Seis - Happy Hour

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Era uma possibilidade bastante provável de se concretizar.

Melissa pigarreou, escolhendo as palavras que diria a seguir com muito cuidado. Porém, nem foi necessário puxar o fôlego para forçar a voz a sair, uma vez que Megan fez questão de se manifestar primeiro:

-Nem pense nisso, coisinha! – bradou a mulher, em voz aguda de perua indignada. Ela levantou a mão em um gesto que fez Melissa trancar os lábios instintivamente. – Pode manter essa boquinha de Angelina Jolie bem fechada.

Melissa quis rir daquele comentário, mas achou que não era seguro. Ao invés disso, optou por responder, mantendo um bom humor admirável em seu tom de voz:

-Mas você nem sabe o que eu ia dizer...

-Ah, eu sei sim, meu amor! A mesma coisa de sempre... "Como se sente?" "Por que tanto ódio?" "Por que tanto ciúme?" "Você foi maltratada pelos pais quando criança?". O mesmo blá-blá-blá, a mesma ladainha. Estou de saco cheio disso tudo. – ela rolou os olhos em desprezo.

-A gente não fala sobre isso então... – Melissa sorriu simpática.

-Por que sempre mandam umas menininhas todas simpáticas, com esse sorrisinho de Barbie para me atender? Eles ainda não entenderam que eu não suporto esse tipo? – ela reclamou, batendo as unhas extremamente compridas no braço de metal da cadeira. Estava inquieta. - Faz eu me lembrar daquela vagabunda, e acredite amor, não é bom quando isso acontece.

-Talvez eles esperem que você se identifique...

-Ah, pelo amor de Deus! – Megan rolou os olhos outra vez, encarando desinteressada a decoração pobre do consultório – Como é que eu vou simpatizar com mulheres bonitas? A minha vida toda eu fui obrigada a competir com elas. O ódio é gratuito. E você tem olhos lindos, aliás.

-Devo agradecer? – Melissa perguntou hesitante, abrindo um sorriso de mesmo tom.

-É o que manda a educação, não é? E uma menininha tão jovem como você, já formada em medicina, com esse brilho inocente nesses invejáveis olhos acinzentados... Tem educação, não tem?

-Sim, eu tenho. – Melissa confirmou com a cabeça - Obrigada.

-Será que eu posso arrancá-los e colocar no lugar dos meus? Verde anda tão démodé ultimamente... – Megan abanou a mão, como se estivesse comentando o fato de que calças boca de sino tinham caído de moda.

-Acho melhor não.

Megan abriu um sorriso esperto, e cerrou os olhos em malícia na direção de Melissa, que não entendeu sua reação, até que ela abriu a boca para exteriorizar os motivos:

-Não precisa ter medo de mim.

-Não estou com medo.

Megan balançou a cabeça em negação.

-Parece que sim, não minta para mim.

-Sua percepção pode ser falha às vezes.

-Duvido muito. – Megan estalou os lábios – Qual o seu nome, doutora Parker?

-Melissa.

A mulher fez um biquinho, analisando clinicamente Melissa.

-Um nome doce como você... – comentou Megan, de repente sentando na ponta da cadeira e apoiando as mãos na mesa.

Melissa permaneceu estática, uma rocha em sua cadeira de psiquiatra.

-Não se preocupe, não sou tão ruim quanto todos falam por aí... – disse ela, em uma voz baixa e doce, quase de uma mãe dizendo ao filho o quanto ele é importante em sua vida.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now