3- ADDIO, NONNO! (Adeus, vovô!)

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- Até parece que você está em condições de me fazer ameaças. - ele riu.-  Eu estou aqui com os seus netos na minha mira. Venha para cá, rápido e sozinho se não eu mato os dois!

Martinelli... Então, aquele era o Vincenzo Martinelli, eu não o conhecia, porque vovô o odiava, ele fazia parte do Conselho e foi um dos primeiros a se levantar contra meu vô, além de ameaçar criancinhas, ainda era um racista de merda e esse com certeza era uma das razões pelas quais meu avô o desprezava.

Olhei para o lado e Matteo, permanecia de cabeça erguida e eu fiz o mesmo. Vovô sempre dizia para nunca baixar a cabeça, sempre olhar nos olhos do seu inimigo, mesmo que ele tenha o dobro do seu tamanho. Sabia que Matteo estava com tanto medo, quanto eu, porém nem um de nós ia demonstrar isso. Esse prazer o velho Martinelli não ia ter! Me aproximei mais de Matteo, enquanto isso os homens de terno percorriam toda a mansão, na sala só ficamos eu, Matteo, o  velho Martinelli e um dos seus capangas. Martinelli fez um sinal para que o capanga fizesse com que eu Matteo nos sentarmos no sofá e ele sentou na poltrona, ficando frente a frente conosco.

- E vocês, bambinos? Tem nome?

- O que você acha? - Respondi, ríspida. E Matteo me deu um cutucão como forma de repreensão.

- Olha a língua, ragazza! Eu adoraria cortá-la fora. Então, não me de mais motivos para fazer isso.

- Matteo e Lucrézia - Matteo disse, querendo evitar uma briga.

- Vejo que você é mais educado que a sua priminha linguaruda.

- Mal educado é o senhor, que invadiu minha casa!

- Como disse bambina? - Martinelli levantou- se rapidamente e estava tão perto de mim que podia sentir sua respiração.

- Que senhor não é bem vindo nessa casa. Além disso, é um traidor! E também desprezível, se acha melhor do que nós porque é branco dos olhos azuis. Eu posso não saber que muita coisa nessa vida, mas de uma eu tenho certeza: a cor da nossa pele não define o caráter ou a competência de nenhum de nós! - Seja lá o que o Martinelli pretendesse fazer comigo, pelo menos ele ia ouvir o que merecia. Enquanto eu falava sem parar nem pra respirar, sentia a mão de Matteo em meu braço e seu olhar sobre mim, era um olhar de cala a boca sua louca.

Quando acabei de falar, senti meu rosto queimar e em seguida um ardor, acompanhado por dor. Aquele velho desgraçado tinha me dado um tapa???? Coloquei a mão sobre o meu rosto na tentativa de amenizar a dor. Logo, vi a sombra da mão do velho Martinelli que se preparava para me deferir outro tapa, esperava que pelo menos ele desse o tapa no outro lado do rosto, assim se ficasse vermelho ia ficar simétrico, ele acertou do mesmo lado. Oh, velho idiota! O segundo tapa, não doeu como o primeiro, acho que é a adrenalina fazendo efeito.

Eu não ia ficar ali sentada apanhando de um velho lunático. Fiz menção de levantar e Matteo ao percebeu minha intenção, fez o mesmo, levantamos rápido e empurramos o Martinelli. Nós podíamos ser pequenos mas éramos dois e estamos pegando ele de surpresa.

É, por mais louco e inconsequente que meu plano fosse, funcionou. O velho caiu no chão e o segurança dele levantou-se depressa para ajudá-lo. Eu e meu primo corremos em direção a saída, em disparada, o mais rápido que podíamos, sem nos importar em levar uma bala nos coros. O Martinelli não nos pouparia. Mesmo assim, corremos e só paramos ao esbarrar na única pessoa que me faria sentir segura naquele momento: Meu avô, ele estava bem no meio do jardim com uma arma em cada mão e fogo no olhar, típico dos Caccini.

- Meus bambinos!

Vovô nos abraçou ainda segurando as armas. Pela primeira vez em horas de tortura eu me senti acolhida e segura. Só não sabia que aquele seria o último abraço que eu e Matteo daríamos no nosso Nonno. Meus segundos de paz logo acabariam, pela visão periférica pude ver os capangas do Martinelli nos cercando, depois destravar as armas e aponta-las para nós. Vovô deu um beijo na minha testa e na do Matteo e levantou- se com o peito estufado.

- Martinelli, largue de ser covarde e venha enfrentar alguém do seu tamanho. - Meu avô dizia essas palavras com tom enfurecido e olhando para porta pela qual Martinelli vinha saindo.

- Seu figlio di puttana! Matem todos e depois queimem esse chiqueiro que esses aí chamam de casa. - Ordenava aos seus capangas. E continuou a falar.

- E como eu pude esquecer? Antes de matá-los cortem a língua da ragazza e deem para os cachorros. - Berrava, Vincenzo.

Quando ele falou aquilo, meus olhos arregalaram e involuntariamente coloquei a mão sobre a boca, como se aquilo ajudasse. Minhas pernas começaram a querer falhar, a adrenalina tinha me deixado agora só me restava o medo. Meu coração começou a palpitar mais forte e minha respiração se tornou mais ofegante ainda, eu ia treco, um treco ali mesmo.

Se naquele maldito dia eu já tinha escapado da morte várias vezes, agora não escaparia mais. Cristo! Minha hora estava chegando. Eu estava catatônica quando percebi que meu avô tinha se posto na minha frente e na de Matteo, esse que estava branco de tão assustado.

- Vaffanculo seu cretino! Você não vai encostar um dedo neles. Se encostar, eu levarei para o túmulo o que eu sei e você nunca vai conseguir tomar o controle do Conselho dos 5, seu verme asqueroso! Deixe- os ir, e direi todos os meus segredos. Mas só farei isso se prometer que não os matará, entendeu seu figlio di puttana???! - disse Francesco, também conhecido como vovô.

Ali eu percebi que seriam os meus últimos momentos com Nonno, ele estava trocando a vida dele pela minha e de Matteo. Meu coração já não batia mais rápido, agora eu estava tão triste que até era capaz de errar as batidas, parecia que quem ia levar um tiro era eu. Perder meu avô, eu não conseguiria imaginar dor maior, aguentaria qualquer coisa, para não perde-lo.

Seria capaz até de oferecer meu coração numa bandeja para o velho Martinelli, se ele poupasse meu avô. Me ajoelharia aos seus pés e lhe pediria desculpas pelas minhas palavras ofensivas. Sim! Eu seria capaz de renegar o orgulho que tanto preso e implorar pela vida do meu avô. Pela minha família, faço qualquer coisa! Por fora serena, mas por dentro meu corpo inteiro parecia estar sendo estraçalhado por um urso gigante.

Olhei para Matteo e o vi pela primeira vez, completamente sem máscaras. Matteo chorava como quando lhe deram a notícia da morte de tio Fabrizzio. Matteo era esperto, ele já havia percebido o que aconteceria em seguida. Vendo sua tristeza e não conseguindo mais mascarar a minha, deixei que as lágrimas tomassem conta de mim.

- Dante, venha cá, e o resto de vocês não tirem os olhos dos Caccini! - ordenou, era visível o quão ele adorava fazer isso. - continuou, agora falando com meu avô:

- Fiquei aí, e se despeça dos seus netos enquanto eu penso na sua proposta.

Maledetto seja, velho Martinelli! - disse mentalmente.







Continua...




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Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Onde histórias criam vida. Descubra agora