Capítulo 1

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Ano: 1457


Era madrugada em Yeongwol, mas poucos eram os que dormiam. Chuvia fortemente no local e as pessoas preocupavam-se que pudesse haver uma cheia.

Numa pequena casa em Gwangpungheon, Uhm Heungdo conversava com a sua esposa, enquanto preparavam palha para fazer um tipo de sandálias denominado "jipsin"[a].

- Achas que o Cabo de Cheongnyeongpun poderá inundar?

- Não sei, querido...

- Se inundar... Provavelmente vão trazer o Rei Danjong para cá.

- Rei Danjong!? – a mulher exclamou num sussurro – As paredes têm ouvidos... Não o podes tratar por esse nome... Agora ele é "Príncipe Nosan", desde que foi exilado para o Cabo de Cheongnyeongpun...

O marido soltou um suspiro frustrado e retrucou, em voz baixa:

- Ele sempre será o nosso Rei. É o filho do Rei Munjong e neto do Rei Sejong. Que Rei poderemos ter se não for ele!?

- Ele é uma criança, tem apenas 16 anos... Mas foi uma pena que o Rei Munjong tenha morrido, não estaríamos nesta situação se o filho não tivesse de começar a governar aos 12 anos.

- Não. Não estaríamos nesta situação se o Rei Sejo não tivesse tirado o poder ao próprio sobrinho. Que tipo de tio é esse!? Não tem respeito pelo irmão que faleceu e que deixou um filho órfão para ser Rei?

- Eu sei que é complicado querido, mas não há nada que possamos fazer... E se alguém ouve esta conversa? Correm rumores de que o Rei Sejo tem matado todos os que conspiram contra si. Não quer que o título do Príncipe Nosan seja restituído.

- Sim, eu sei... - concordou, logo soltando um suspiro cansado. Heungdo olhou pela janela e observou a chuva que caía abruptamente. – Vou sair um pouco, ver de que forma a chuva está a afetar as redondezas.

- Certo... Tem cuidado.

- Terei. – disse e deu um beijo à sua mulher, logo pousando a palha em que trabalhava e vestindo o seu durumagi[b].

O Homem idoso, com barba relativamente comprida, com o cabelo apanhado num minsangtu[c] (um coque no topo da cabeça) e que usava uma fita a circundar a sua testa, saiu do seu lar, começando a caminhar pelas ruas. O chão estava encharcado. Era muito provável que a pequena "ilha" em que o Príncipe Nosan estava se tivesse inundado. Se isso realmente tivesse acontecido, então no dia seguinte o nobre já estaria a morar lá, em Gwangpungheon.

Heungdo decidiu então ir até a floresta. Verificaria se existia alguma árvore caída, que pudesse cortar no dia seguinte e levar até o escritório real do distrito, para oferecer lenha ao Príncipe.

Na floresta estava ainda mais escuro do que nas ruas, já que as árvores altas tapavam parte da luz refletida pela lua. Depois de caminhar um pouco e notar algumas árvores no chão, o aldeão viu outra coisa. Também estava no chão, mas não parecia uma árvore. Parecia uma pessoa. Aproximou-se um pouco mais e observou o corpo inconsciente à sua frente. Aquelas roupas eram estranhas, nunca tinha visto nenhumas daquele tipo. Seria um estrangeiro? Hesitou um pouco, mas não poderia deixar o jovem no chão. Pegou-o no seu colo e voltou até a sua casa, deitando-o, sob os olhares curiosos da sua esposa. Tentou limpar o rapaz, que estava coberto de lama, e cuidar de algumas feridas leves. Falaria com ele no dia seguinte, se ele acordasse.

Enquanto isso, a poucos quilómetros daquela casa, um pequeno barco atravessava o lago que delimitava o Cabo de Cheongnyeongpun. Levariam o Príncipe para o seu novo lar.

564 Anos | CHANBAEKWhere stories live. Discover now