Prólogo

7 1 0
                                    

Uma forte corrente fria estava perto de chegar. Não havia dúvidas de que aquela semana seria uma das mais frias para o pequeno Dermid.

Ele já podia sentir o vento gelado atravessando seu pálido rosto enquanto fazia uma caminhada diária com seu pai no parque local. As folhas verde-alaranjadas voavam brutalmente conforme o vento passava pelas meras árvores, e o céu daquela tarde permanecia todo branco devido à boa quantidade de nuvens.

Mesmo com aquele tempo, estava sendo um momento agradável como muitos os que Dermid passava com seu pai. Ele andava mais à frente, hora ou outra correndo pela trilha vazia, e seu pai mantinha-se um pouco atrás andando com as mãos no bolso do jeans e admirando calmamente a paisagem ao seu redor.

Estava animado naqueles dias e isso se dava ao fato de seu décimo segundo aniversário ser no próximo sábado — em menos de uma semana!

Sempre adorou o mês de dezembro por esse motivo. Além de ter algumas ideias de como gostaria de comemorar seu aniversário, ele, acima de tudo, adorava a sensação de que estaria prestes a ficar mais velho. Sentia que quanto mais os números de sua idade aumentassem, mais seria capaz de fazer as coisas que realmente queria — como talvez ter uma grande barba igual a de seu pai, ou simplesmente poder assistir filmes de terror que sempre lhe diziam que eram proibidos para crianças. Entre essas e outras coisas, o que Dermid mais queria era crescer — e para quem estava prestes a fazer doze anos aparentando ter entre sete e oito, era compreensível.

Ele nem sempre morou em Grangemouth. Até seus três anos, Dermid conviveu junto de seu pai, sua mãe e seu irmão mais velho em uma pequena cidade próxima, mas nunca soube o que aconteceu para que todos tenham se afastado completamente. Ficava com uma pulga atrás da orelha esperando saber o que pode ter ocorrido entre seus pais, por onde sua mãe e seu irmão andavam e o porquê deles nunca terem visitá-lo durante todos esses anos. Ao longo tempo, Dermid parou de se importar em querer saber o que aconteceu, visto que, quando questionava seu pai a respeito de qualquer coisa sobre o assunto, a resposta era sempre a mesma:

— Nunca é bom fazer tantas perguntas filho, uma hora ou outra elas podem começar a perder sentido.

E uma vez quando questionou seus avós, a resposta não foi nada animadora:

— Como podemos saber o que houve, pequeno? Somos tão curiosos sobre esse "mistério" quanto você...

E esse mistério seus pobres avós nunca solucionaram, visto que a dois anos atrás eles vieram a falecer depois que o barco em que faziam uma viagem foi submergido em meio uma forte tempestade. Dermid acreditou por um tempo que a tragédia nunca aconteceu, e depois a aceitação havia sido um choque e tanto para ele e seu pai...

Dermid pensou um pouco sobre isso ao virar a cabeça para olhá-lo.

A tristeza era visível no rosto de Breuse. Ele nunca foi um pai carismático, sorridente, ou que sequer gostava de conversar. Com apenas 40 anos, ele parecia ser bem mais velho. Até mesmo antes da morte dos pais dava para perceber isso. Durante os últimos poucos meses, Dermid começou a perceber mudanças na aparência do pai: a barba cada vez mais longa e cheia, uma magreza repentina, o rosto pálido e os olhos fundos que pareciam querer se fechar por vontade própria.

Dermid achava tudo estranho e temia saber se o pai estava bem ou não. Contudo, aprendeu a não fazer tantas perguntas, sabia que muito questionamento o deixava irritado.

— Cuidado com o chão filho, têm folhas demais — exclamou Breuse, dando uma leve tosse em seguida. — Pode acabar pisando em alguma folha e escorregar, como da última vez.

Dermid notou que havia corrido mais à frente do que pretendia. Deu meia volta ao aviso de seu pai e retornou a passos rápidos em direção a ele.

O Contemplar do CervoOnde histórias criam vida. Descubra agora