— Você gosta dela? — perguntou Caio.

— Sim, muito.

— Então por que a abandonou?

Caio percebeu que aquela pergunta foi um golpe que o acertou em cheio. Eduardo respirou fundo e respondeu.

— Exatamente pelo motivo que você está pensando. Porque eu sou um desgraçado filho da puta.

Aquela resposta pegou Caio de surpresa. Mas Eduardo parecia estar sendo sincero.

— Eu não sei o que você pensa de mim, Caio — continuou —, mas imagino que não deve ser nada legal, e você tem toda razão. Não estou aqui para tentar justificar o que eu fiz e nem te convencer de que não errei. Porque eu sei que errei, eu sempre soube. E nada do que eu te disser vai mudar isso. Mas saiba que eu pensei em vocês todos os dias durante esses anos, consciente de que abandonei meus próprios filhos, sentindo o peso dessa culpa me esmagar. E eu sabia que eu merecia sentir isso.

Caio sentiu uma lágrima ameaçar escorrer pelo seu próprio rosto, mas não queria chorar, então a enxugou antes de cair.

— Ela deve ter te contado o que aconteceu, não é? — continuou Eduardo. — Você deve saber por que eu foi embora.

— Sim, ela me falou. E eu li a sua carta.

Ao ouvir isso, Eduardo tentou se conter para não chorar.

— Então você sabe de tudo.

— Sim.

Nesse momento alguém entrou pela porta e Caio viu que era o mesmo homem da foto. Ulisses cumprimentou a todos educadamente e depois voltou sua atenção para Caio.

— Você deve ser o Caio, certo?

— Sim, sou eu.

— Nossa, olhando para você parece até que eu estou vendo o Dudu quando o conheci. Vocês são realmente muito parecidos.

Caio se limitou apenas a dar um sorriso discreto. Ulisses olhou para Eduardo um instante e depois para Caio e Rafael.

— Eu vou preparar alguma coisa pra vocês comerem, fiquem à vontade.

Rafael aproveitou a oportunidade para também sair dali. Ele imaginou que era melhor não ficar no meio da conversa deles.

— Pode me dar um pouco de água? — disse para Ulisses.

— Claro, vem comigo.

E os dois foram em direção a cozinha, deixando Caio e Eduardo a sós.

— Mas afinal, o que você queria falar comigo? — perguntou Caio. — Estou ouvindo.

Eduardo ficou em silêncio por um instante, como se organizasse na cabeça o que iria dizer. Em seguida falou:

— Primeiro eu queria dizer que eu estou muito feliz por você estar aqui. Quando eu resolvi procurar vocês, eu não sabia se iriam querer falar comigo. Então eu te liguei e já esperava aquela reação. Mas quando você me mandou a mensagem dizendo que estava disposto a me ouvir, eu fiquei muito feliz. — Então sorriu. Em seguida o sorriso se desfez. — Eu também liguei pra Amanda, mas a reação dela foi... Digamos que ela foi um pouco mais agressiva que você.

— Pra Amanda é ainda mais difícil. Ela não sabe toda a história como eu sei. Ela nem sabe por que você foi embora.

— Não? Eu pensei que a Laura tinha falado para vocês dois.

— A mãe nunca falou os motivos, como você pediu, e a gente também nunca se importou muito em saber. Eu sempre pensei que saber o porquê não mudaria o fato de que você foi embora e nunca se importou com a gente. Mas um dia eu tive curiosidade e pedi pra ela me falar. Ela disse tudo que tinha acontecido, me mostrou a carta que você deixou. E isso me fez ver que eu estava certo, saber o porquê não diminuiu a dor que eu senti todos esses anos, nem a falta que eu senti de ter um pai.

No teu abraçoWhere stories live. Discover now