-Proposta? – a voz de Sanders soou em evidente malícia, chamando a atenção de Melissa para seus olhos mais uma vez.

O brilho que os fazia reluzir passava longe da inocência. E mais uma vez, ela ficou se perguntando se aquilo não era fruto de sua fértil imaginação.

Melissa limpou a garganta, antes de continuar:

-Sim, Sanders, uma proposta.

-Sou todo ouvidos, doutora.

-Deixo você me fazer uma pergunta, sobre qualquer coisa que você quiser, e prometo respondê-la. Em troca, eu faço o mesmo. – de repente Melissa adotou uma expressão séria.

Não sabia, exatamente, o que estava fazendo ao lançar aquela proposta. Apenas chegou à conclusão de que o que havia aprendido na faculdade não seria o suficiente para atingir as partes mais sombrias da mente de Corey Sanders. Qualquer tentativa era válida, portanto.

Ele abriu um sorrisinho esperto, lotado de deboche.

-Por que teria interesse em te fazer uma pergunta?

-Meu instinto feminino diz que você está muito interessado em saber mais sobre a minha vida.

-Seu instinto feminino, infelizmente, está enganado e é particularmente arrogante. – ele tentou disfarçar, mas não conseguiu com sucesso.

-Ora, vamos, Sanders! – Melissa sorriu, sem se deixar abalar – Está com medo de quê? Estamos só nós dois aqui dentro dessa sala pequena. Ninguém mais vai saber sobre essa conversa, não posso falar com ninguém a respeito, coisa da confidencialidade entre médico e paciente. Precisamos construir uma boa relação, caso contrário não avançaremos para lugar algum.  Se não houver esse tipo de cumplicidade entre nós, então qual o propósito disso tudo?

-O propósito é vocês tentarem achar um distúrbio inexistente.

Melissa engoliu em seco.

-Esqueça o St. Marcus, esqueça que eu sou uma médica, esqueça que você está preso aqui.

-Acho difícil. – Sanders rolou os olhos em deboche.

-Eu entendo. Mas vamos conversar como se fôssemos velhos amigos que há muito não se veem. Você me pergunta um segredo, eu te pergunto um, e nós colocamos o papo em dia. O que acha? – Melissa sorriu, naquela forma meiga que sabia que a tornava radiante a qualquer olhar. Principalmente a qualquer olhar masculino.

Melissa assistiu satisfeita a Sanders bufar derrotado, travando uma batalha interna de caretas e suspiros por alguns minutos que pareceram horas, antes de finalmente se render:

-Tudo bem. – ele deu de ombros – O que eu tenho a perder?

-Muito pelo contrário, só tem a ganhar.

-Comece logo, antes que eu desista.

Melissa limpou a garganta e se manteve firme:

-Tudo bem. – sorriu – Eu vou deixar você perguntar primeiro.

-Tem certeza? – ele arqueou uma sobrancelha.

Melissa, a essa altura, estava muito satisfeita com o controle de seus nervos. E muito insatisfeita com o descontrole de seus hormônios.

-Não vejo um motivo que me impeça de deixá-lo. – ela deu de ombros, tentando manter a casualidade em suas palavras.

De algum modo, uma parte muito burra de sua consciência achou que ele não aproveitaria o momento para abusar da confiança que lhe fora depositada. Ledo engano.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now