Fui tirando os pelos enquanto conversávamos. Telanius tinha um hálito gostoso de pasta de dente de hortelã. Eu gostava dele. Era o único homem que eu conhecia, além de você, que tinha a capacidade de me deixar falar o que eu quisesse por horas sem pensar em me interromper ou zombar dos meus assuntos. Eu falei de moda, das roupas que as meninas usavam na escola, dos trabalhos, das aulas, então cheguei no elefante azul entre nós: o dito cujo do meu ex-namorado.
— Por que vocês terminaram mesmo? – ele perguntou. – Eu nem me lembro o que foi. Só lembro que foi uma briga feia.
Ainda tinha memórias daquela briga, a última que tivemos. Luan era o oposto de Tê. Sempre cortava meus assuntos e falava dele mesmo o tempo todo. Quando estávamos com outras pessoas fingia que eu era a coisa mais importante da sua vida, mas assim que ficávamos sozinhos me tratava mal. Eu sabia da verdade e até hoje não sei por que fui me envolver com esse menino. Luan nunca gostou de mim, eu era só um troféu para ficar exibindo para os meninos.
Quando cansou das minhas "paranoias" em volta de Taffara, eu tive certeza que ele acabaria arrumando outra namorada. Ainda estávamos em Agosto então nunca era tarde para esperar por essa atitude. Meus sentimentos ainda eram mistos; eu ainda sentia saudades dele, mas num grau bem menor do que no começo do término. Os livros me ajudaram a entender que eu não estava exatamente com saudade do Luan. Não tem como sentir saudade de quem a gente não conhece bem. Aquele meu estado era uma dependência.
— Eu só xinguei ele e saí chorando. Você chama isso de briga feia Tê? Se eu tivesse arranhado o pescoço dele ou cuspido na cara aí sim você poderia dizer isso.
Ele me olhou assustado.
— Por que eu tenho a impressão que você poderia ter feito tudo isso se pudesse?
— Engraçadinho. Você sabe que eu sou contra qualquer tipo de agressão em alguns casos. Eu tava confusa, assustada. E morrendo de medo de perder ele. Por isso agi daquele jeito.
— Nossa você parece tão calma falando. Nem parece que sofreu.
Engoli o bolo que os meus meses na solitária começaram a formar.
— Ah, eu sofri sim, mas o que eu ia fazer? – Me concentrei no ponto mais alto da sobrancelhas de Tê. A pele preta dele não era tão escura quanto as pessoas falavam, era exagero. Tirei três fiapos de pelo de três centímetros enquanto ele respirava fundo e abri a acetona.
— Você podia fazer uma bruxaria.
— Passo.
— Nunca nem tentou conquistar ele de volta?
Culpada.
— Não, nadica de nada.
Era meia verdade. Apesar da troca de mensagens, eu nunca disse com todas as palavras que queria Luan de volta. Então era justo.
— Então tá livre pra achar outro alguém.
Fiquei nervosa com o cinismo na voz dele.
— Por que tudo tem que ser sobre estar com alguém? Eu não quero nada, obrigada. Tô bem assim.
— Desculpa aí filósofa. Ai!
— Desculpa.
— Desculpada. Alana, você tem dezesseis anos-
— Dezessete – lembrei a ele do meu aniversário que sempre caía nas férias.
— Dezessete, desculpa. É claro que você quer alguém, só tá mentindo pra você mesma. Um dia vai parecer um menino bonito e você vai querer ele do mesmo jeito que você quis o Luan, só que vai ser mais intenso.
Eu sabia que parte daquela pressão que Tê estava jogando em mim era por que ele me queria mais do que como uma amiga, mas fiquei quieta, concentrada naqueles pelos lindos demais para serem de homem.
— Quem sabe você já não conhece ele e só tá esperando uma declaração.
— E se eu for lésbica? Pode ser ela.
— Ah, sim, nesse caso então ela pode estar esperando por você.
A carinha de frustração dele foi tão fofa que eu não me aguentei e comecei a rir. Tê riu também e por um segundo foi só o que fizemos. Então a coisa foi ficando mais intensa e o olhar que eu pensava ser de carinho por mim ferveu com desejo. Quando você sabe que um menino está interessado em você, você sabe. É fácil, tá sempre óbvio. Quando não tá é só você sonhando com o que não pode ter.
E eu não estava sonhando. Coloquei meu punho do lado da cabeça dele na cama e dei um beijo leve nos lábios. Meus beijos com Luan sempre envolviam língua e uma pressa que eu não entendi bem por que. Não vou mentir, sempre gostei dos selinhos de 'oi' e 'tchau' – esses me deixavam nas nuvens, mas desde que vim lendo sobre como o amor dos adultos funciona, o amor maduro e fora do sonho de princesa, eu percebi que um beijo podia ser um beijo de verdade: lábios, mãos, nariz e boca. Coloquei a ponta de um dedo no queixo dele e Tê agarrou a parte detrás da minha nuca. Com a cabeça dele no meu colo foi um beijo mais tipo "Homem-Aranha".
Foi ficando mais intenso. Tê tinha um cheiro que escapava da boca que era delicioso. Cheiro de pasta de dente de hortelã. Mas então me desvencilhei rápido e voltei para as sobrancelhas. Ele tentou me puxar outras vezes, mas eu abaixei sua mão. Na terceira tentativa ele desistiu e ficou parado na cama. Quando me despedi de Lindalva estava vermelha e o sorriso dela parecia decifrar tudo que tinha acontecido.
Não fique com ciúmes Tom. Você não é o único homem na terra que eu beijei e com certeza não vai ser o único. Experiências estão por aí pelo mundo soltas pelo ar só esperando a oportunidade de serem pegas. E além do mais, naquela época eu era solteira. Eu estava fazendo o certo, mas começando a fazer o errado sem saber. E foi a partir desse momento que a coisa toda desandou.
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Invisible Strings
RomanceTaylor Swift é uma musicista de primeira. E agora, inspirado em suas musicas, um triângulo amoroso na cidade de Miríades. Alana se apaixona pelo novo aluno da escola enquanto tenta superar uma antiga paixão. Ao mesmo tempo, ela e seu melhor amigo...
