Capítulo 1

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Era terça-feira, uma terça chata e entediante, nevava, e todos os alunos iriam para casa mais cedo porque o diretor temia acidentes. "Sem neve, dois quase morrem, imagina com!"-pensava alto.

⸺Sr. Knox. –Steve bateu na porta.

⸺Steve Clark! –fez um gesto de tocar guitarra. Até o diretor implicava com ele! Mas ele levava na brincadeira e continuou tocando sua guitarra invisível.

⸺Infelizmente não poderei liberá-lo como os outros, porque a professora Annie quase me matou dizendo que vocês são os únicos que não fizeram a prova de História... –deu de ombros.

⸺"Vocês"? –ele olhou para trás do professor e viu o seu pior pesadelo: Cindy Tunner. Revirou os olhos e parou de tocar a guitarra gestual. Cindy o ignorou.

⸺Então é isso, vocês ficam aqui na minha sala, enquanto vou pegar meu café, aqui está a avaliação. –deu os papéis na mão de cada. ⸺Liberei a supervisora porque seu filho está doente. Então ficarão sozinhos por enquanto. Não façam nada que eu não faria hein? –piscou e saiu rindo fechando a porta.

Os dois ficaram um pouco atordoados. Steve pensou em fazer uma piada para suavizar, mas Cindy parecia mais nervosa que de costume. Ele terminou a prova em 10 minutos e ficou olhando para o teto. Cadê aquele diretor? "Pegar café? Acho que ele foi é fazer o café!" –pensou. Como era hiperativo, começou a batucar com o lápis.

⸺Eu sei que já terminou, mas pode sossegar alguns minutos? –brigou Cindy.

⸺Tá bom, ok, me desculpe! –levantou os braços.

Os segundos, os minutos passavam e o diretor não chegava. E Cindy não terminava a avaliação. Steve questionava a inteligência da garota emburrada que o atropelara. Analisou-a de cima a baixo. Ela era bonita, não, era bem bonita. Entendia por que seus amigos faziam fila para pedi-la para sair. Notou que ela coçava o couro cabeludo com vontade e com cara de dúvida e... Suava frio? Nossa! A prova estava tão fácil! Ele ficou com pena. Será que a ajudaria? "Não, ela é a chata e sabichona Cindy Tunner! Nem simpática como a Cindy Lauper nem alegre como a Tina Tunner!"

⸺Por que está me encarando? –Cindy o tirou de seus pensamentos. ⸺Está feliz por ser bem melhor do que eu nessa baboseira?

⸺Obrigado pelo "bem melhor" e não, isso não é uma baboseira. Só porque você não é boa, não precisa ofender.

⸺Desculpa, esqueci com quem estava falando. –limpou a testa suada.

⸺Eu acho que posso te ajudar... –coçou as costas hesitante.

⸺Sério?! –seus olhos brilharam. ⸺Não precisa dar exatamente as respostas, mas me dá umas dicas, porque estou perdida!

⸺Shhh! Fala baixo! Mas quero algo em troca... –Cindy enrugou a testa e cruzou os braços.

⸺O que você quer? –ela perguntou desconfiada.

⸺Quero que diga a todos que mentiu, que eu não desmaiei porque vi seu osso. –a mocinha abafou uma risada.

⸺Fala sério! Pensei que iria pedir uma coisa mais importante!

⸺Tipo o que? Sair com você? –a menina ficou rosa.

⸺Não...

⸺Tudo bem, você não faz o meu tipo. Gosto das morenas. –ele deu um meio sorriso que deixou Cindy desconcertada.

⸺Que se dane! Pode me ajudar?

⸺Me diz você. –ele retrucou.

⸺Ok. –a mocinha deu de ombros.

⸺Promete? –ofereceu sua mão grande e fria. Ela revirou os olhos. Uma atitude tão típica! Então apertou a mão dele. E sentiu uma batida mais forte no coração. A sua mão era quentinha e a dele fria. Sentiu vontade de esquentá-la. Mas não deu nem tempo, ele retirou a mão.

Ele deu uma rápida explicação e Cindy conseguiu terminar a prova. Logo depois o diretor chegou. Não tinha ninguém na rua, o frio tinha espantado a todos. O pé de Cindy ainda doía, estava com gesso ainda, mas seu pai não tinha carro. E a bicicleta deixara em casa. De qualquer forma não conseguiria pedalar. Decidiu andar devagarzinho. Deu graças a Deus que desta vez a rua estava iluminada.

⸺Você vai para casa sozinha? –sussurrou Steve e a garota deu um pulo.

⸺Que droga, Clark! –ela bateu nele. ⸺Que susto!

Je suis désolé, querida! –colocou a mão no peito dramático. Porém ao analisar a situação, sentiu mesmo. As meninas não tinham a mesma liberdade que os meninos, e ela mancava e ainda por cima de gesso. Será que ninguém a buscaria? Estava ficando irritante em relação a esta menina. Era estresse na certa, pisava em ovos. O pai de Steve chegou jogando o farol em cima dos dois que instintivamente taparam os olhos. Steve fez o que qualquer cavalheiro faria: ⸺Quer uma carona para casa? Meu pai pode levá-la.

Cindy ficou receosa. Ir para casa com dois homens desconhecidos? Se bem que não eram tão desconhecidos assim. E com certeza seu pai se lembraria do senhor Clark de alguma reunião, feira de ciências.

⸺Oh, vamos, Tunner, está com medo de mim? –ela demorou nos olhos acizentados iluminados pelos faróis cujo carro não parava de buzinar. Eram bem interessantes. ⸺Tina Tunner? –ela estranhou o nome da cantora e voltou à Terra. Concordou e entrou no carro.

⸺Boa noite. –ela disse tímida.

⸺Boa noite! Você é aquela que atropelou meu filho? –Steve segurou o riso a muito custo, podia sentir Cindy o fuzilando com os olhos mesmo sentando-se na frente.

⸺É... Sim... Senhor. Sinto muito. –esfregou as mãos.

⸺Tudo bem. Deu a ele a surra que eu não pude dar. ⸺ gargalhou.

⸺Pai! –Steve reclamou. Dessa vez foi Cindy que riu.

O pai de Cindy não estava em casa então não teve como concordar ou discordar da carona. Seu pai ultimamente trabalhava demais. Ela não o culpava. Em breve iria à faculdade e ele gastaria uma nota. A mãe, ela já não mais romantizava em sua imaginação. Tinha abandonado a família há três anos. Não se despediu, apenas deixou um bilhete pedindo desculpas e pediu que não a procurassem. Cindy sofreu muito, tentou contatá-la várias vezes em vão. A mãe trocou de número, não avisou a nenhum conhecido para onde iria, sumiu do mapa. A moça se sentiu culpada de início. A mãe havia largado o sonho de sua vida por sua gravidez. Ela queria se mudar para Los Angeles e se tornar atriz. Cindy suspeitava que ela estivesse lá. Tomou um banho quente demorado. "Uma vezinha não faz mal" –pensou. Estavam em contenção de despesas. Esquentou a comida e jantou ao som melancólico de Tears in heaven que era um hit. Dormiu jogada no sofá-cama sem escovar os dentes e sonhou com os olhos de Steve.

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Obs.: Tem uma playlist de músicas do ano do conto no Spotify.

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