamoki acenou para Cedra, ela embarcou ao lado dele e assim que a corda soltou-se da margem, as águas brilhantes e claras levaram os dois em direção ao centro do rio. Trovões rubros, advindo de uma raiva humana, ecoaram até o ouvido dos dois.

– Não temos muito tempo – Tamoki disse preocupado.

– Agora já estamos aqui, só precisamos de uma palavra com a Anciã e saberemos o que fazer com a semente – Cedra tentou ser otimista.

– Já pensou na hipótese de não encontrarmos uma solução?

– Já – ela respirou fundo, olhou em direção ao templo. – Mas, algo me diz que é ali que tudo deve terminar. Meu pai não me entregou a semente à toa, sabia que algo iria acontecer.

– Como assim?

– Ele já esteve no templo, já falou com a Anciã. Foi ela quem lhe deu a semente.

Tamoki arregalou as sobrancelhas com aquela informação. Ele coçou os longos cabelos negros, confuso com o que foi dito, mas a poupou de perguntas. Enquanto boiavam, ele olhou seu reflexo na água, a nitidez era tanta que viu com perfeição suas penas vermelhas que cobriam os ombros, braços e peito.

– Como sinto saudade de minhas asas... – ele lamentou enquanto passava a ponta dos dedos na parte de cima das costas, onde estavam as cicatrizes.

– Nem me fale, também sinto falta das minhas – por um momento, Cedra lembrou-se do seu tempo de glória como Guardiã da Floresta, quando voava com suas asas, trajando sua armadura de cristal e protegia os povos que viviam abaixo das árvores.

A SEMENTE DO DESTINO e outros contosWhere stories live. Discover now