CAPÍTULO 10. Pedaços dos corações (Finn)

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Recebi uma mensagem de Jørn no dia do Natal falando que ele gostaria muito de me ver, mas era impossível fugir de casa, sua mãe tinha planejado cada minuto do dia com missas e muitas orações.

Eu sabia que não conseguiríamos nos encontrar no Natal, mas mesmo assim fiquei meio triste, pois queria dar o presente que eu fiz para ele. Respondi sua mensagem da forma mais animada possível com vários emojis que nem sempre faziam sentido para que ele não se sentisse mal por não poder me ver por causa da religião da sua mãe.

Naquele dia almocei com o meu pai e sua família. Fazia muito tempo que eu não conversava com eles, tanto que seus irmãos nem lembravam mais do meu nome, sempre perguntando em norueguês para mim, mesmo depois que meu pai explicou que eu não entendia a língua. Eu fui educado o suficiente, mas não queria ficar perto deles.

Na hora de comer a ceia todos eles estavam sentados na frente da televisão, e acho que reclamaram do que estavam vendo, mas não sei falar com certeza porque nem por um minuto eles falaram em inglês.

Como não tinha nada para fazer ou com quem conversar, eu tentei ajudar a mãe do meu pai a terminar a sobremesa. Ela apontava para as coisas para eu pegar e misturar na panela. E pelo menos eu tinha achado um pouco de paz quando estava na cozinha com ela.

Depois de uma gritaria particularmente alta, que me fez dar um pulinho de susto, o pai do meu pai apareceu, e sua esposa falou algo brava a ele.

– Desculpa ter te assustado, Finn – ele falou, em um inglês um pouco enferrujado, depois de ser repreendido pela sua esposa – eu acabei de perder 100 Kroners no jogo que eu apostei. – Ele colocou o dedo na boca como se pedisse para eu não contar para sua mulher e deu uma risadinha, sentando-se na bancada perto de onde estávamos.

A mãe do meu pai falou mais algumas palavras com um sorriso bondoso no rosto e apontou para seu marido e depois para mim. Eu estava bem perdido com tudo aquilo e não conseguia ao menos fingir que não estava.

– Minha véia falou que está muito contente que você esteja aqui com a gente, eu também estou, e que esteja ajudando na cozinha, ela gostou da companhia.

Eu dei um sorriso para ele e então me virei para ela para dar outro sorriso, pois ainda não sabia o que mais eu poderia fazer. Assim que a vi, ela já estava com os braços abertos me esperando. Tive de agachar um pouco, ou bastante, para abraçar aquela vovozinha, e foi então que eu percebi como eu sentia falta de abraços de vó.

Assim que ela me soltou, voltou a falar. Eu olhava para ela enquanto a esperava terminar para seu marido traduzir. O pai do meu pai, então, bateu na banqueta ao seu lado me chamando para sentar ali.

– Filho, conta para gente mais sobre você, sua vó quer saber. Até quando você vai ficar aqui? Você já tá na idade de ir para faculdade né? O que você vai fazer?

O inquérito continuou por um tempo, eles realmente estavam interessados em saber sobre a minha vida. Quando eu disse que desenhava, a vó Siv contou que também fazia umas artes na sua infância, mas não pode continuar e o vô Terjei explicou que ela deveria voltar a pintar.

Depois que eu atualizei sobre a minha vida, o bolo já estava pronto e nós comemos só nós três na cozinha. Eu perguntei se a vó Siv não queria que eu colocasse na sala para os outros parentes, e ela disse algo brava, eu olhei para o vô Terjei tentando entender o que tinha acontecido, ele só riu e balançou a cabeça.

A noite eles me deram um abração e desejaram boa viagem de volta. Eu me senti um pouco culpado de não ter ficado mais tempo com eles, mas prometi que ligaria de vez enquanto.

No dia 26 eu acordei cedo para fazer as malas para viajar no próximo dia. Mandei uma mensagem para Jørn perguntando como tinha sido o seu Natal e que o presente dele estava comigo.

De mãos dadas em Tøyen (história gay) AMOSTRAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora