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Berna preparou o almoço, colocando as panelas sobre a mesa. Aproximou da porta e chamou-as.
- Tá pronto! Vem comer enquanto tá quente - gritou.
Mary e Chloe estavam sentadas na cerca observando os cavalos pastarem ao lado das vacas e dos bois.
- Eu sempre quis isto aqui. Um lar, uma tranquilidade... Mas nunca tive - lamentou Chloe.
- Aqui nunca foi tranquilo, Franja. Sempre fomos alvos de alguma coisa. William era uma pessoa temperamental, cabeça dura. Quando ele foi para a guerra, achei que iria acabar as brigas, voltaria a ter tranquilidade e quando retornasse tudo seria diferente. Isso nunca aconteceu.
Chloe esperou Mary continuar, mas ela parou de falar.
- E o que vai fazer quando isso acabar. Precisamos de um lugar mais calmo para viver.
- Eu vou levá-la a seus responsáveis. Não posso cuidar de você para sempre. Não vou abandonar este lugar, Berna precisa de mim.
- Mas dona Mary, eu gosto de você. Eu nunca tive uma mãe tão carinhosa que se preocupa tanto comigo.
- Franja, não torna isso mais difícil para mim. Deve haver alguém melhor que eu para cuidar de você.
Chloe não retrucou.

A garota foi até o pomar colher algumas frutas a pedido de Berna. O sol estava forte naquela tarde.
Ela ouviu um barulho estranho vindo da macieira. Cautelosa, foi verificar. Em um ataque súbito, ela grudou habilmente no pescoço do estranho e o derrubou, apertando com força. Era um garoto, pouco mais velho que ela. Os gemidos foram diminuindo conforme o ar ia se esvaindo. Chloe afrouxou um pouco.
- V-você é louca? - tossiu ele, massageando a garganta - Queria me matar?
Chloe manteve a faca apontada para ele. O garoto arregalou os olhos.
- O que faz aqui, ladrãozinho de merda?
- Ah, agora é assim que me trata, Chloe? Quantas frutas roubamos desde que fugimos do orfanato? Isso você não conta!
- Quero que vá embora daqui!
- Não precisa me expulsar. Só vim te avisar, a Lina tá com pneumonia. Ela precisa de você, lembra da última vez? Ela te ajudou lá dentro daquele hospício.
Chloe hesitou.
- Quem mora aqui? Eles te tratam bem? - perguntou o garoto - Vocês têm armas? Está segura aqui?
- Marcius, vá embora. Não quero vê-lo perambulando por aqui, não serei piedosa da próxima vez!
Marcius sacudiu a poeira, ajeitou a mochila e mordeu a maçã roubada. Começou a caminhar e girou nos calcanhares, fitando-a.
- Eles estão vindo, Chloe, onde você enfiou o Titan?
Chloe espantou-se.
- Tá trabalhando pra eles? Você é o corvo deles agora?
- Melhor se cuidar, Chloe, eles vão te devorar viva se não souber onde está aquela caixa.
- Seu idiota! Você é o corvo deles! Eu vou te matar!
Marcius correu. Antes dela atirar a faca na direção dele, ele disse:
- Salve a Lina, ela precisa de você!
Chloe parou a mão no ar, evitando o ataque. Ela permaneceu parada observando o garoto fugir. Algo estava errado, uma catástrofe estava prestes a acontecer.
Chloe deu um grito de fúria contido.

 A Menina De FranjaWhere stories live. Discover now